4 . O general.

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Reza a lenda mais antiga de que no ápice de sua crueldade, Lúcifer seria restaurado ao seu estado angelical por amor. Que em algum momento de sua perturbada existência, ele faria um sacrifício e que por meio deste, seria salvo e todo o inferno expurgado. A paz humana e celestial reinaria, e os anjos encheriam o céu com seus cantos e louvores. Mas, séculos se passaram, Lúcifer de fato se apaixonou e desta paixão, veio um filho. Pessoas morreram para que outras pudessem nascer, e o diabo ainda estava entre elas, poderoso demais para que seus antigos irmãos o exterminassem, temido por pessoas que sequer conheciam a história toda, mas se deixavam levar por crenças limitantes e contos incoerentes.

- E disse Jesus: podre será o coração daquele que ajudar o demônio! - gritava o Padre que em sua pose de falso bem feitor, tentava convencer os povos pobres a se juntarem a ele em suas orações.ㅡ Por isso, meu filhos...rezem! Gritem por Deus, o único capaz de nos perdoar. E lembrem-se, para continuarmos com a Igreja, precisamos de suas doações! Não deixem de dar suas moedas para a casa de Deus.

Antes que o velho pudesse continuar, uma carroceria toda em pedras preciosas atravessou seu caminho, junto dela, um homem de longos fios escuros, montado em um alazão preto.

ㅡ Bom dia, Padre.ㅡ e o velho não sabia o porquê, mas sentiu um calafrio passear pelo seu corpo, e o estômago embrulhar. ㅡ Sabe nos dizer se estamos perto do Castelo?

ㅡ Uhum...ㅡ desconfiado, o homem de idade se ajeitou sobre os próprios pés e apontou para o sul. ㅡ Siga este caminho e logo encontrará o Palácio, mas se me permite a pergunta, o que desejam lá?

ㅡ Não é matar o Rei, eu te garanto.ㅡ dessa vez, o homem montado no cavalo que respondeu. E ao notar a cara do Padre perdendo a cor, sorriu; fazendo por fim um sinal para que a carruagem seguisse seu caminho.

E enquanto observava aquelas figuras peculiares sumirem do seu campo de visão, o homem tornou a pregar, mas dessa vez, na esperança de que seus gritos aos céus fossem o suficiente para ser levado ao paraíso.

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A chegada ao castelo foi rápida, na entrada, apenas dois soldados revistaram a carruagem, deixando que ela passasse em seguida. Suas presenças não foram informadas pelo arauto visto que, o Rei não estava no pavilhão real no momento.

ㅡ Posso acomodar vocês nos quartos, alteza. Assim que o Rei se apresentar junto a princesa, informarei sobre a presença de vocês. ㅡ ao entrarem no palácio, JungKook foi o primeiro a tomar a palavra, explicando a um emissário que ele era um general e estava acompanhando o príncipe, sendo ele, Leviatã, que veio a assumir o codinome Jimin. Ambos se encontravam no Reino para que o jovem príncipe de cabelos loiros, participasse do cortejo.

Com a chegada da sua maioridade, o jovem Jung foi intimado pelos conselheiros a unir-se em casamento com outra nobre, para assim, garantir que os domínios dele se tornassem mais extensos, trazendo poder para o império que sua família vinha construindo a tanto tempo. Por este motivo, princesas de todos os lados vieram para o que seria O Cortejo, uma festa de celebração onde cada mulher deveria a sua maneira, impressionar o Rei, e no fim de todos aqueles sete dias de festa, ele deveria escolher uma para juntar-se em matrimônio.

O emissário ao notar as vontades do príncipe torceu um pouco o nariz, afinal, não sabia se as regras proibiam que um homem fizesse parte das festas, mas, pela carruagem que o carregava, imaginou que o Reino deles era tão abastado quanto o próprio, por isso, não negou as vontades do príncipe, concordando brevemente e se curvando em uma mesura polida.
Para que só então, se retirasse. Deixando Satã e seu irmão desbravando os corredores.

ㅡ Sabe, irmão...gostei de ser o príncipe dessa vez.ㅡ Comentou Leviatã.ㅡ E você com essa cara de lobo mal, combina bem com um general carrancudo!

ㅡ A ideia é que eu fique nas sombras, enquanto você encanta o Rei com sua língua de cobra! ㅡ sorriu, sustentando uma face vencedora.ㅡ Brincadeiras a parte, assim fica mais fácil de descobrir os planos de Deus pra ele. E quanto mais rápido fizermos isso, mais rápido o destruo.

ㅡ Sabe que não temos força, Lúcifer.ㅡ parou abruptamente de caminhar, encarando o irmão com preocupação.ㅡ Esqueça Deus por enquanto, foque em ajudar esse rei, livrar esse lugar daquele padre podre e depois, pensamos em como juntos, vamos destruir Deus.

ㅡ Gabriel, não quero que se meta nisso. Porque se eu morrer, Taehyung terá você.

ㅡ Se você morrer, eu não terei ninguém.

A conversa findou tão rápido quanto se deu início, pois perceberam que não estavam mais sozinhos.
Puderam notar que um homem que - ja sabiam ser o governante dali, estava correndo como se estivesse atrasado para algo, mas sem as roupas de rei e com uma princesa um tanto furiosa consigo vindo atrás, na face bonita e jovial, brincava um sorriso animado que se desfez no momento em que o seu corpo foi de encontro a outro, e ele sequer teve tempo de desviar.

ㅡ Me desculpe.

ㅡ Jung Hoseok eu vou te...! ㅡ gritava Dawon, sua irmã caçula, que só parou de persegui-lo ao notar a cena vergonhosa que se formou ali.ㅡ Oh, céus! Mano', você está bem?

ㅡ Sim, eu...me perdoe, não notei que não estávamos sozinhos.ㅡ percebeu a mão esticada em sua direção, e por educação, a segurou e com a ajuda do homem a sua frente, se levantou. Um tanto sem graça - diga-se de passagem.

ㅡ Não existe necessidade para desculpas, majestade. Era um momento descontraído entre dois familiares, até Reis precisam se divertir! ㅡ desta vez, quem falava era Jimin, sustentando nos olhos azuis como o oceano, um brilho gentil e reconfortante.ㅡ E se nos permite, eu sou Park Jimin, príncipe das águas do Norte. E esta parede que te fez ir ao chão, se chama Jeon JungKook, general do meu exército.

ㅡ Bonitos, muito bonitos. ㅡ completou Dawon.ㅡ Mas o que vieram fazer aqui? É sobre algum tratado? Porque a única coisa que sei das terras além Pacífico, é que são ricos demais!

JungKook por sua vez permanecia em silêncio, apenas observando cada movimentação, tentando captar naquele encontro inesperado, a faísca divina que tanto lhe alertaram. Mas a única coisa que viu foi um belo sorriso.
Leviatã que passou a prestar atenção a princesa, sequer notou a intensa troca de olhares entre os dois reis, que pareciam dispostos a conhecerem um do outro sem que precisassem trocar uma palavra.

ㅡ Estou aqui pelo cortejo, desejo que o Rei veja em mim e nas minhas posses, um motivo para se unir ao povo que vive além do mar. ㅡ e somente quando a palavra "cortejo" saiu dos lábios de Jimin, que Hoseok tornou a prestar atenção nele.

ㅡ Então boa sorte, príncipe.ㅡ começou o Jung. ㅡ Será uma honra ter vocês dois aqui! Por favor, sintam-se em casa. E pelos deuses, não me chamem de Majestade, gosto de ser só o Hoseok.

ㅡ Sim, Majestade.ㅡ e como uma sentença para o fim da conversa, Jungkook deixou que ouvissem a sua voz, escondendo nos lábios bonitos a vontade imensa de rir. Mas para não dar o gosto ao jovem rei que, tampouco conhecia, curvou-se sem que parasse de encará-lo, de forma polida e educada, voltando então a sua postura. E por fim, seguindo para o pátio real, em busca de alguém para lhes acomodar.

ㅡ Bonito, né? ㅡ Indagou a princesa.

ㅡ Muito, muito bonito.

Sob os olhos do Rei. Where stories live. Discover now