O Assassinato de Samuel Rosário

Capítulo Um

O Guardinha do Cemitério

Nicolas estava absorto em seu quarto, rolando o catálogo de muita baixa qualidade de um site pirata de filmes, enquanto outra mão alisava o smartphone. Havia ansiedade naqueles dedos finos.

Quantos haviam se passado desde a morte de seu tio no interior de Minas? Dois anos e meio, três?

E mesmo assim o maldito ainda não lhe enviara um email. Não até ontem.

AndreVianaASA, era o pouquíssimo indiscreto remetente. No email estava a reportagem do Notícias do Leste e logo abaixo, com palavras do detetive que o rapaz conhecera anos atrás, um desafio: um corpo, uma cova aberta, uma alta quantia de dinheiro desaparecida e sua chance de se mostrar o que diz ser, atenciosamente Eu.

Um outro email do mesmo sujeito continha um número de protocolo no site da Agência de Serviços Auxiliares, onde era possível encontrar os dados do mais novo agente da A.S.A: 556.2026.4038.7.20-0.

No celular era Amanda quem o perturbava dessa vez.

─ Pelo amor de Deus, o que você quer comigo? ─ ele explodiu de raiva, mas não dela. A pergunta foi mais para o medo que sentia do que para a garota.

─ Larga de ser idiota, Nicolas, é a sua oportunidade. Você espera por isso desde que seu tio Arnaldo foi morto ─ ela pausou para respirar. ─ É sua chance, ele finalmente te procurou. Eu assumo que tenho um pouco de medo, mas é sua chance, cara.

─ É, Amanda, mas eu nunca estive na frente de um caso. Não dessa forma como André quer que eu fique.

─ Encarregado?

─ Sim.

─ Você se formou em criminologia, você é o melhor que eu conheço.

E ela só conhecia ele que estava investindo na área.

─ Você só ta tentando me encorajar.

─ Se fosse o contrário eu nem precisaria ligar. Você tem medo de quê?

─ Não sei. Talvez de não ter reação rápida o suficiente ─ aquilo o levou no aniversário de Clarice, anos atrás, quando foi apresentado ao investigador profissional André Viana, que o fez se borrar de medo da profissão. ─ Mas mesmo assim...

─ Você consegue.

Nicolas, por sua vez, sabia que conseguiria. Ele tinha preparo, não tinha muito é coragem de mostrar seus talentos não tão naturais.

─ Você consegue ─ Amanda repetiu do lado de lá. ─ Eu tenho duas passagens para Conselheiro Pena. Você vai e ao menos tenta.

No que ele concordou, Amanda não demorou mais do que o tempo de Nicolas fazer uma breve mochila e fingir estar pronto. No instante seguinte o garoto estava no ônibus junto de Amanda.

─ Uma gazua? ─ ela perguntou quando viu a ferramenta na bolsa do rapaz saindo para fora.

─ Imagino que vamos precisar, no caso de verificar o caixão ─ respondeu o aspirante a detetive.

─ Me parece que o guardinha do cemitério foi detido como principal suspeita ─ disse Amanda, deixando de lado a ferramenta dentro da bolsa do rapaz.