Capítulo Quatro

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Uma Reunião com os Rosários


Nicolas havia dormido bem pouco na última noite, Amanda menos ainda. Afinal, como que dorme com um fardo sentado na cama ao seu lado ouvindo a mesma gravação, anotando coisas e falando sozinho o tempo inteiro?

─ Ao menos o café da manhã é maravilhoso ─ o rapaz tentou amenizar.

─ É, pois é. Então... ─ ela quase se arrependeu de encorajar o moço a pegar o caso. ─ Tem o nome de todos eles?

─ De quem?

─ Dos Rosários lá no velório. Escutei e sei que você pesquisou a respeito.

─ Ah, sim, eu já fiz isso. Não ia conseguir dormir se não o fizesse.

─ Certo, qual é a minha função nisso aqui, então?

─ No início foi para me encorajar, depois disso foi pra me fazer ficar com medo, agora eu não sei. Mas tenho uma ideia do que pode fazer mais pra frente.

─ E o que eu posso fazer mais pra frente? ─ perguntou Amanda com medo do que iria ouvir.

─ Sabe usar uma arma, não sabe?

─ Não!

Ela sabia.

─ Sabe sim!

Ele sabia que ela sabia.

─ Tá, eu sei.

Ela sabia que ele sabia que ela sabia.

─ Ótimo! Você vai ter que apontar uma arma para uma pessoa, eu suponho.

─ Espera, o quê? Você já sabe quem é a pessoa?

─ Tá doida? Claro que não ─ Nicolas sorriu. ─ Eu tô fazendo suposições, apenas. Sabe, pegando o fato e tentando descobrir quem é o assassino ou a assassina.

─ Tem alguma ideia?

─ É, tenho alguma coisa.

─ Conta.

─ Olha, digamos que eu tenha uma visão um pouco diferente do convencional. Talvez por minha paixão em psicologia, talvez por inspiração de histórias que já li... Mas pra mim não faz sentido essa caça ao rato, sabe? É muito mais eficaz entender o crime em si. Ele diz muito mais sobre quem o cometeu. É como Freud fazia com seus pacientes, sabe, estudando todo tipo de arte que eles fizessem. O crime para o criminoso é como uma pintura, uma obra de arte, e em algum lugar tem de ter sua assinatura, pode ter certeza.

Amanda não entendeu nada.

─ Tá, mas e aí, quem é?

─ Quem é o quê?

─ Quem fez o quê?

─ Viu? Você nem sabe qual é o crime, pelo amor de Deus. Veja só. Nós deveríamos investigar o roubo no túmulo de Samuel, correto?

─ Correto.

─ O guardinha afirma que foi ele quem cometeu o crime, correto?

─ Correto, uai.

─ O dinheiro roubado foi jogado no corpo de Samuel, que morreu em um acidente de carro, correto?

─ Correto.

─ Errado, Amanda, errado. Aquilo foi um assassinato. Foi uma coisa planejada, você não vê? É simples, é muito claro. A pessoa quer matar Samuel, porém não tem coragem o suficiente, então, confesso que essa parte é sem criatividade alguma e me desanima, mas, de todo modo, a pessoa droga Samuel antes dele pegar estrada para Governador Valadares e voalá. O homem morre sem que o assassino, ou assassina, toque nele. A questão é: quem se beneficiaria de sua morte para matá-lo? E outra, hein: quem o matou sabia de sua viagem para Valadares e planejou a coisa toda.

─ Mas o roubo entra onde nisso?

─ Essa parte ainda está com neblina na minha cabeça, mas talvez... não! Não vou teorizar coisas sem sentido, não vou por palavras na narrativa do artista que cometeu esse crime.

─ Talvez você seja melhor do que eu pensei que era, Nicolas.

A porta anunciou alguém do outro lado com algumas batidas e em seguida uma pergunta:

─ Detetive Nicolas Barbosa? ─ o rapaz estava muito eufórico com o que ouviu, orgulhoso. ─ Detetive? Eu acho que é a porta errada.

─ Não ─ disse outra voz do outro lado, a de uma mulher jovem. ─ O endereço é esse mesmo. Rua Nilo de Morais Pinheiro, 112, Hotel Bela Adormecida, quarto 17. Detetive Nicolas? ─ tornou a bater na porta.

Amanda o olhou como "Não vai atender?", e então as pernas do garoto se moveram. E o rosto quase recebeu um soco na cara com uma mão que vinha socar a porta outra vez. Era uma mão de moça, e a jovem corou com o incidente.

─ Ah, me desculpa, eu...

─ Tudo bem. Entre. É apertado, mas vai servir... Onde estão os outros?

─ São poucos, mas acredito que cabe todo mundo aqui ─ disse o homem ao lado da moça, depois respondeu à duvida do detetive. ─ Eu sei lá. Não moro com eles, devem estar chegando por aí. Não são tão pontuais assim.

E em seis minutos estavam todos alí, dentro do quarto de hotel. Só faltava...

Alguém bateu à porta do outro lado.

─ Detetive Nicolas? ─ ele não iria cansar de ouvir aquilo nunca. ─ É o Marcos, o rapaz que o senhor enviou uma mensagem dizend... Ah, bom ─ travou quando a porta se abriu no meio da explicação. ─ Nicolas?

─ Em pessoa! Por favor, entre. É apertado, mas deve servir.

─ Imagino que sim ─ e então o moço se espremeu entre os demais, caçando um lugar na beirada da cama que não estivesse ocupada.

─ Se não se importam ─ começou Amanda, segurando o celular ─, vou gravar toda a conversa.

Todosassentiram positivamente, suando e incômodos com tudo aquilo.

O Assassinato de Samuel RosárioOnde histórias criam vida. Descubra agora