Capítulo Dez

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George, O Tio do Falecido


─ Falo agora com George, o tio de Samuel Rosário. O senhor por acaso sabia da viagem de Samuel para Governador Valadares?

Com uma grande cabeça quadrada e calva, muito calva mesmo, ele negou. O pescoço quase caindo chão abaixo.

─ Qual foi sua reação quan...

─ Você faz umas perguntas idiotas, rapaz, como se o assassino fosse simplesmente se levantar e dizer "eu fiquei feliz, comemorei que deu tudo certo".

─ Então o senhor concorda que foi assassinato?

─ Eu na verdade não me importo muito. Fico triste pela minha irmã, mas de qualquer modo... Eu não tinha muito contato com ele. O garoto estava sempre viajando de um lugar para o outro naquele carro. Não dava atenção à família, não ligava para a esposa. A mãe ele nunca via, quando via era para chorar.

─ E o que estava fazendo no velório?

Foi Antônia quem respondeu.

─ Eu o pedi. Inclusive, muitíssimo obrigado, irmão, pela companhia. Me fez bem.

Ele passou um braço por ela como resposta e ela o abraçou de volta. Dois corpos suados.

─ Você não é de conversa fiada, pelo que vejo. É direto, e fala muito quando sente ter razão. Isso é bom ─ assumiu Nicolas, bem próximo ao celular. ─ E como se sente sabendo que ele ameaçava seu filho?

─ Não me surpreende. O cara era um louco. Como eu disse, da para notar.

─ Carlos ─ chamou o detetive ─, você alguma vez o respondeu?

Chorando, tremendo de medo e gaguejando para responder, o rapaz disse.

─ Não, e-eu... eu só mostrei para Manoel e perguntei o que poderia ser.

─ Então, Manoel, você sabia de ambos os lados. Intrigante, intrigante...

Carlos o cortou no meio do raciocínio:

─ E, claro, eu contei para meu pai, já que ele estava morto.

─ Você disse que não sabia, George ─ arriscou Nicolas com uma investida direta.

─ Eu não sabia das ameaças ─ respondeu o tio do falecido.

─ Mas o garoto...

─ Se você deixasse a gente falar e parasse de fazer perguntas idotas, seria ótimo.

Pacífico e como se nada o afetasse, respondeu:

─ Então me diga o que aconteceu.

Em uma narrativa muito rápida, o primo Carlos explicou que começou a receber ameaças do morto e que nunca o respondeu, mas que tinha muito medo pelo fato de o cara ser bem estranho, quase um louco. Disse que o primo uma vez o viu em um aniversário da família e o olhou com olhos de ódio. "Eu senti que ele iria me matar naquela noite", mas graças a Deus nada aconteceu.

Explicou também que tudo isso foi cerca de um ano e três meses, mas que começou a perder o medo e que finalmente iria agir. Então mostrou para o pai um rascunho de email respondendo que se ele não parasse com aquilo iria à polícia e faria um escândalo com o nome da família e iria colocá-lo atrás das grades. "É fácil eu acabar com o nome, sou praticamente o publicitário". Disse que o homem deveria procurar um bom psicólogo. George afirmou, disse que também iria enviar um email e em seguida iria contar tudo para a irmã, dona Antônia, mas aí...

─ Eu até falei com meu filho Carlos que talvez fosse melhor nós conversarmos pessoalmente com ele sobre aquela palhaçada. Porém nos foi dado a notícia de que o corpo foi encontrado na estrada ─ terminou George, em uma narrativa misturada entre pai e filho.

─ Excelente, excelente! ─ disse Nicolas. Bom, vamos acabar logo com isso porque hoje está um calor insuportável de quase 40 graus. Marcos, está pronto para falar?

─ Mas é claro ─ o homem ficou de postura ereta, postado a dizer tudo o que sabia.

O Assassinato de Samuel RosárioOnde histórias criam vida. Descubra agora