Capítulo Cinco

15 7 5
                                    

A Senhora Antônia


─ Eu falo agora com Antônia, a mãe do falecido Samuel Rosário ─ disse Nicolas tentando ser bem detectado pelo microfone do celular.

Amanda reprovou.

─ Ta ruim o áudio ─ ela disse após ouvir o teste. ─ Faz o seguinte: segura o celular, vai ser melhor.

─ Eu falo agora com Antônia, a mãe do falecido Samuel Rosário ─ repetiu. Ouviu a gravação e estava ótima. ─ Certo, vamos continuar. Antônia Rosário.

─ Antônia do Rosário ─ corrigiu a gorducha mulher de cabelos tingidos a ruivo pouco acima do ombro e bem escovado para dentro.

─ Pois bem ─ continuou Nicolas, balançando seu corte de cabelo tão liso feito uma cuia. ─ Dona Antônia do Rosário. A senhora sabia da viagem de seu filho Samuel para Governador Valadares?

Ela pareceu pensar um pouco a respeito antes de ousar falar.

─ Bom... ─ ela retirou os óculos, enxugando o suor da testa e colocando de volta na cara redonda. ─ Samuel viajava o tempo todo para Valadares. É uma pergunta muito difícil. Como perguntar que horas o senhor sentiu fome ontem. O senhor sabe que sentiu, só não sabe a hora. Eu costumava saber, mas eu sei lá se eu sabia se ele iria no dia que foi. Uai! Isso importa, ajuda a achar o culpado? Se sim eu arrumo um jeito e me lembro.

─ Você sabia que ele tomava antidepressivos?

─ A senhora, por gentileza.

─ A senhora sabia que ele tomava antidepressivos? ─ o jovem detetive retornou sua pergunta, muito calmo e respeitável.

─ Ah, mas é claro. Ele era um garoto muito bom, dócil quando criança... mas era muito ganancioso, sabe? Queria sempre mais e mais e o fato de não conseguir algo o frustrava profundamente e ele se cobrava isso por meses. Com as cobranças, acabava por vir a procrastinação e ele ficava um longo período sem fazer nada, apenas sonhando. Quando se dava conta da realidade, ele tinha perdido muito tempo e sofria com isso. Ah, coitado do meu filho, ele dizia uma coisa que eu acho bem certa: o mal do século não é a depressão, sim a procrastinação. E ele tem razão, a gente deixa de fazer as coisas e empurra isso com a barriga até muito além do máximo, e depois volta tudo em cima da gente com um cargo enorme...

Nicolas não entendeu o porque daquele discurso prolixo, mas continuou.

─ Qual foi sua... Qual foi a reação da senhora quando soube do acidente do seu filho?

─ Ah, acidente?

─ Mamãe! ─ chamou o irmão do morto, se intrometendo. ─ Isso de novo não.

─ De novo sim, Eduardo! Estamos de frente com um detetive da polícia. Olha que sorte tivemos. Eu sei, moço... Nicolas, certo? Isso, Nicolas... Nome bonito, sabia? Bom, eu sei que não foi acidente. Pode parecer loucura, mas não foi. Eu sei que não foi.

Amanda o olhou com olhos que diziam "Olha, você me surpreendeu" quando o moço olhou pra ela com olhos que diziam "Eu não te disse?".

─ E por que a senhora acredita ser assassinato?

─ Porque ele recebia emails frequentes dizendo "Ele está de olho em você", "Ele vai te matar", "Cuidado, ele está te vigiando" e coisas do tipo.

─ E de quem eram esses emails?

─ Não tinha nenhum remetente, apenas destinario, que era meu filho.

Excelente!

─Bom, Eduardo, talvez você possa nos dizer o porque de não ser um assassinato ─ sugeriu Nicolas.

O Assassinato de Samuel RosárioWhere stories live. Discover now