Alvorada

Capítulo I

Eu estava em meu quarto, perdida em meus pensamentos. Eu olhava da janela o jardim da minha casa, foi ali que conheci o Travis.

Ele tinha vindo para festa que meu pai havia preparado para comemorar seu aniversário, eu não estava nem um pouco animada com aquilo, havia brigado de novo com meu pai. Estava tão perdida, fiquei chorando ali por algum tempo até ele se aproximar. Ele sorriu timidamente e sentou ao meu lado. - Aquelas pessoas ali estão se divertindo mas todas tem problemas. A grande diferença é que elas não ficam chorando no jardim.

- Elas usam máscaras.

- E quem não usa? - ele disse sorrindo.

Naquele dia ele conseguiu me animar, me fez eu me sentir melhor, foi então que eu soube que ele era especial.

- Bom dia, Melinda. - disse Cora, a empregada/ mãe/ amiga entrando no quarto. - Está um dia lindo lá fora e eu não vou deixar você ficar nesse quarto como sempre. - ela disse virando a minha cadeira de rodas, deixando-me de costas pra janela.

- Eu não quero.

- Mas vai, você tem que ir lá fora. Sair um pouco desse quarto. - disse ela empurrando a cadeira para fora do quarto.

- Perdi minha liberdade de escolha também? - perguntei irritada, afinal não tinha mais vontade de sair daquele quarto e odiava quando a Cora tentava me animar com seus discursos, ela foi fazendo um deles até me deixar no jardim.

- Olha só o que eu fiz. - disse ela pegando de uma mesa uma bandeja cheia de comidas. A Cora cozinhava muito bem, mas eu não tinha fome, claro que ela me fez comer, não muito, mas comi. - Mels, eu sei que você ainda sente muito a morte do Travis mas, acho que ele não ia gostar de te ver assim... eu sei que já te disse isso mas...

- Ele não merecia.

- Eu sei, foi uma fatalidade. Você tem que reconstruir sua vida.

- Que vida? Acho que ela já acabou.

- Não diga isso Mels! - disse ela um pouco assustada, ao longe vi meu pai se aproximar, ele veio até mim e deu um beijo em minha testa.

- Que bom que você não saiu daquele quarto hoje.

- Não pense que foi escolha minha. Eu tentei correr mas acho que minhas pernas falharam. - eu disse e ele olhou meio sem jeito para Cora.

- Melinda por favor! Eu tenho que te contar uma coisa.

- Vai casar novamente? - eu disse e a Cora tentou segurar o riso.

- Não. - disse ele seriamente. - Acabei de receber uma ligação do filho do Richard, meu amigo de infância, ele disse já está vindo pra cá.

- Como assim já?

- Ele havia me perguntado se eu poderia ficar aqui por um tempo, esqueci de lhe falar.

- Por quê?

- O Nate está enfrentado alguns problemas.

- Será que ele também não pode andar? Ou será que sua noiva morreu em um acidente de carro?

- Cora, você pode nos dar licença?

Cora assentiu e se retirou. Meu pai ficou me encarando algum tempo, com aquela cara de que eu havia aprontando algo. - Eu sinceramente não sei como lidar com você.

- Creio que você nunca soube.

- Não me trate assim, eu sempre me esforcei e me esforço pra te ajudar mas olha pra você...

- Estou paralítica.

- Você sabe que pode reverter isso Melinda! - disse ele quase gritando.

- E por que eu iria querer isso?

- Pra reconstruir sua vida e esquecer o Travis.

- Esquecer? Como eu posso esquecer ele pai? Ele era tudo o que eu tinha e agora eu não tenho nada. - eu disse movendo a cadeira indo embora, depois parei e disse: - Não precisa fingir que se importa.