Capítulo XV

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Às vezes tudo que precisamos é nos entender,  ficar um tempo à sós e apenas pensar em silêncio.  E foi isso que eu fiz naquela noite,  me tranquei no meu quarto e pensei o que estaria acontecendo comigo.  Minha cabeça estava confusa,  eu havia sentido algo, algo estranho pelo Nate, algo que eu não gostei de sentir.  Será que eu estava começando a...

Interrompi o pensamento com medo que se tornasse real,  respirei fundo, e então vi a caixa onde eu guardava as cartas que escrevia para o Travis.  Meu coração desmontou ao vê-las ali, me senti uma traidora, peguei uma carta e a beijei e entre meus lábios sussurrei: - Eu te amo, nada irá mudar isso.

Deixei algumas lágrimas escaparem,sequei - as rapidamente  e decidi afastar o Nate o mais rápido possível de mim. Eu amava o Travis e nem a morte iria mudar isso.  Repitir isso pra mim mesma algumas vezes até cair no sono.

No dia seguinte acordei com o sol invadindo o meu quarto. 

- Está um dia lindo!  Bom dia, Mels. - disse Cora abrindo a janela. - Nem a vi ir pro quarto ontem.  Por que você não me chamou para ajudá- la?

- Não precisava. - eu disse dando uma pausa. - Você pode trazer meu café aqui Cora. - pedi e ela piscou os olhos sem entender.

- Como assim?  Você não vai..

- Não.  - eu disse a cortando.

- Mas por que?

- Por que não quero. - eu disse firmemente, ela franziu o cenho mas depois consentiu.

E foi isso que eu fiz, fiquei no meu quarto,  como eu sempre fazia antes do Nate chegar. Eu não queria vê-lo,  não queria sentir algo por ele,  afinal eu amava o Travis e sempre iria amar.  Fiquei a tarde toda  remexendo nas minhas coisas,  vendo algumas fotos e organizando meu criado mudo.  Austin invadiu meu quarto,  como sempre correndo,  se jogou na minha cama e ficou me observando organizar minhas fotos. Minha cama estava cheia de fotos e Austin observava cada uma.

- Quem é esse?  - perguntou ele com curiosidade apontando para uma foto.

- Meu pai. - eu disse pegando a foto, onde meu pai estava muito mais novo em seu carro conversível que eu achava incrível quando era criança.

- Ele era feio.  - disse Austin e eu rir da sinceridade dele. Meu pai realmente estava bem melhor agora.  - E quem é esse?  - perguntou ele novamente pegando uma foto e virando para eu ver.

- Travis. - eu disse sorrindo mas sempre que via aquela foto era como se recebesse um soco no estômago.

- E quem é esse Travis?  - perguntou e ainda olhando a foto.

- Meu noivo.

- Seu noivo?  - perguntou ele arregalando os olhos e a boca depois fechou rapidamente e continuou: - Não sabia que você tinha noivo.

Nate entrou no meu quarto,  olhando ao redor abismado pela bagunça que estava minha cama, continuei organizando fingindo que ele não estava lá.

- Passou algum furacão aqui e eu não sei? - perguntou Nate sentando ao lado do Austin na minha cama.

- Olha só isso Nate. - disse Austin mostrando a foto do meu pai. - É o pai da Melinda.  - disse ele sorrindo.

- Achei que fosse o Freddy Krueger. - Nate disse e Austin gargalhou, eu quis rir mas me contive. Austin pegou a foto do Travis e mostrou.

- E esse é o noivo da Melinda. Travis.  Hummm. - disse Austin me olhando como se dissesse 'tá namorando' e eu sorrir e rapidamente voltei o meu olhar para organização das fotos. Nate pegou a foto a observou alguns segundos e a devolveu para a milha de fotos. Peguei a mesma e a organizei com as outras.

- Ei Mels, eu trouxe o álbum da nossa família também! - disse Austin.

- Trouxe?  - indagou Nate surpreso.

- Sim, sempre que tenho saudades da mamãe eu vejo e quando vou visitá-la mostro pra ela, pra vê se ela melhora. - disse Austin com a voz entristecida,  eu levantei meu olhar para vê-lo, Nate passou a mão nos cabelos de Austin e ele disse descendo da cama e correndo: - Vou pegar! 

Continuei meu trabalho guardando as fotos dentro de uma caixa, Nate me observava quando disse:

- Você não saiu do quarto hoje.

- Não.  - eu disse evitando o olhar diretamente.

- E por que?

- Porque eu quis,  sempre fiz isso.

- Não fazia mais.

- Resolvi fazer! - eu disse já sem paciência,  o olhando com raiva.

- Ei, calma! - disse ele suavemente e eu me senti uma louca,  acho que ele faz isso com as pessoas,  se faz de vítima para os outros se sentirem mal. - O que está acontecendo? - perguntou ele quase sussurrando.

- Não está acontecendo nada! - eu disse fechando a caixa no meu colo e a guardando na gaveta do criado mudo. Austin apareceu segurando um álbum, me deu e ficou do meu lado para ver. Eu abrir e a primeira foto era da família deles. A mãe de Nate era a cara do Austin,  era loira e de olhos azuis lindos,  ela possuía covinhas ao sorrir, era magra e seus cabelos eram ondulados como os do Nate. O pai era mais fechado,  por ser tenente eu acho,  ele tinha cabelos pretos e seus olhos eram os mesmos do Nate e do Austin.

- A mamãe é linda, não acha?  - perguntou Austin.

- Sim, ela é. 

Nate observava de longe enquanto Austin ia passando as fotos e me dizia o nome de cada membro da família.  Quando o álbum acabou percebi que Nate não estava mais lá,  eu disse pro Austin que precisava descansar e ele me deu um beijo e saiu do quarto levando consigo o álbum.

***

Eu estava me preparando pra dormir, quando Nate entrou no meu quarto,  revirei os olhos e Cora disse:

- Boa noite, Mels. - disse ela alisando a minha mão  e se retirando.

- Você não acha que já está tarde pra vir aqui?  - perguntei mais reclamando do que perguntando.

- Nunca é tarde para conversar.

- Pra mim é! - eu disse puxando o cobertor.

-Eu só queria te entender. - disse ele sentando na beira da cama.

- Não perca seu tempo com isso.

- Por que está me tratando assim?

- Assim como? - perguntei arqueando a sobrancelha e ele sorriu.

- Assim mesmo, desse jeito.

- Nate, nunca fomos amigos. - eu disse ríspidamente.

- Acho que quase chegamos perto disso.

- Por que você não finge que eu não existo? É tão mais simples pra você.

- Porque não dá pra ver alguém caindo do penhasco e fingir que não tem ninguém lá,  eu não consigo. Me desculpe! - disse ele tocando em meu braço,  tentei me afastar e disse:

- Vai embora! - eu disse elevando o meu tom de voz.

- Sinceramente eu não entendo,  por mais que eu pense eu não entendo.

- Então não pense mais. - eu disse o fuzilando com os olhos.

- Tem haver com o Travis?

- O que tem ele? - perguntei na defensiva.

- Não sei,  quero que você me diga. - ele disse e eu dei de ombros olhando para o vácuo.  - Ok, não vou insistir.  - ele disse se levantando e depois fechou a porta atrás de si.

AlvoradaWhere stories live. Discover now