Capítulo IX

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Não tem nada pior do que médico ( Ah não,  desculpa o Nate enchendo o saco é bem pior) principalmente quando você é paraplégica,  eles ficam te analisando e tentando ser SUPER gentis. O Sr. Steve, meu médico,  era assim: SUPER sorridente,  SUPER feliz, SUPER tentando levantar o meu astral,  além dele sempre tentar me fazer acreditar nos 3,84% de chances que eu tinha de voltar a andar.  Caramba! Esses números me animam demais! Apesar de ser médico ele também parecia não saber lidar com meu humor,  creio que por ser amigo do meu pai. Quando sofri o acidente meu pai arranjou trilhões de médicos pra mim, era exaustivo.  O que mais me irritava além de exames corriqueiros eram os psicólogos. Sim, no plural.  Foram alguns conversar comigo mas eu os ignorava,  não falava nada ou simplesmente era grosseira.  E com razão!  Qual o sentido de você falar  o que está sentindo para alguém que você não conhece?  Eu tenho dificuldade de falar pra quem eu conheço,  imagine a um desconhecido.  Depois do meu pai ter tido a certeza de que eu estava bem ele saiu do meu quarto com o Sr. Steve, Cora continuava lá, me observando com seus olhões atentos.

- Eu estou bem, mas pelo amor se Alá fecha essa janela.  - eu disse, ela sorriu e a fechou.

- Qual o problema com a janela? 

- Aqueles malditos lírios!

- Eles são lindos,  o Nate plantou pra você.  Ele é tão gentil.  - ela disse e eu virei a cara.  - Bom, eu já preparei seu banho e daqui a pouco o Sr. Peter chega para sua aula.

Depois do acidente meu pai ficou bastante preocupado comigo,  achou que eu estava muito depressiva,  dizia que eu precisava ocupar minha cabeça com alguma coisa, foi  então que ele arrumou o Sr. Peter.

Sr. Peter é um senhor de uns sessenta anos, tem um cabelo grisalho e possui óculos, ele é bastante gentil comigo. Ele tenta me ensinar pintura,  uma tarefa bastante difícil por que não tenho dom nenhum pra isso,  mas gosto de pintar,  na maioria das vezes pinto flores e pássaros por que lembrava minha infância. Sr. Peter era bastante paciente comigo e diferente dos outros ele não me tratava como se eu precisasse de ajuda,  ele não se intrometida na minha vida,  a maioria do tempo passava calado e aquele silêncio me agradava.

- Quer ajuda para banhar-se ? - perguntou Cora. Eu não gostava de ajuda, eu sabia que Cora só queria me ajudar mas o fato de depender dela para fazer uma tarefa que antes era tão simples pra mim, me irritava.

- Não,  só preciso que me ajude a ficar na cadeira de banho.  - eu disse meio sem jeito,  Cora levantou as cobertas,  travou a cadeira de rodas  e a colocou próxima a cama. Eu levantei meu tronco e Cora me ajudou  a ficar na cadeira de rodas, ajeitando minhas pernas.

- Tem certeza que não quer ajuda,  Mels? - perguntou ela destravando a cadeira e eu movi a cadeira até o banheiro. Lá ela me ajudou a ficar na cadeira de banho.

- Pode ir agora.  - eu disse e ela saiu receosa.  Comecei a tirar meu vestido,  apenas isso era um processo bastante trabalhoso.  Demorei quase uma hora no banheiro e claro que Cora não aguentou me deixar sozinha lá e ajudou a me vestir. Quando cheguei na varanda pude ouvir os risos do Sr. Peter, ele estava atrás do Nate observando o que ele tinha pintado, rapidamente Cora correu para ver o que ele havia pintado também.

- Não é assim! - disse Cora, eu movi a cadeira até onde eles estavam e vi, Nate havia pintado Philippe, eu não pude deixar de rir, porque mesmo Nate não tendo talento algum para pintura o desenho ficou idêntico ao Philippe. Quando rir, Nate olhou pra mim sorrindo como se estivesse gostado do meu sorriso,  rapidamente me conti.

- Quanta maldade Sr. Nate, o Philippe não é assim.  - disse Cora um pouco irritada.

- Desculpe Cora, meus talentos artísticos  são um fiasco.

- Você tem razão Nate, mas achei bastante parecido com o Philippe.  A Cora que tem uma queda por ele e não quer admitir.

- Melinda! - protestou Cora mais vermelha que um tomate e Nate riu, aquele sorriso largo que ele tinha,  Sr. Peter também,  nunca tinha visto ele sorrir,  ele sempre era sereno.

- Já dizia alguém que o amor é cego. - disse Nate.

- Chega! Vou tratar dos meus afazeres.  - disse ela saindo da varanda. E todos riram,  confesso que rir e fazia tempo que eu não ria, Nate parecia satisfeito com meu sorriso, seus olhos sorriam de felicidade.

- Vamos começar Melinda? Nate vai querer pintar algo mais profissional?  - disse o Sr. Peter rindo.

- Isso aqui é profissional. Isso se chama arte. - disse ele apontando para tela. - Mas não,  tenho que buscar meu irmão que chega hoje.

- Como assim chega hoje? - perguntei.

- Seu pai deixou que ele ficasse aqui comigo. Ele já deve estar chegando.  - disse Nate levantando e indo embora. Mesmo quando o Sr. Peter foi embora fiquei pintando ali algum tempo acompanhada do meu atual companheiro, o silêncio.  Silêncio esse que foi quebrado por gargalhadas de uma criança.

- Eu não acredito que você fez isso. - escutei Nate dizer sorrindo.

- Eu fiz! Você não imagina a cara que ela fez. Oi! - disse ele entrando na varanda de mãos dadas com Nate, ele era diferente do Nate, seu cabelo era loiro e bastante liso,  mas os olhos eram iguais,  verdes.

- Esta é Melinda, filha do Sr. Roland.

- Oi Melinda, meu nome é Austin. - ele disse sorrindo e devo confessar que ele tinha uma energia muito boa.

- Olá. 

- Por que você tá nessa cadeira? - ele perguntou e Nate o olhou o recriminado.

- Sofri um acidente e não posso mais andar.

- Então você  fica nessa cadeira?  - perguntou ele se aproximando e analisando a cadeira e eu assenti.  -É como se fosse o seu carro! - gritou ele maravilhado e Nate sorriu tocando no ombro do garoto.

- É sim. - eu disse meio que sorrindo, realmente eu tinha gostado daquele garotinho, ele me olhava de um jeito diferente e isso me agradava bastante.

- Ei, você deixa eu ficar aí algum dia?  - perguntou ele.

- Só se você me dizer como aguentar o seu irmão.  - eu disse e ele riu.

- Ah, o Nate é um chato mesmo. Sabe o que você faz? Finge que não o escuta.  - disse ele sussurrando e eu rir. Eu estava rindo bastante pra um dia só.  - Mas como você não gosta dele? Todas ficam louquinhas por ele. Você acredita que teve uma que se ajoelhou no meio da praça? 

- Já chega né? Vamos deixar a Melinda em paz. - disse Nate puxando o garoto.

- Na verdade estava adorando o que ele estava me contando. 

- É melhor deixar essa história pra mais tarde.  Vamos Austin! - disse ele levando o menino. Depois de um tempo Cora apareceu pra trazer um suco pra mim, tomei e fui pro quarto.  Pensei no Austin, no jeito que ele falou comigo,  no jeito inocente e doce de criança, sem preconceito,  sem subestimação. Ele agiu tão natural e aquilo me agradava,  aquilo me fez sorrir. Ouvi alguém bater na porta e logo após apareceu o rosto de Nate na porta. 

- Posso entrar? - perguntou ele.

- Sua cabeça já entrou. - eu disse e ele entrou.

- Eu queria falar com você sobre o Austin.

- Ele é um gracinha.

- O quê?

- Se você acha que fiquei chateada com o que ele disse está enganado. Ele é uma criança,  e acho que todos deveriam agir como ele.

- Confesso que agora me surpreendi.  À propósito adorei seu sorriso. - ele disse e eu fiquei sem graça tentando parecer durona.

- Você veio aqui pra falar isso?  Já falou,  pode ir agora.  - eu disse e ele sorriu.

- Você deveria sorrir mais vezes.  - disse ele da porta.

AlvoradaWhere stories live. Discover now