Capítulo XIII

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Eu pintava no jardim,  pintava para me distrair,  para minha sorte Cora estava ocupada com a festa de noivado do meu pai e não estava me perguntando a cada três minutos se eu precisava de alguma coisa. A verdade era que eu pintava para afastar a história do Nate da minha cabeça, a história da mãe dele havia mexido muito comigo, de repente tudo o que eu sofria não era nada comparado aos problemas dele. Eu me perguntava como ele conseguia lidar com aquela situação tão bem, como ele não caiu em desespero ao ver a mãe naquele estado?  E como ele arranjou forças pra cuidar do irmão?  - Ele tem uma força interior incrível - pensei. 

Continuei pintando tentando afastar aqueles pensamentos, eu tentava pintar uma paisagem,  mas como eu estava distraída meus traços saíram horríveis.

- Mels? - disse meu pai sentando ao meu lado, eu sorri rapidamente sem tirar os olhos do quadro.  - Vejo que está melhorando cada vez mais.  - ele disse observando o quadro,  eu olhei curvando as sobrancelhas e ele riu. - Não está mal, querida. 

- Se você diz, devo me sentir honrada. - eu disse e ele sorriu pegando o pincel da minha mão e fazendo um perfeito traço na tela,  melhorando significativamente o quadro.

- O poder de um traço.  - disse ele admirando a obra.

- O poder de um pintor.  - eu disse e ele sorriu vermelho.  Meu pai era um grande artista,  ele pintava maravilhosamente bem,  sempre pintou por hobbie,  a casa era cheia de quadros que ele havia pintado,  eu porém não herdei esse talento dele.

- Essa correria toda na casa está me deixando nervoso.  - disse meu pai suspirando pesadamente.

- Pai, é só mais um noivado.  - eu disse naturalmente,  tentando melhorar o quadro,  e ele gargalhou, logo depois recuperou a postura séria.

- Não fale assim Melinda,  a Lívia é diferente.

- Claro,  assim como a Katy, a Tori e a Helenna.

De todas as namoradas do meu pai a que eu mais gostei foi a Tori, ela era dona de um cabelo ruivo ondulado digno de inveja,  ela era calma e tinha um estilo hippie, eles terminaram por que ela teve que morar em outro país. Meu pai não tinha um estilo fixo de mulheres,  todas eram uma mais diferente da outra.  A Katy era uma perua rica, cheia de etiqueta e modos,  gastava absurdos em roupas,  meu pai terminou com ela antes que ela terminasse com suas finanças. A Helenna era simples,  veio de uma família pobre e conseguiu subir na vida, meu pai ficou bastante tempo com ela mas depois terminaram por que ela ainda era apaixonada pelo ex marido.  Minha mãe era extrovertida, sempre iluminava os lugares onde ela passava,  tinha os olhos mais intensos que já vi, e seu sorriso era acolhedor, como o de todas as mães.

- Não diga isso Melinda. Quando estou com a Lívia me sinto tão leve, esqueço meus problemas,  ela me faz rir e me entende de uma maneira apaixonante.  - disse ele e pude ver aquele brilho no olhar dele, ele estava apaixonado de verdade, eu sabia disso.  Apesar de ter um estilo quase mosca morta, eu gostei da Lívia, ela parecia sincera e não tentou me agradar, me paparicando, ela apenas foi ela mesma e aquilo me agradou bastante.

- Que bom pai, você tem que me esquecer mesmo. - eu disse tentando não errar o traço.

- Como assim esquecer mocinha?  Ainda vou ficar no seu pé muito tempo ainda. - disse ele. - Tente fazer com menos força e mais delicadeza.  - disse ele se referindo ao quadro e eu tentei colocar menos peso no pincel.  - Calma! - gritou ele pegando o pincel de mim, fez um tracejado rapidamente e depois misturou com outra tinta intercalando com o outro tracejado.  - Perfeito! - exclamou ele com os olhos sorrindo observando o quadro.  - Isso dá um efeito de sombra perfeito não acha?

- Acho que pintar não é um dos meus dons. 

- Entretanto você toca piano perfeitamente.  - disse ele e deu uma longa pausa. - Igual a sua mãe.

- Não toco mais pai. - eu disse engolindo um seco e jogando o pincel na mesa.

- Mas deveria voltar a tocar, você gostava tanto filha.

- Não posso,  não consigo mais.  - eu disse e ele me olhou com uma sombra de tristeza no olhar.

*****

- Esse vestido é tão lindo! - exclamou Cora segurando o vestido que eu iria usar na festa do meu pai. Ele realmente era um belo vestido,  era azul celeste com uns babados discretos em baixo. 

- Onde está o Austin? Não o vi o dia todo.

- Ele saiu com o Nate, ficou pedindo um milhão de vezes pro Nate levar ele no observatório.  Você o conhece,  mas eles já chegaram.  - disse Cora se olhando no espelho,  ela usava um vestido vinho que caia super bem nela combinava com sua cor de pele pálida e seus cabelos castanhos. Depois de muito meu pai insistir pra ela não trabalhar no dia da festa, ela aceitou,  meu pai a considerava uma amiga e sob hipótese alguma a deixaria trabalhar num dia tão especial pra ele. Depois de Cora me ajudar a me vestir,  eu tentei arrumar meus cabelos loiros, Cora saiu do quarto para ver se estava tudo certo na cozinha,  ela não conseguia ficar longe de lá.  Saí do meu quarto e encontrei Austin no corredor.

- Mels! - gritou ele correndo até mim e me dando um abraço.  - Você não sabe onde eu fui. - disse ele com os olhos brilhantes.  - Olha só! - exclamou ele mostrando uma lembrança do observatório,  era um telescópio de brinquedo. - Você sabia que a cauda dos cometas podem chegar a 100 millhões de quilômetros? - perguntou ele fascinado e eu rir.

- Não, eu não sabia.

- Você sabia que o Universo cresce 1,6 bilhões de quilômetros por hora? E que existe uma estrela que emite cerca de 3 milhões de vezes mais energia que o Sol?

- Como você decorou isso tudo? - perguntei pasmificada.

- Não decorei,  aprendi.  Sou muito inteligente.  - disse ele estufando o peito todo orgulhoso.

- Sim, você é.  - eu disse o puxando para um abraço.

- Queria que você tivesse ido com a gente.  Você ia adorar!

- Ia mesmo. 

- Vou guardar meu telescópio! - gritou ele correndo para o seu quarto. Girei a roda e fui para sala, apesar de não querer,  eu sabia que lá estaria os amigos do meu pai e que eles iam olhar pra mim com aquele olhar de pena que eu odiava tanto.  Estava cansada de responder que estava bem, estava cansada de ouvir os 'sinto muito', de ouvir os cochichos das senhoras,  estava cansada dos 'posso lhe ajudar? ' ou dos ' precisa de alguma coisa? ', estava cansada de tudo e de todos. Entrei naquela sala e logo a Sra. Marta veio falar comigo,  ela era uma senhora gordinha que me conhecia desde de bebê.

- Melinda, querida.  Você está tão linda.  - disse ela me apertando em um demorado abraço. Eu tentei sorrir o mais convincente possível.  - Estou tão feliz por seu pai, a Sra. Lívia parece ser uma ótima pessoa.  - disse ela comendo um salgado. Logo, eu vi Lívia, ela estava radiante,  estava linda, seus cabelos castanhos estavam cacheados e seu vestido era vermelho sangue, quando me avistou veio até mim.

- Olá Mels, viu seu pai?

- Ainda não.

- Você está linda.  Como vai Sra. Marta? - perguntou Lívia sorridente.

- Muito bem, obrigada.

- Vou procurá-lo, licença.  - disse Lívia caminhando até os corredores,  não chegou até lá, pois,  meu pai apareceu, com seu terno preto, como sempre elegante. Logo após,  tivemos o jantar,  onde todos sorriam e gargalhavam, Austin estava ao meu lado comendo muitíssimo empolgado.

- Onde está o Nate? - perguntei a ele.

- Não o vi... desde quando ele... me mandou colocar.. essa roupa. - disse ele fazendo pausas ao comer. 

- Estranho.  - pensei.

AlvoradaWhere stories live. Discover now