Capítulo 03- O abraço afogado

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Eu tive necessidade, eu tive vontade de você quando no meu mundo cinza você transpareceu. Éramos nós dois num jardim olhando aquela casa, aquela casa em que eu sempre sonhei em dividir com alguém. A cor das madeiras era tão marrom que parecia a cor dos teus olhos quando você olhava profundamente á mim. E quando eu olhava ao céu num dia ensolarado eu sentia que eu não poderia estar distante de você, porque quando eu estava com você o meu Eu ficava mais forte, o meu Eu tinha mais felicidade. E quando subi naquela casinha de madeira eu lhe dei um abraço e foi. O abraço. Parecia que todo o meu lado sombrio tivesse se apagado e tudo o que eu sentia era o meu corpo se enchendo de cores quentes e enquanto você iniciava um beijo eu parei naquele instante e quis te convidar para fazer parte do meu Eu. E fomos há uma imensidão de construções juntos.

Os nossos apertões e arranhões pareciam sem sentido quando a realidade estava bem na nossa frente e não queríamos que chovesse, mas choveu. Choveu tanto, tanto aqui dentro. Quando você me disse que havia certo desespero eu pude entender tudo. O nosso Eu estava composto de "Nós". Eu passei muito tempo tentando entender o que pudesse ter destruído tudo o que construímos.

Quando o nosso Eu é deixado de lado, passamos a enxergar o que temos ao redor do mundo em busca de preencher a falta de um grande vazio que habita em nós e isso não significa que as pessoas sejam ruins, mas que estamos sendo ruins conosco mesmo. Não é um simples abraço se te afoga em desespero de afetividade. Construir um laço com alguém é além daquele alguém é você estar completo com você mesmo e não depositar uma necessidade, uma vontade de se jogar nos mares de alguém, porque o abraço afogado tanto pode afogar como também pode se morrer afogado. Não há estrela que brilhe mais do que a sua própria e não há felicidade e companhia que seja melhor do que a sua. E em hipótese alguma haverá um amor lúcido se o seu amor- o seu próprio não estiver construído, porque conhecer a si mesmo é a sabedoria também para conhecer o seu próximo e não há necessidade e vontade que não possa ser suprida quando está faltando algumas peças do seu quebra cabeça. Não há quem te complete, há quem compartilhe trocas saudáveis com você e que possa te iniciar um beijo em frente á uma casinha marrom, mas não para te colorir porque você já terá a sua cor. 

"Derrame-se nas tuas sombras e se perca na sua escuridão, mas não se desleixe se procurando em alguém, você não vai se encontrar em alguém, você vai se encontrar em você mesmo e eu sei e digo não será um processo doce, mas pegue este tempo e se transforma em um verdadeiro impar equilibrado e conseguirá um bom par porque você terá inteligência para saber o que merece e o que realmente quer e será recompensado por alguém que também se transformou e não desanime haverá alguns abraços afogados para poder saber se você se afoga ou saiba nadar para longe. E se conseguir não precisará mais te abraços afogados, terá um abraço leve."

O seu Eu não pode ser dividido porque ele deve ser inteiro e quando você deixa com que ele seja completo por relações diversas ele adoece e vai te pedir socorro. E não somente te causará danos, como também ao seu próximo. Somos uma dificuldade, mas podemos fazer da dificuldade apenas ser qualquer desafio e então saiba escolher. E por favor, escolha sempre você. 

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