Capítulo Quatro

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— Nós? — Khione e eu rimos de sua afirmação.

— Isso não tem a menor possibilidade de ser verdade, sabe disso não é mesmo?

— Concordo com ela, você mesmo disse que o Arthur nunca havia levado uma humana em seu reino, exceto por mim.

— Estella você não sabe ao menos de onde veio, como pode dizer que certamente não é uma de nós? Já você Khione, eu estava certo o Arthur nunca levou humanos até nosso reino, e pelo visto não começou com essa prática. Sinto muito mas você não é da espécie que pensa.

— Sinto lhe informar meu querido amigo de orelhas pontudas, você está enganado.

— Não confiam em minha palavra, isso era de se esperar, infelizmente não posso provar a vocês já que a base de informações de Elphia só registra os nascimentos nos seis reinos e não sei se nasceram neles.

— Muito convincente. — Digo debochando da situação.

— Detesto ter que atrapalhar a conversa de vocês, mas chegamos a Cleveland, e já que nenhuma de vocês tem um celular, ali na frente podem usar a cabine telefônica.

— Ótimo. — Saímos do carro e vamos em direção a cabine, vejo que esqueci minha jaqueta no banco do carro então viro-me rapidamente para ir buscá-la, porém ele não está mais lá.

— Khione. — Grito pois ela está um pouco a minha frente, a mesma olha para trás com um olhar confuso. - Eles sumiram.

— Como assim?

— Sumiram, evaporaram, desapareceram, se foram.

— Está tudo bem, me espere aqui. — Ela entra na cabine e dá início a uma conversa, imagino que seja o avô de que tanto fala, ou ao menos espero, definitivamente. A voz de consciência que deveria existir dizendo que seguir estranhos é igual a suicídio deve ter morrido junto com todas as minhas lembranças. Me distraio com as pessoas andando depressa pela rua, uma fila quilométrica é visível em frente ao que suponho que seja um café na esquina, observo cada detalhe dessa cidade tentando encontrar algo familiar ou algum gatilho que dispare minhas memórias, mas novamente o vazio reina.

— Arwen está vindo nos buscar. Você deve estar com fome, não é?

— Sério? Eles sumiram e você está pensando em comida? — Digo gesticulando minhas mãos no ar.

— Nós podemos fazer alguma coisa sobre o sumiço deles? — Indaga arqueando as sobrancelhas

- Não?

— Não, então, mas podemos fazer algo sobre a nossa fome. — Diz apontando para o mesmo café em que minha atenção estava minutos atrás.

— Posso não lembrar muita coisa mas tenho certeza de que precisamos de dinheiro para comprar algo, e como podemos ver. — Puxo os bolsos para fora. — É algo que não tenho, e acredito que você também não.

— Isso não é um problema.

— Como isso não é um... - Ela me puxa pelo braço praticamente me arrastando pela rua.

— Fique aqui.

— Não mesmo, vou com você.

— Ah. — Ela suspira rindo ironicamente. — E por acaso é boa na arte do roubo? É, verdade, mesmo que fosse não se lembraria, então só me espere aqui se não quiser ser presa.

— Eu vou com você. — Digo agarrando seu pulso como uma criança que não quer se distanciar da mãe.

— Se você insiste. Mas não me responsabilizo se não conseguir correr como será necessário.

— Sinceramente? Eu corri de um daqueles seres, acha mesmo que não consigo fugir de um guarda?

— Um bom argumento.

Andamos até o final da rua, onde se encontra nosso alvo, a fila está menor e agora pouco mais de três pessoas estão aglomeradas aqui, sem contar com um guarda na entrada.

— Está vendo aquela porta ali? - Disse apontando para a porta principal.

— Sim.

— Definitivamente não entraremos por ali.

— Por onde então? Temos outra alternativa?

— Preste atenção, aquela janela ali está totalmente aberta e é a de acesso direto a cozinha.

— Algo me diz que você já fez isso várias outras vezes.

— Quieta. - Ela sela minha boca com a mão. — Só me siga.

Começamos a andar lentamente até a janela que fica em um beco, apertado por sinal, observamos o movimento da cozinha e em alguns segundos, ela já está lá dentro com uma caixa de rosquinhas em uma mão e dois cafés na outra. Como tem equilíbrio para carregar aquilo e correr ao mesmo tempo? Realmente, não faço ideia.

— Vamos, vamos. - Diz me entregando os cafés e pulando de volta para o beco. O segurança corre vindo atrás de nós, felizmente corremos mais rápido descendo a rua.

— Você é completamente louca. — Digo mordiscando uma rosquinha.

— Graças a minha loucura você está comendo. — Ela sorri.

— E graças a você também estamos em uma rua sem saída, sentadas em uma calçada de uma cidade que não conhecemos.

— Ah, de nada por lhe salvar daquela coisa noite passada. — Diz me dando um murro fraco.

— Onde você disse para seu avô nos encontrar?

— Na estrada onde entramos para Cleveland.

— Acha mesmo que em um caminho desse tamanho ele vai conseguir nos encontrar?

— Não sei, mas creio que sim, ele sempre me acha.

— Então baseamos nosso resgate na esperança de que ele sempre te acha?

— Só espere Estella.

— Tudo bem, tudo bem.

— Inclusive acho que está na hora de começarmos a andar, ou não chegaremos antes dele na estrada.

— Seria ótimo se o Demir aparecesse agora, nos pouparia muito tempo.

— Seu desejo é uma ordem. — Ele aparece deixando uma fumaça esverdeada pelo ar.

— Que? Como?

— Já ouviu falar em teletransporte e monitoramento?

— Estava nos espionando?

— Espionando não, observando, cuidando, seriam palavras mais adequadas.

— De qualquer forma, se você pode se teletransportar por que não nos leva até a casa de infância da Khione de uma vez?

— Uma boa pergunta, mas não iria desperdiçar a viagem do Arwen até aqui, mas posso nos teletransportar até o carro.

— Então faça... — Tudo ao redor fica escuro e em segundos a luz volta a iluminar meus olhos.

— Pronto. — Disse ele limpando a manga da blusa.

— Que infernos! Como vocês chegaram aqui? Demir eu já te disse para não fazer isso.

— Vocês se conhecem?

— De muitas e muitas primaveras.








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