Capítulo Sessenta e Dois

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— Saiam de perto das casas! Fronteiras, corram paras fronteiras! — Lyssa grita a todos. Nós obedecemos sua ordem, correndo e voando rapidamente até às fronteiras, atravessando para Faleias.

— Eles sempre nos pegam de surpresa. O que estamos fazendo errado?

— Nada Kastian, não estamos fazendo nada de errado, só não temos a mesma experiência em batalha do que ela. Antes de tudo era uma general, sabe muito bem quais artimanhas usar, quando atacar, quando recuar, só precisamos aprender o mesmo.

— Estamos em vantagem Kastian, não se preocupe, nós destruímos boa parte do inferno quando os atacamos, sem contar nas diversas vidas tiradas, soldados a menos, e hoje matamos uma de suas mais preciosas jóias. Núria. Certamente ela estava por trás de metade dos planos, e agora como está morta não poderá mais dar ideias. — Mykal diz, não se importando em ter assassinado a mãe.

— Espero que esteja certa. Sim, estamos em vantagem mas se continuarmos nesse ritmo não estaremos por muito tempo. — Olho ao redor, mesmo com os massacres sangrentos que já aconteceram, o número de místicos ainda é alto, eu diria algo em torno de setenta porcento do que tínhamos. Não sei se Elphia terá lugar para abriga-los depois de hoje, ainda não sabemos a situação em que o reino ficou, acredito não ser das melhores.

— Eles já devem ter se retirado, o segundo grupo não veio para lutar, veio para destruir, e provavelmente já fizeram isso. Podemos voltar. — Meliorne diz andando na trilha que leva de volta ao centro do reino, confesso que estou com medo do estado em que estará. Em poucos minutos estamos no que a minutos atrás chamaríamos de Elphia, mas que agora não pode mais levar esse nome.
As casas derrubadas, as árvores arrancadas pelas raízes, luzes da praça quebradas a fonte tirada de sua localidade, um verdadeiro caos, esse lugar pode ser chamado de muitas coisas no momento, menos de lar.

— Meu precioso reino. — A voz embargada pelo choro de Kastian corta meu coração, sei o quanto ela ama tudo isso, foi o lugar onde nasceu, onde cresceu e se tornou uma rainha. Ver sua morada destruída sem que ela possa fazer nada deve estar lhe matando. — Onde iremos morar? Reconstruir esse lugar levaria anos.
Perdemos tudo, deveríamos nos render.

— Não. Não chegamos até aqui para deixar que eles prevaleçam. — Khione bate a mão em uma árvore caída fazendo um buraco em sua superfície.

— O que sugere que façamos? Nossa casa foi destruída por completo. — A rainha diz com os olhos inchados pelo choro.

— Niran vossa alteza. — Uma niraniana diz antes que Khione consiga responder. Todos nos viramos para ela, afim de ouvir o que tem a dizer. — Niran está vazia e intacta, assim como Faleias também, esses dois reinos acredito que estejam a seu dispor minha rainha. Porém Niran se mostra ser o mais adequado, já que Faleias faz fronteira com o inferno, nos deixando assim mais vulneráveis. Niran se encontra bem longe do inferno por ser o último de nossos reinos. Nossa rainha se foi, não nos deixou herdeiros para seguirmos ou irmãos para tomar seu lugar, você agora é nossa rainha assim como é rainha dos elfos.

— E nossa também. — As fadas dizem em um coro de vozes. — Estamos a sua disposição vossa alteza. — Todos nos curvamos diante dela de uma só vez, e vejo a confiança brotando novamente em seu ser.

— Muito bem, agradeço a confiança de vocês, mesmo em meio a meus erros. Não os decepcionarei. Vejam se algo de suas coisas ainda pode ser salvo, juntem o que conseguirem, partiremos assim que o sol se pôr. — Fala se afastando de nós, indo até nossa pequena casa que está em pedaços, ela revira os destroços a procura de algo, não sei o que exatamente, mas parece ansiosa para achá-lo.

— O que está procurando? — Pergunto para que possa ajudar.

— Uma lembrança.

— Lembrança?

— Sim, algo que minha mãe me deu antes de morrer, é importante.

— Precisa de ajuda? — Estendo a mão quando ela ameaça cair.

— Procure um cetro de ouro, acho que não precisa de mais detalhes, afinal é difícil não notar um cetro de cinquenta centímetros feito totalmente de ouro. — Ri tirando um pedaço enorme de rocha do chão. — Acho que ajuda não será necessária. — Diz tirando o reluzente metal de um buraco. — Está empoeirado por ter ficado preso abaixo das pedras, nada que não se resolva. — Da um sorriso genuíno. Provavelmente é a última coisa que tem da mãe. — Só isso que restou de nossa casa. — Suspiro.

— Podemos construir uma nova, ainda temos uma a outra, e isso é tudo que importa Kastian. — Ela fica em silêncio e o sol começa a baixar no horizonte, a hora da partida está próxima, um quase novo começo.

— Todos estão prontos? Pegaram o que restou de suas coisas? — Pergunto e a multidão assente.

— Agradeço pelo laboratório ser no subsolo, caso contrário nossas pesquisas, fragmentos e a fórmula da droga estariam perdidos.

— Há alguns anos atrás Elphia era constantemente atacada por furacões naturais, por isso a ideia de fazê-lo no subterrâneo. — Lyssa informa.

— Isso foi ótimo para nós. — Khione responde, e logo em seguida Kastian chama nossa atenção.

— Sem mais demoras devemos partir, rumo a nosso novo lar. Confesso que mudanças nunca me agradaram muito, entretanto no momento elas são necessárias e precisamos fazê-las. — Todos obedecem os comandos da rainha, atravessando os portões em direção a longa estrada até Niran. Nunca estive nesse reino, nem imagino como seja, mas sereianos devem residir sob a água, espero que haja morada para nós na terra, pois não adiantará irmos a um reino onde não podemos habitar.

— Por que está tão tensa? — Demir pergunta para mim.

— Já estava adaptada a Elphia, é como perder minha memória novamente, não gosto de mudanças forçadas.

— Nós voltaremos para casa, quando isso acabar iremos reconstruí-la.

— Estamos há um ano em guerra, quanto tempo mais teremos que esperar para vencer ou para nos rendermos? — Digo impaciente.

— Está próximo Estella, tenha paciência. Não é possível se vencer uma guerra em duas horas.

— Sei que não se pode Demir, mas estou cansada de viver com medo. Medo de perder quem amo. Kastian, Khione, a vocês. Sabe que a qualquer minuto qualquer um de nós pode vir a óbito.

— De fato. É melhor não pensarmos nisso.

— É inevitável. Saber que estamos caminhando e que uma bomba pode cair sobre nossas cabeças é algo que não consigo tirar de minha mente, as vidas que já tirei, as pessoas que já vi morrer. Não gosto de no que isso está me transformando, não quero achar comum matar outras pessoas como vocês acham comum.

Seis Mundos: Novas OrigensOnde histórias criam vida. Descubra agora