Capítulo Vinte e Quatro

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— Estella? — Ouço Psyche chamar e reparo que está me procurando.

— Estou aqui. — Aceno com as mãos para que ela possa me ver.

— Eu não estou enxergando! Não vejo nada.

— Siga minha voz e peça o Arwen para te indicar a direção. — Digo sem ter quase escutado o que havia dito. Arwen a guia até mim e agora estamos todos juntos, exceto Kastian que ainda não atravessou o portal, situação que me deixa apreensiva.

— Estella temos que nos afastar daqui, minha cegueira é consequência de ter voltado, precisamos ir o mais rápido possível antes que isso se torne permanente.

— Por que teria alguma consequência? E por que você não nos alertou disso?

— Não me questione agora só fique ao meu redor junto a Demir, nos levarei até o centro de Faleias, no momento um lugar muito mais seguro.

— Mas e Kastian? Ela ainda não atravessou o portal.

— Confie em mim, ela ficará bem, sempre fica, é muito mais forte do que parece.

— Tudo bem, mas caso não apareça daqui uma hora voltaremos para cá, certo?

— Sim, voltaremos, agora chegue mais perto. — Coloco Demir apoiado ao peito de Psyche e ao meu deixando-o firme para não sofra com o impacto do teletransporte. Basta poucas palavras murmuradas e estamos no centro do reino. Ao contrário de Elphia as casas são espalhadas pelo bosque, há um rio que corta a cidade e uma canção doce e melodiosa ressoa por nossos ouvidos.

— Nossa. — Digo com espanto.

— Realmente linda não é? Uma pena não poder contemplar sua beleza no momento.

— Você ainda me deve respostas Psyche.

— Pensemos no bem estar de nossos amigos, depois que comerem e beberem algo garanto que darei sentido as suas perguntas. — Ela diz e aceno a cabeça consentindo. Depois dessas palavras uma garotinha de aparentemente dez anos nos aborda, observa-nos por alguns segundos e logo em seguida solta um grito estridente.

— Forasteiros! Forasteiros. — Em poucos minutos estamos rodeados de lanças afiadas, que estão quase chegando ao encontro de nossa pele, qualquer mínimo movimento que fizermos poderá nos matar.

— Demônios. — Psyche diz e eles se entreolham.

— Como disse?

— Demônios, estamos fugindo de uma legião. — Quase que automaticamente as armas são abaixadas e sorrisos são postos em lugar das caras fechadas.

— Perdoe-nos, qualquer um que seja contra ou perseguido por demônios é bem-vindo aqui. O que fizeram? — Uma das fadas indaga torcendo o pescoço.

— Invadimos o palacete em busca de dois dos nossos que foram capturados. E como podem ver estão em péssimo estado. 

— Venham, daremos comida, água e roupas limpas a vocês, podem ficar o quanto precisarem. — O pequeno grupo diz sorrindo. Eles nos levam até uma espécie de abrigo onde ficamos a sós.

— Uma bela ideia nos trazer para cá, não fazia ideia de quão hospitaleiras as fadas eram.

— Não se engane Estella, sem dúvidas elas pedirão algo em troca. — Demir se pronuncia em meio a tosses. Pego um dos panos úmidos e passo sobre as feridas do elfo, algumas mais profundas que outras, marcas que possivelmente foram deixadas por açoites. — Não preciso disso, traga-me um pedaço da pedra central élfica e ficarei bem.

— Demir estamos em Faleias. 

— Sei disso, mas o belíssimo demônio que agora está sem visão sempre carrega um fragmento com ela. — Pego o fragmento e dou a ele. Cinco minutos depois está de pé e o rubor de sua pele voltou ao normal, suas feridas cicatrizaram.

— Poder de cura?

— Um dos privilégios de elfos minha querida.

— E Arwen?

— Ele voltará ao normal, só não posso dizer quando.

— Não pode fazer o mesmo com ele?

— Infelizmente não. — Agradeço por Khione não estar aqui, ver Arwen nessas condições a deixaria devastada, pelo menos não estamos naquela masmorra asquerosa.

— Precisam de mais alguma coisa? — Uma mulher surge.

— No momento não. — Dou um sorriso.

— Pretendem ficar quanto tempo?

— Já estamos de partida. — Digo olhando para um relógio vendo que já se passou mais tempo que o combinado e Kastian ainda não apareceu.

— Estamos? — Psyche indaga.

— Kastian. 

— Se meus olhos não mentem para mim depois de umas horas sem visão creio que aquele ser vindo graciosamente até aqui seja a sua rainha.

— Onde você estava? 

— Tentando não morrer. — Ela sorri.

— Agora que suas preocupações foram anuladas minha cara Estella, ainda quer suas respostas?

— Sem dúvidas.

— Venha comigo. — Nos afastamos dos outros indo a outra ponta do abrigo. — Em primeiro lugar não comentei sobre minhas possíveis consequências ao voltar para o inferno pois sabia que você insistiria para não ir.

— E por que você não pode voltar tranquilamente para o inferno? Era general, deveria ter grande respeito.

— Deveria. — Ri ironicamente. — Eu já tive um dia, era muito respeitada até que. — Ela interrompe a própria fala.

— Até?

— Até minha família virar o completo caos, uma de  minhas irmãs se apaixonou por um humano, ela o raptou e pagou com a vida por isso. Meu pai ficou tão abalado com isso que não pensou no que poderia acontecer e matou o humano e escondendo o corpo no inferno. O conselho do submundo resolveu que ele era culpado e que minha mãe era cúmplice, o aprisionaram nela, depois de um tempo ela enlouqueceu e se jogou contra um espada angelical. Eu perdi quase toda minha família e a parte que ainda me resta, minha última irmã, não fala comigo normalmente. Busquei vingança e acabei gerando uma rebelião contra os governantes da época. Nós vencemos, Yaza trabalhou ao meu lado, por um tempo éramos os mais respeitados do inferno, mas ele decidiu que não queria dividir seu poder comigo, me apunhalou pelas costas e fez todos ficarem contra mim. Para ter certeza que eu não voltaria colocou feitiços que só atingem a mim, então toda vez que chego perto da fronteira do inferno sou atingida por inúmeros feitiços diferentes, para minha sorte descobri como invalidar quase todos, o que me faz ter menos complicações do que era planejado.

— Uau. — Digo admirada. — Mas você disse que o motivo de ter deixado seu posto foi por que se apaixonou.

— Isso também teve sua contribuição, mas não foi o ponto principal. Nessa mesma época conheci o Demir e comecei a ir para Elphia com mais frequência. Nos tornamos bons amigos, ele me apresentou Kastian e sua irmã Lyssa. Eu e Lyssa tivemos uma conexão imediata, um encontro de almas, e é claro, ficamos juntas, felizes por um tempo mas Yaza soube e foi nesse momento que me apunhalou pelas costas, ele a raptou, a cortou em pedaços, mandou cada um deles para Kastian, e no inferno difamou meu nome, alegando que eu havia feito tamanha barbaridade com a mulher que amava.

— Sinto muito. 

— Tudo que tenho hoje é o Demir. Ele se tornou minha família, Kastian era minha amiga antes de misturamos nossos sentimentos.

— Você ganhou novas pessoas para sua família, espero que nos aceite. — Digo e dou um abraço nela.

— Gosto de você Estella. — Ri.

— Tem algo errado com o Arwen!

Seis Mundos: Novas OrigensWhere stories live. Discover now