Capítulo Sessenta e Sete

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— Não existe nada para se preocupar Estella, sei o que estou fazendo.

— Espero mesmo que saiba, espero também que sua confusão e indecisão não atrapalhe sua felicidade mais uma vez.

— Não vai. — É o que eu desejo, porém não sei se será o que irá acontecer.

— Só pense bem no que está fazendo, isso é um compromisso, uma aliança, a partir do momento em que você aceitou o que Lys lhe propôs, você disse a ela que a ama e que quer passar o resto de sua vida ao lado dela. Entende a importância disso para ambas? Não estou preocupada somente com você, mas também com ela, Lys é uma mulher incrível, e não quero que se case com alguém que não a ame, estou apreensiva de que isso faça ambas sofrerem em uma união infeliz.

— Nós estamos juntas a pouco mais de um ano, temos sido extremamente felizes nesse tempo, ou o máximo que se pode ser devo a nossas condições. Por que acredita que isso mudaria de uma hora para outra?

— Não acreditava, até dez minutos atrás, quando vi você escondendo a expressão que queria mostrar e com os olhos sedentos procurando Mykal entre nós. Pelo inferno e pelos céus Khione, eu te conheço muito bem para saber que em algum lugar aí dentro você não queria dizer sim. — Ela está certa. Odeio que me conheça tanto ao ponto de saber algo que até eu mesma esteja confusa.

— Podemos somente esquecer esse pequeno fato? Como Lyssa disse, um jantar nos espera.

— Podemos, se você me prometer que irá pensar com paciência e clareza. E se casar com Lyssa não for o que realmente quer, irá dizer a ela.

— Prometo Estella. Como estamos falando em casamento, você e Kastian estão juntas a bem mais tempo que eu e Lyssa. — Falo andando em direção ao castelo junto a ela.

— Sim, estamos.

— E quando pretendem fazer o mesmo que nós?

— Nos casar? — Estella tosse falsamente tentando desviar do assunto tirando minha atenção para as ondas e o pôr do sol.

— Não tente me distrair.

— Ainda existe muitas coisas que Kastian e eu não discutimos. Não seria sensato tomar uma decisão tão importante dessa sem antes conversamos sobre essas devidas coisas.

— E que coisas seriam? — Vejo que fica ligeiramente desconfortável. — Eu não preciso saber, são assuntos a serem tratos somente por vocês.

— Temos quase dois anos juntas. Nesse período nós não... — Para e um no se forma em sua garganta. — Não transamos.

— E o que há de errado nisso? — De fato é algo um pouco surpreendente, já que Kastian parece ter tanto apreço por um corpo nu junto ao seu.

— Não há nada de errado. Somente o fato de que minha companheira ama uma coisa que eu não me vejo realizando. Todas as vezes que nos beijamos com mais intensidade e suas mãos estão prestes a tirar qualquer peça de tecido que tenha sobre minha pele, eu me esquivo e tento mudar o rumo de suas mãos.

— Isso definitivamente já deveria ser sido esclarecido entre vocês.

— Sei disso, mas conheço Kastian, viver uma vida sem sexo seria um pouco demais para ela.

— Estella, pelos céus, aparentemen não conhece sua própria companheira. Você já viu como a Kastian te olha? Como ela sempre procura estar perto de você? Como te acolhe quando chora? Tenho plena certeza de que para ela um relacionamento sem isso não seria um fardo. Ela ama você e não somente o seu corpo.

— Preciso dizer isso a ela, não é mesmo?

— Precisa. Mas fique tranquila, definitivamente irá entender. E provavelmente vai dar risadas por não ter lhe contado antes por medo.

— Agora eu que lhe peço, podemos esquecer isso e ir para nosso jantar?

— Podemos. — Voltamos a caminhar até os portões do castelo. Assim que entramos é possível avistar uma enorme mesa com várias cadeiras e com abundante comida.

— Até que enfim chegaram. E que estavam fazendo por amor de Elphia? — Kastian indaga.

— Nada de muito interessante. — Estella responde por mim e assim nos sentamos.

— Tenho uma coisa a dizer. — Lyssa se levanta com sua taça de algo que julgo ser champanhe, provavelmente o modificado que eles tem por aqui. — Um brinde a nós, um brinde ao nosso novo começo. — A refeição foi boa, tudo estava impecavelmente delicioso, Mykal passou todo o jantar olhando para seu prato e vez ou outra para mim. Posso ter bebido uma ou duas taças a mais do que deveria, percebo isso pelo meu andar trocado e as palavras que saem com mais facilidade que o normal, peço mentalmente que ninguém me pergunte algo relevante pois direi a verdade, ainda que queira escondê-la.

— Venha aqui. — Lyssa me pega pelo ombro me ajudando a não cair. — Não deveria ter te deixado com a garrafa na mão, ainda não aprendeu que as bebidas místicas são muito mais fortes que as da terra? — Diz rindo.

— Não parecem tão fortes no começo, além de terem um gosto muito bom. — Digo com a língua embolada.

— Me lembre de não deixar que você tome mais de uma única taça no nosso casamento, não quero uma noiva bêbada tropeçando em seus passos. — Continua rindo da minha dificuldade em caminhar.

— O que acha de irmos a algum lugar? — Sugiro. — Acabamos de ficar noivas, podemos fazer esse dia ser ainda mais especial.

— Com você nesse estado? Não creio que seja uma boa ideia.

— Só um pouco. — Insisto.

— Tudo bem, mas só um pouco. Para onde vamos?

— Para o mar, vi uma espécie de barco atracado a costa.

— Estou prevendo que isso não dará certo.

— Não seja pessimista. — Dou um tapinha em suas costas como repreensão.

— Tudo bem. — Ri do gesto. — Caminhamos pela parte rochosa até chegarmos em uma faixa de areia, bem semelhante a que encontramos nas praias terrestres. O barco ainda no mesmo lugar em que tinha visto, preso a uma rocha, flutuando nas ondas.

— Bem ali. — Aponto tropeçando em uma pequena pedra e caindo de joelhos na areia.

— Eu avisei que não era uma boa ideia. — Gargalha da situação. Ela está feliz por estar comigo e eu estou feliz por estar com ela. Eu vou me casar com a mulher que amo, Mykal. Quero dizer, Lyssa. O álcool confunde minhas memórias.

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