Capítulo Dezoito

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— Sei que já disse uma vez, mas seja bem-vinda, agora oficialmente. — Sorri me estendendo a mão.

— Por que me fez ficar aqui? Não me conhece e aparentemente não existem razões para isso.

— Quero te conhecer melhor. 

— A tentativa de primeiro encontro mais peculiar que já vi. — Digo rindo.

— Tenho que aprimorar meus modos, já faz tempo desde a última vez que fiz isso. — Diz colocando a mão na nuca em sinal de vergonha. — Posso reaprender se você me ensinar.

— O que pretende fazer comigo aqui? 

— Nada que você não queira.

— Não queria estar aqui.

— Se bem me lembro você e sua amiga vieram de livre e espontânea vontade.

— Por bons motivos.

— Quer me contar mais sobre o por que de estar fugindo, claro, já sei alguns rumores mas nada como a versão de quem sabe realmente a verdade.

— Não confio em você para isso, aliás por saber que estávamos indefesas se aproveitou querendo algum tipo de recompensa. Então não, muito obrigado.

— Difícil. De fato, gosto mais de você a cada palavra. — Ela ri. Seu sorriso é admirável, caninos afiados de um predador. Seus olhos me olham como se eu fosse a presa, tem um olhar hipnotizante. A beleza de vampiros sempre foi exaltada mas agora percebo que é realmente estonteante.

— Tem um mês para gostar mais de mim, depois disso como você mesma disse estou livre para ir.

— Temos um curto mês pela frente, verá que passará mais rápido do que imagina.

— Já está tarde, onde irei ficar? Disse que seria tratada como vossa majestade é tratada.

— Por favor, me chame de Mykal. Vossa majestade não é um adjetivo que gosto, é como um símbolo de superioridade.

— Mas você é superior, é uma rainha.

— Não gosto de pensar assim. E em questão onde irá ficar, estava pensando em meus próprios aposentos, certamente existe espaço o bastante para nós duas.

— Não mesmo, um quarto a parte.

— Não está na posição de fazer exigências, mas lhe darei, com uma condição, me apresentei por duas vezes e você ainda não me disse seu nome.

— Khione. 

— Certo Khione, te levarei até seu quarto.
Ao contrário do castelo élfico o palacete de Mykal é desprovido de corredores exageradamente grandes e lances de escadas quase infinitos. Um elevador nos leva até o segundo andar do castelo onde andamos pouco mais de dois minutos até chegar em meu quarto.
— Ficará aqui, aconselho não deixar as janelas abertas, estamos na época de frio, e alguns morcegos podem aparecer eventualmente, mesmo não sendo a época do ano que mais amam. Certeza que não quer ficar comigo? Está parte do castelo não é muito visitada e ficar sozinha não é uma boa ideia.

— Acho que consigo me cuidar sozinha. — Digo acendedo uma chama em minhas mãos, agora com muito mais facilidade e sem o auxílio da raiva ou medo.

— Então nos vemos pela manhã. — Me sento na cama que visivelmente não é tão confortável quanto as que Kastian nos proporcionou, nem o quarto é tão luxuoso, mas de certa forma é mais aconchegante. Há uma estante com alguns livros na parede a minha frente, uma garrafa contendo um líquido avermelhado que julgo ser sangue, uma escrivaninha com vários blocos de papel e algumas canetas. Olho pela janela e a vista é amedrontadora, uma neblina envolve todo reino o deixando com um aspecto mortífero. Repouso minha cabeça no travesseiro e sei que ela está vindo.

"O reino mais próximo do inferno, por isso a paisagem, os vampiros a adoram, já que para eles quanto mais sombrio melhor o lugar."

"Áster?"

"Vejo que ligou os fatos, realmente minha filha."

"Lilith, minha irmã, sabe onde estão?"

"Não e mesmo que soubesse você não poderia fazer muita coisa presa a este reino. Sua amiga tomou uma péssima decisão trazendo vocês para cá."

"Sério? Ainda não havia percebido."

"Sabe que pode usar isso a seu favor, sem ninguém para te atrapalhar pode desenvolver seu poder, se tornar mais forte. Uma grande guerra está por vir, e você deve estar preparada para lutar."

"Guerra? Como sabe?"

"Uriel, o capturaram, demônios evitam anjos o máximo que conseguem, uma causa especial exige esse esforço. Sua amiga, Estella, os demônios estavam testando uma nova droga e a usaram de cobaia, assim como muitos outros jovens demônios. Uma droga que neutraliza os poderes de todos os seres místicos os deixando como meros humanos. Eles querem controlar todos os reinos, todas as pedras centrais, e farão de tudo para conseguir. Junte todos como você, os reúna e os convença a lutar ao seu lado, sozinha não irá conseguir, mas com eles tem uma chance, se os demônios vencerem todas as outras espécies serão aniquiladas."

"Como você sabe de tanta coisa?"

"Posso estar presa a você, mas ainda mantenho minha conexão com todos os mundos, consigo por breves momentos me ligar a cada um deles, podendo ouvir e ver tudo o que se passa em cada um."

"Todos como a mim? O que isso quer dizer?"

"No tempo certo você descobrirá."

"Tempo certo, e se o tempo certo for tarde demais? Aliás como a Estella não perdeu seus poderes mesmo depois de receber a droga? Que droga é essa? Como eles a fizeram?"

"Você tem muitas perguntas minha querida, mas infelizmente não posso respondê-las."

"Por que?"

"Por que são coisas que você tem que descobrir por si só Khione, isso te fortalecerá."

"Como? Disse que posso usar esse tempo em Devin para aprender novas coisas, mas não tenho ninguém para me instruir, e por mim mesma sei que não aprenderei nada."

"Eu estou aqui para instrui-la. Finalmente alguma utilidade."

"Pelos céus, você só aparece quando estou inconsciente, não posso treinar inconsciente."

"Por esse motivo devemos trabalhar nossa conexão, para que consigamos nos comunicar como se eu estivesse ao seu lado."

"E como pretende fazer isso?"

"Tente falar comigo quando for dia. Amanhã quando acordar tente falar comigo e eu tentarei falar com você, tentaremos isso por alguns dias se não funcionar teremos que tentar outras táticas. Agora tente dormir um pouco, amanhã temos muita para fazer."

Seis Mundos: Novas OrigensWhere stories live. Discover now