Capítulo Nove

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— Não seria melhor irmos para o galpão de onde a Estella veio primeiro?

— Está sugerindo que cometamos suicídio? Por que até onde eu sei nós não temos como nos defender dos demônios que possam haver lá, e se por algum acaso tivermos por sua parte, mesmo assim, você não sabe sequer atirar uma flecha flamejante, então não, não é melhor irmos até o covil dos demônios.

— Mas você não é um demônio? Sua espécie deveria te acolher. — Digo e ela permanece em silêncio.

— Elphia é por aqui, vamos.

Árvores imensamente grandes ao nosso redor cobrem o luar, fazendo com que tudo seja escuro exceto pela luz que provoco, a qual agora já não é intensa, com o passar das horas grande parte do meu corpo perdeu, suas chamas que se concentram nesse instante somente em minhas mãos e braços, toco uma árvore e minha mão a atravessa, deixando um círculo de fogo.

— Teria como você não deixar rastros de para onde estamos indo Khione?

— Ah, um tempo Psyche.

— É sério? Você acha que isso é brincadeira? — Ela me pega pelo braço me arrastando um pouco mais a frente e aponta em uma direção, e pasmem, ela é incrivelmente forte. Teria como não ser com esses braços? Observo as tatuagens que estão ali, algumas cicatrizes as sobrepõem, foco Khione, foco. Me surpreendo por ela não se queimar com a ação, por mais que não devesse, ela é um demônio, está habituada ao fogo. — Está vendo aquelas luzes ali?

— Sim, por que? — Pergunto.

— São as espadas da sua espécie vindo atrás de você, e com esses rastros que está deixando será muito mais fácil nos acharem.

— Não saberão de qualquer forma que estaremos no reino élfico? Ou acredita que a rainha irá esconder nossa presença?

— Se tudo correr como eu planejo, sim ela irá esconder nossa presença. Então, agora seja mais discreta, ande mais rápido e não toque em nada enquanto as suas mãos também não estiverem normais.

— Com licença, sem querer interromper vocês é claro, mas o que faremos com ele? - Olhamos para o lado e um anjo está caído no chão.

— O que você fez?

— Foi por puro reflexo, ele ia me agarrar, meu soco pode ter saído um pouco mais forte que o planejado, nem sabia que tinha tanta força, pelo menos não para desmaiar um anjo.

— Corram, se um deles já estava aqui os outros não devem estar mais tão longe quanto a alguns minutos. — Começamos a correr e segundos depois piso em uma armadilha, o que me faz urrar de dor

— Malditos elfos! — Grita Psyche. — Estamos perto do portal, eu deveria saber disso.

— Você está bem Khione? — Estella pergunta preocupada agachada ao meu lado.

— Não, isso está perfurando o meu tornozelo, e com muita força. — Os espinhos de metal afundam-se cada vez mais em minha carne.

— Coloque as mãos no metal, ele irá derreter.

— E também irá se juntar a minha pele, não, obrigada.

— E temos outra escolha?

— Sim, temos. — Psyche tem em uma espada e vem em minha direção.

— O que você vai fazer? — Indago assustada.

— Se afaste Estella.

— Psyche eu estou ficando com medo, o que você vai fazer? — Ela segura a espada acima dos ombros e abaixa com toda força contra a corrente que prende a armadilha ao chão.

— Pronto, agora vamos tirar isso daqui. — Ela se aproxima e segura cada parte da estrutura de metal puxando as duas partes simultaneamente a quebrando. O sangue escorre e uma dor aguda se espalha por toda extensão de minha perna, tenho certeza de que não conseguirei andar, mas mesmo assim tento firmar o pé, apoio pouco peso pendendo para um lado, mas mesmo assim é impossível dar um passo sequer.

— Não consigo.

— Deixe-me te ajudar. — Ela dá um sorriso de canto e se aproxima mais uma vez, me pegando em seu colo.

— Segure firme. — Diz e começa a correr novamente. Minha atenção se volta a seu corpo, seu rosto. Três cicatrizes que atravessam seu olho esquerdo são visíveis, isso de uma forma inexplicável a deixa mais atraente, sua boca bem desenhada e carnuda, seus olhos castanhos e seu tom de pelo negro, sem dúvidas umas das mais belas mulheres que já vi, e aqui estou eu sendo carregada em seus braços, por um péssimo motivo mas ainda assim em seus belos braços. Preciso controlar esses pensamentos.

— Chegamos ao portal, Estella só atravesse, como se não houvesse nada a sua frente, estaremos logo atrás de você. — Ela atravessa e sinto uma espécie de parede se chocando contra meu corpo, logo em seguida caímos no chão de Elphia, para nossa sorte há guardas para todos os lados, que imediatamente nos cercam.

— Com a permissão de quem entraram?

— Diga a Kastian que estamos aqui.

— Quem é você para chamar vossa alteza pelo nome?

— Me levem até ela, sabe quem é. — Ela pisca para os guardas que nos levam até o palácio e a sala do trono.

— Psyche! — Exclama tentando disfarçar a felicidade.

— Kastian. — Diz subindo até o trono.

— Pensei que havia se esquecido de mim, não vem me ver a tanto tempo. — Ela desliza as mãos pelos ombros de Psyche, movimentos dos quais tenho aversão.

— Me esquecer de você? Sabe que seria impossível depois daquela noite. — Sorri. Depois de que noite? Sinto vontade de perguntar, mas não seria apropriado e muito menos da minha conta.

— Realmente. — Diz se levantando e beijando seus lábios.

— Gostaria de estar aqui somente para te ver Kastian, mas preciso de um favor.

— Continue. — Diz arqueando as sobrancelhas.

— Elas estão sendo perseguidas por anjos, e como estou encarregada de cuidar de ambas estão atrás de mim também, queremos ficar aqui até termos ideia de para onde ir, se pudesse ocultar nossa presença seria de grande ajuda. Ah, antes que me esqueça, pode trazer um curandeiro para ela? — Fala apontando em minha direção.

— Pois bem, assim será feito, mas grandes pedidos exigem grandes recompensas, o que ganho em troca?

— Peça o que quiser e eu te darei. - Diz. Kastian aproxima-se de seu ouvido e sussurra algo.

— Você terá. - Psyche afasta a cabeça. A rainha está com um sorriso vencedor no rosto, como se acabasse de ganhar uma batalha.

— São bem-vindas em meu reino, podem seguir meus guardas até seus aposentos, menos você é claro Psyche, você tem uma dívida a ser quitada. Antes de irem, Khione certo? Venha até aqui, darei um jeito nesse tornozelo. — Diz lançando um olhar intenso. Chego perto do trono e com um toque ela faz o sangramento parar e consigo andar como se nunca houvesse me machucado.

— Podem ir, amanhã encontro vocês, só tomem cuidado com as diversas plantas e cobras que essa bela rainha ama colecionar.

— Guardas! — Kastian grita. — Mostrem o quarto onde irão ficar.




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