The Condemned

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A lasanha saiu do forno exalando ainda um pouco de fumaça. A forma segurada pelas bordas e com cuidado por mão cobertas por luvas da senhora Graim, que quase forçando simpatia, se apresentou à mesa bem ocupada e faminta, de pescocinhos se inclinando para enxergar a maravilha suculenta:

- Quem está com fome? -Chutou a tampa do forno de volta com jeitinho e rapidinha, alcançou a mesa, depositando a forma que arrancou suspiros de todos os outros cinco presentes. - Bem, vão me passando os pratos que eu mesma sirvo.

- Não precisa, mãe, pode deixar que a gente se serve. -Afirmou Edward.

- Ah, que nada! Deixa comigo. É tão bom ter a casa cheia. -O comentário que era pra ser alegre surgiu num tom melancólico. O jeito em que ela marcou os rostinhos que esperavam para comer, fazia Ed notar que ela disfarçava, escondendo o sentimento ou engolindo as palavras mentais de estar faltando alguém. Dylan, é claro, é quem fazia falta na mesa. Tinha seu lugar ocupado hoje por Kirstin Abernathy, namorada de Edward.

Para Ed, o irmão ainda tinha presença. Mesmo que fosse discreta logo atrás dele, sorridente numa foto posta sobre uma cômoda lotada de enfeites na sala de jantar. Quase se virou para olhar, mas se conteve. Se o fizesse, a mãe o faria também. Kirstin, por estar mais perto da ponta, ergueu o prato que foi gentilmente recebido pela Senhora Graim, ou Nora, seu primeiro nome. Ela serviu um pedaço generoso à garota, devolvendo-lhe com muito cuidado:

- Pegue pelas bordas, está quente. Fica a dica para assoprar, querida.

- Obrigada, Nora. -Sorriu a menina, alegre. - Tá com uma cara ótima.

- Gosta mesmo de Lasanha?

- Adoro.

- Então acho que vai adorar a minha. Ed e... -Engoliu. - Edward sempre adorou. Se vocês tem mesmo tantos gostos em comum como eu acho, tenho certeza que você vai ficar louca com a minha lasanha.

- Aposto. -Riu, sem jeito.

Notável apenas aos atentos, foi como o Pai de Ed de frente a ele, trouxe uma certa preocupação no semblante quando a esposa por pouco não deixou o nome do falecido filho escapar, recostando-se na cadeira em alívio ao ver que não aconteceu. O fato não era de ignorância para Kirstin. Ela sabia. Como namorado, Ed havia lhe contado tudo sobre sua vida. Das conquistas às perdas. Ela apenas fingia não perceber assim como ele havia pedido. Não que a memória do irmão fosse algo que trouxesse negatividade, apenas quebraria o clima agradável de fachada que Nora lutava para manter. A última coisa que o almoço precisaria, era uma lasanha banhada em lágrimas ao invés de molho de tomate. Conforme os pratos eram passados e entregues para serem servidos, Ed notou os outros dois convidados, o primo sentado ao seu lado: Jesse, de dezesseis anos, que começara a jornada no colegial em Ashville High e a outra era a mãe dele, no caso, sua tia Amber.

Jesse era claramente gay. Não que a aparência denunciasse, exceto talvez pela voz um pouco afinada. Porém, é um fato que nunca escondeu. Na verdade, foi um choque para ele aos doze anos quando descobriu que nem todas as pessoas reagiam bem à sexualidade alheia. Se declarou amorosamente para um coleguinha na escola apenas para ser motivo de chacota, ofensas e o tão famoso Bullying dos demais. O modo como foi criado por uma mãe tão liberal, tolerante e "descolada" que nunca tratou assunto nenhum como tabu dentro de casa e sempre o recompensou com aceitação, o fez pensar que todas as outras famílias eram iguais. Aos doze, não tinha noção do quão preconceituosa e limitante eram as crenças daqueles que os cercavam como vizinhos e colegas de classe. Levou um ano e muita briga na diretoria da escola para que Amber assegurasse o bem estar do filho e tornasse intolerável qualquer tipo de discriminação para com ele. Um aluno gay no ensino médio sempre foi um pouco complicado dependendo das circunstâncias. Mas no ensino fundamental, é sempre uma situação mais delicada.

Scream - Survival 3Where stories live. Discover now