The Ex-orcist

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O dia na escola não estava fácil para os amigos que de repente foram postos no olho do furacão, lamentando a perda traumática de uma querida amiga. A aula de educação física cheirava a enterro, dava pra sentir a mágoa pairando no ar sobre os jogadores de futebol mal fazendo esforço para correr. Volta e meia alguém da classe era visto chorando, como acontecia agora mesmo com Mackenzie e Mary Anne, ambas abaixo da arquibancada escondidas entre as vigas de ferro, abraçadas em pranto para não mostrarem as lágrimas.

Num dos últimos patamares da arquibancada, a mesma que um dia fora usada pela assim chamada "Gangue das 5" entre risos e deboche, hoje estava Jesse. Por fora assistia a ação acontecendo no campo mas com a mente em outro lugar completamente. Palmas, apitos e impactos de chutes dados na bola eram abafados pela tristeza de um adolescente inconformado vivendo um pesadelo. Todo mundo de Ashville High tinha conhecimento de que ele e os amigos foram convocados para a delegacia hoje de manhã. Quem precisa de fofoqueiros habituais quando as redes sociais fazem o trabalho sozinhas? E não havia ninguém para culpar. Natalie Shoya foi morta e uma parte do coração do grupo de amigos morreu junto. Sentado de olhar fixo e estático, Jesse era acompanhado de Zack que mesmo estando em situação similar, ficou ali por ele.

- Isso não tá acontecendo. -Disse Jesse.

- Quer desabafar?

- Quanto mais eu falo, mais eu choro... Acho que não é uma boa ideia.

- Vamos. -Zack se encostou no amigo, dando nele um pequeno empurrãozinho com o ombro. - Não guarda isso dentro de você, é pior.

Jesse queria falar e esse era o problema. Foi quase automático, as lágrimas desceram junto ao toque do amigo. Tentou conter em vão, se entregando com o rosto virado para o outro lado em vergonha. Para ele, seu choro era um incômodo pro amigo e do qual queria poupa-lo. O resultado foi Zack se arrastar de lado, ficando ainda mais perto e colado:

- Jesse... Me dói te ver assim, cara. Fala comigo. -Abaixou o tom de voz, manso.

Enxugando as lágrimas com força, retrucou:

- O que quer que eu diga?

- O que precisa dizer?

Numa pausa, Jesse ponderou a situação. O coração gritou de modo a atrapalhar o raciocínio e do jeito que tudo dava a entender estar perdido, sucumbiu:

- Zack, eu... -Suspirou, incerto.

- Sem pressa.

- Eu não posso. Isso é tudo um horror. Eu tenho tanto medo de tudo. Ontem eu acordei e vim pra escola sabendo exatamente que tipo de dia eu teria. Hoje eu acordei e vim pra escola com o sentimento de que eu posso não estar aqui amanhã.

- Tá pensando em largar tudo por um tempo?

- Não... Tô falando de morte. A Natalie... -Segurou uma onda de choro respirando fundo. - Eu tenho tanto medo do que pode acontecer. Se tem um louco à solta mirando na gente, eu... Eu não sei o que fazer ou qual o próximo passo a tomar. Eu tenho medo de dormir e alguém me matar no meio da noite, tenho medo de continuar acordado e ver o quanto tudo isso é real e não só um devaneio, uma história, um livro... Esse tipo de coisa não deveria acontecer na vida real. Como assim alguém bota uma fantasia e sai matando?! Isso... é um filme de terror. Quando aqueles detetives mostraram a foto daquela fantasia, eu pirei.

- Jesse, o que aconteceu não foi culpa sua.

- Ah, por favor, não me joga o clichê de "Não tem nada que você poderia ter feito", Zack. Eu sei muito bem que nada podia ser feito. As coisas aconteceram desse jeito, eu não quero ficar me culpando senão vou ficar louco. Mas tenho medo de morrer. E tenho medo de perder vocês. -Parou mudo por um segundo antes de finalmente dizer: - Tenho medo de perder você.

Scream - Survival 3Where stories live. Discover now