A Normal Day For The Ones With No Choice

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O departamento de polícia de Ashville tinha um dia estranhamente monótono. Os homens e mulheres da lei faziam seu serviço nas mesas quietos e concentrados, volta e meia atendendo ligações inúteis de moradores geralmente idosos, reclamando de barulhos como latidos de cães vizinhos ou crianças que quebraram um pedaço de suas cercas. Desde os infames assassinatos em 2012, Ashville tinha voltado a ser a cidade onde nada nunca acontece. Um pacífico oásis entre as montanhas de Ohio em mais uma transição de outono onde a maior ofensa deviam ser algumas chuvas fortes ou as festinhas às escondidas dadas pelos adolescentes do colegial.

A nova Xerife é uma veterana do departamento de polícia, Tamra Harleck. Por volta dos quarenta, quase cinquenta anos mas ninguém tinha coragem de perguntar. Quadris largos acentuados pelo uniforme que lhe davam uma aparência quadrada. Cabelos curtos que mal apareciam debaixo do boné brega com uma estrela dourada estampada. Um copo de café numa mão e a outra estendida para cumprimentar os detetives que vinham invadir sua autoridade: Andrew Krempler e Beth Lingard, ambos de terno e caras feias, parecendo desdenhar o departamento inteiro. A Xerife por outro lado, transpareceu simpatia nas boas vindas, ainda que falsa:

- Detetives Krempler e Lingard, bem vindos novamente.

Deram as mãos ao cumprimento, respectivamente.

- Xerife Harleck. -Respondeu Beth em seu aperto, sendo a única. Andrew preferiu fazer a linha dura e cumprimentá-la calado.

- É um prazer recebê-los, obrigada. Aceitam um café?

- Sim.

- Não. -Cortou Andrew, para o desgosto nítido da parceira. - Como vai o dia? Já conseguiram entrevistar os alunos de Ashville High?

- Pulando as preliminares, Detetive? Ok.

- Conseguiram?

- Ainda não.

- Seu pessoal é tão lerdo ao ponto de furarem um pergunta e resposta com adolescentes, Xerife?

- Motivos de força maior. Houve um... -Pigarreou, desconsertada. - Vazamento na escola. Um dos banheiros estava com problemas e... Bom, os corredores e salas de aula foram inundados. Os alunos foram dispensados e não há nada que possamos fazer no momento a não ser bater nas portas e ir de casa em casa fazendo perguntas. O que certamente não vai acontecer, pois além de não ser prático, até terminarmos, já pode haver outro assassinato segundo sua linha de investigação.

- Ótimo. -Ele tascou a pasta que carregava contra uma mesinha ao lado, onde um Oficial que teclava frenético diante do computador disfarçou um pulo de susto, envergonhado. - E os alunos sabiam que seriam interrogados?

- Sim, eles sabiam.

- Mais um motivo para ter segurado eles.

- Não posso manter um aluno na escola depois do período de aulas e a escola não pode obrigá-los a permanecer caso não haja estrutura ou estejam à mercê de acontecimentos como este, que tornam impossível lecionar. Vou repetir, um andar inteiro foi inundado.

- Tenho certeza que dadas as circunstâncias, todos entenderiam, Xerife. Só que é arriscado deixá-los "escapar" assim tão fácil, ainda mais por um incidente que pode muito bem ter sido obra de um aluno tentando evitar a entrevista. Não pensou nisso?

- Pensei em um milhão de coisas e soluções, Detetive. No entanto, nada que fosse prático, são ou correto.

- Só o que faltava.

- Tem certeza de que não quer um café?

- Já disse que não.

- Não, não você. Quer um café, Agente Lingard?

Scream - Survival 3Where stories live. Discover now