XXXIII - O Homem de Lata & A Inocência

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N/A: Marcus Göretz na capa.
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PLAY — Deep Under by Eyídis Evensen


Narrador Point's of View

Dedos passeavam pelo piano tranquilamente, enquanto olhos fechados sentiam a melodia com calma, mesmo que não praticasse como antes, ainda era boa a sua maneira.

Sem que percebesse, passos fizeram-se presente, até que o corpo maior e másculo sentasse ao seu lado, dando vida a figura de Marcus Göretz. Ainda silencioso, intrometeu-se na melodia, tocando-a junto com a melhor amiga e assim dando profundidade aos sons, graves, discretos, como se conversassem através das notas musicais.

Ela era a suavidade e ele a agressividade, ela era o equilíbrio e ele o extremo oposto.

De olhos fechados, ambos, permanceram assim até que a melodia pudesse encontrar suas notas mais baixas novamente, no entanto não paravam de deslizar os dedos pelo teclado tingido de preto e branco.

Você se lembra da história do homem de lata? — Marcus começou gentilmente, embora a voz grossa lhe desse naturalmente um ar mal encarado e intimidante.

Camila parou de tocar, finalmente mirando o olhar rumo ao melhor amigo, que permaneceu tocando a melodia por ela, era um pouco mais veloz no quesito habilidade inclusive.

A latina sorriu ao relembrar das vezes em que presenciara o mesmo ainda criança tocando ao lado de seu avô Charles, enquanto ambos esperavam pelos biscoitos que Elizabeth assava aos fins de semana.

— Sim, O Mágico de Oz.

Exato. Ao chegar na cidade de Esmeralda, o homem de lata pediu um coração. — Ergueu o rosto, mas mantinha as pálpebras fechadas, somente sentindo as notas que voavam ambiente a fora. — É engraçado pensar como ele queria um coração,  enquanto nós seres humanos temos um e por muitas vezes insistimos em não utilizarmos, embora seja em vão: ele sempre funciona. Nós tentamos fugir de nossos desejos, de nossos medos, de nossos vícios, de nossas vaidades, de nossos amores, sejam eles românticos ou não, tentamos fugir de tudo que faça o nosso coração acelerar e consequentemente nos relembrar de que ele está ali, batendo todos os dias, até que... Ele pare de bater e consequentemente de sentir. E então você se transforma em um homem de lata: Um ser procurando sentir novamente tudo aquilo que buscou por uma vida toda reprimir.

Silêncio e um par de olhos castanhos marejados.

Você não está bem Camila, ele não está te fazendo bem e numa tentativa falha de fazer vocês dois tentarem dar certo, você está reprimindo seus sentimentos para que possa continuar com ele, porque sentir todas as oscilações emocionais que ele trás tem te matado por dentro todos os dias. — Parou de tocar, desviando o olhar azul rumo a figura mais nova, que encarava o próprio colo. — Não seja um homem de lata, Camila.

— "E você, meu amigo galvanizado, você quer um coração. Você não sabe o quão sortudo és por não ter um. Corações nunca serão práticos enquanto não forem feitos para não se partirem" — Rebateu recitando uma das frases mais marcantes do clássico, retornando a tocar a melodia por conta própria e sozinha, batendo nas teclas com firmeza e força, enquanto lembrava-se também de...

Lauren Jauregui.

— É desesperador querer ajudar e saber que não posso, que no fim é você por você e suas escolhas. — Cobriu o ombro menor com a palma, apertando num afego singelo e caridoso. — É ela.

Camila - Camren Onde as histórias ganham vida. Descobre agora