Capítulo VIII

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Alicia Gusman

Quando Paulo disse que eu estava bonita com o cabelo roxo, não consegui entender se ele estava falando sério ou apenas brincando com a minha cara. Resolvi não perguntar e apenas sair correndo atrás dele, como fazia quando éramos pequenos.

E então, do nada, ele caiu (ou se jogou, não sei ao certo). Eu estava tão próxima dele, que não consegui parar de correr e acabei caindo em cima de seu corpo forte.

Me apoio em seus ombros e olho em seus penetrantes olhos castanhos, que pareciam ler a minha alma. Eu sentia sua respiração se misturar com a minha e o seu cheiro amadeirado me invadia. Ele coloca as suas mãos fortes em minha cintura e eu sinto um arrepio subir pelo meu corpo.

Nós estávamos em um transe. A cada segundo nossas bocas se aproximavam mais e tudo que eu mais queria era acabar com a distância entre elas. Mas daí, tomei consciência e percebi o que estava acontecendo.

— O que você pensa que está fazendo? — Eu disse, me afastando um pouco, mas não saindo de cima dele. Senti as mãos em minha cintura se afrouxarem, mas ele não as tirou dali.

— Eu só estava sentindo o momento, Aliciazinha! — Ele falou e por dentro fiquei feliz por ele ter sentido o momento também, mas não poderia demonstrar isso. O garoto me evita por dois dias completos e agora vem com essa palhaçada? Tá de brincadeira comigo?

— Você não fala comigo por dois dias e agora vem dizer que estava sentindo o momento? — Eu falo com uma nota de irritação na voz. O garoto me encara perplexo. — Você é ainda mais idiota do que eu pensei.

Dito isso, tiro suas mãos da minha cintura e me levanto rapidamente, correndo pra longe do garoto escroto. Eu sinto o seu olhar nas minhas costas, mas não me dou o trabalho de me virar.

Entro como um furacão no dormitório feminino e as garotas que ainda estavam surtando por conta de seus cabelos me olham atônitas.

— O que aconteceu? — Marcelina diz, vendo minha expressão de confusão. — O que o meu irmão fez? Eu vou matar aquele estúpido!

— Tá tudo bem, Marce! Não se preocupa com isso, só estou meio confusa. — Eu digo e ela coloca a mão sobre meu ombro, fazendo um carinho reconfortante.

Como essa garota poderia ser tão doce e simpática e seu irmão, filho dos mesmos pais, com o mesmo sangue nas veias, era o completo oposto? Essa era uma charada que eu jamais conseguiria desvendar.

Depois de algumas horas, as garotas conseguiram tirar a tinta de seus cabelos, mas eu mantive a coloração. Sendo sincera, eu até que gostei das mechas roxas. E então, quando era quase uma da tarde, fomos todas ao refeitório comer o almoço.

— Achei que a tinta duraria mais! — Mário fala, sentando em nossa mesa ao lado da Marcelina.

— Você estava envolvido nisso, seu babaca? — Ela pergunta, fuzilando-o com raiva.

— Claro que não, princesa! Eu nunca faria algo assim com você! — Ele fala rapidamente, mas não convence a garota, que levanta brava e sai do refeitório. — Que merda!

— Se você dar uma rosa branca pra Marce, ela já esquece! É sua flor favorita. — Eu falo, percebendo que o garoto não sabia o que fazer.

— Valeu, Alicia. Você é demais! — Ele diz e me dá um meio abraço, logo saindo correndo até o jardim de flores.

Paulo Guerra

— Ela disse que uma rosa branca resolve o problema! — Mário me diz, fazendo-me ter uma ideia.

— A Marcelina é boba, vai te desculpar em dois segundos. — Eu digo e o Ayala abre um sorriso satisfeito. Nós vamos juntos até o jardim de flores e ficamos mais de meia hora tentando achar as rosas brancas.

Quando encontramos, elas realmente eram lindas. Mário escolhe uma e sai rápido dali, indo à procura da minha irmã.

Eu sento em um banco de pedra com uma rosa na mão, observando a beleza da flor. Era tão delicada, mas tinha tantos espinhos. Me lembrava de uma garota especial.

Eu respiro fundo, pensando se realmente deveria fazer isso. Tomo a minha decisão e saio a procura da garota que estava tentando roubar o meu coração.

Fico uma hora procura. Uma maldita hora tentando achar aquela menina, mas ela não estava em lugar nenhum. Parecia que tinha evaporado.

Perguntei a todo mundo se a tinham visto mas ninguém sabia onde ela tinha se metido. Passei por todos os lugares do acampamento pelo menos duas vezes, mas ela não estava em lugar nenhum.

A preocupação começa tomar conta de mim e eu finalmente resolvo ir procurá-la na floresta. Ando em direção as altas árvores e fico uns 10 minutos vendo apenas troncos, galhos e insetos bisonhos. Mas então, vejo uma clareira um pouco distante.

Vou me aproximando lentamente para não fazer muito barulho e quando adentro o local, vejo Alicia com os olhos fechados, parecendo pensar sobre algo.

— Ahn, oi... — Eu digo, sentando ao seu lado e colocando a rosa atrás de mim. Ela se sobressalta e me olha assustada.

— Nossa, Paulo. Você me assustou! — Ela fala, mas parecia um pouco alheia a minha presença. A garota volta a fechar os olhos e fazer o mesmo de antes.

— Eu queria... te entregar uma coisa. Como uma oferta de paz. — Eu digo e ela me olha novamente. Pego a flor das minhas costas e entrego para a garota, que abre um sorriso cômico.

— A flor favorita da Marcelina é a rosa branca, não a minha. — Ela diz, parecendo perceber que eu tinha roubado essa dica do Mário.

— Então qual é a sua flor favorita? — Eu pergunto, fazendo-a me olhar surpresa.

— Dente-de-leão! — Ela fala, fazendo com que um sorriso se abra no meu rosto. É a cara dela.

— Aqueles anjinhos que a gente assopra pra fazer pedidos? — Eu pergunto e ela assente com a cabeça.

— Quando a minha avó era viva, nós costumávamos ficar horas aqui na floresta procurando essas flores. Era a parte mais divertida de vir para cá. — Ela diz com o semblante sério, mas com um sorriso nos olhos. Ficamos alguns segundos em silêncio, apenas nos encarando.

— Você quer procurar dentes-de-leão comigo, Alicia? — Eu pergunto, deixando a rosa branca de lado e erguendo a mão para ela pegar.

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Seria isso um ato de romantismo
vindo do PAULO GURRA?
Espero que estejam gostando da história! Obrigada por
terem lido até aqui!

Com carinho, R.

Maybe it's love - Paulicia Where stories live. Discover now