𝟕. Luto

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Três taças de vinho e um turbilhão de exames sobre a mesa de centro da sala não foram suficientes para embriaga-la ou distrair a mente conturbada de Natalie

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Três taças de vinho e um turbilhão de exames sobre a mesa de centro da sala não foram suficientes para embriaga-la ou distrair a mente conturbada de Natalie. Se sentia sozinha e triste, como sempre estava naquela mesma data há exatos quatro anos.

O dia que recebeu o telefonema. O dia que sua vida mudou drasticamente. O dia que ficou juridicamente viúva. O dia que Olívia perdeu o pai.

Quando despertou naquela manhã, a única vontade que possuía era de continuar na cama e ignorar o mundo, mas tinha que assumir o papel de mãe e cuidar de Olívia. Precisava agir naturalmente e evitar qualquer tipo de coisa que pudesse lembrar sua pequena daquela data tempestuosa.

Frank ajudou nesse quesito, distraindo a menina enquanto cumpria com a carona matinal. Ela adorava ver a filha entretida nos diálogos criativos que ambos mantinham e mal conseguia compreender como ele, um homem divorciado e sem filhos, mergulhava de cabeça no mundinho cor de rosa que Ollie morava. De qualquer forma, Natalie se sentia grata pelo carinho que criaram um pelo outro.

Infelizmente sua paz não reinou por muito tempo. Horas após o almoço, quando a seguradora finalmente deixou o carro no estacionamento do hospital, Natalie precisou abandonar uma ronda para atender a ligação de Yelena, após muita insistência da mesma. O medo de algo ter acontecido com a Olívia a possuiu, mas tudo estava normal, tirando o fato da menina estar em uma crise de choro por lembrar a data de óbito do pai.

Tentou falar com ela por telefone, videochamada, nada adiantou. As lágrimas continuaram incessantes a ponto de Natalie pedir para doutora Hill assumir o resto do seu dia e correr para o mercado mais próximo, rezando para ter sorvete de flocos no estoque.

Não conseguiu subir para o apartamento de imediato. Ainda dentro do carro, Natalie precisou de uns instantes para tomar fôlego e pedir sabedoria aos céus para agir da melhor forma com sua filha, mas tudo que conseguiu foi chorar.

O peito doía enquanto descontava sua frustração no volante, desejando que tudo aquilo fosse apenas um pesadelo e que John estaria aos risos com sua filha a aguardando para uma recepção calorosa de beijos. Mas infelizmente tudo era real, assim com o luto que habitava o seu peito.

Analisando os dados de alguns prontuários, Natalie desviou o olhar para a taça vazia, questionando para si mesma se deveria enchê-la novamente. Estaria de folga no dia seguinte, não seria problema lidar com uma mera dor de cabeça resultante da ressaca, mas não queria dar espaço para mais uma dor.

Ela desistiu do vinho e foi até a geladeira, retirando o pote do freezer e uma colher da gaveta. Levou um pouco do sorvete a boca e tentou se satisfazer com o doce que derretia em sua língua, mas isso a deixou ainda mais triste. Sorvete era a sobremesa favorita de John.

Batidas na porta despertaram sua atenção, checando rapidamente o relógio digital do microondas que marcava oito horas da noite. Não aguardava visitas, por algum milagre Olívia já estava dormindo e Yelena tinha um trabalho acadêmico importante para concluir.

RUN with ME | romanogersWhere stories live. Discover now