chapter two

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Acordei as 8 horas da manhã pra ir para escola. Era meu primeiro dia de aula no sexto ano. Eu estava muito ansioso, feliz e com medo. Por mais que esteja feliz, eu tenho medo do que possa acontecer comigo.

Levantei rápido porque queria ir falar com minha mamãe, e ver se ela podia me acalmar, ultimamente eu tenho estado muito animado e agitado para algumas coisas. Nunca fui assim, não sei o que aconteceu, mas até que gosto desse novo Harry.

Fui ao banheiro, escovei os dentes e fiz minhas necessidades, desci as escadas correndo e não levei bronca da Gemma, minha irmã, falando que eu ia cair igual ela e quebrar o dente.

Cheguei na cozinha e mamãe, papai e Gemma estavam lá. Meu papai não é meu pai de verdade, ele é meu padrasto, mas não gosto desse apelido, então chamo ele de pai. Quando eu falei "oi pai, eu deixei meu cabelo crescer pra ficar igual o seu", ele e mamãe choraram, pensei que tinha feito algo errado e comecei a chorar junto. Deu tudo certo.

-Bom dia querido- mamãe falou me tirando das nuvens.

-Bom dia mamãe, papai e Gem- falei dando um beijinho na bochecha de cada um. Gemma fez um barulho tipo "ewww" e mamãe brigou com ela. Bobinha.

-Filho, você está animado para o primeiro dia de aula? Sabe que se acontecer alguma coisa, pode me ligar né? Ou pedir para secretária me ligar, eu vou te buscar na hora ok?- Papai falou. E eu me sinto meio sufocado todo ano, eles sempre falam isso, e eu sei que é pra me proteger, mas eu não tenho culpa se o Gregory me bateu ano passado. Até agora não sei o motivo de ter apanhado, acho que foi por causa do moletom rosa. Não sei.

-Está tudo bem papai, eu sei que posso ligar ou pedir ajuda, não se preocupe.

-Sei como esse assunto te incomoda, então suba, troque de roupa e vamos para escola, está na hora.

X

Na escola, eu conheci Niall. Ele é irlandês acho, não entendi direito, ele fala rápido e da muita risada. Eu gostei dele, somos melhores amigos agora.

Até que o primeiro dia foi legal, as professoras fizeram uma brincadeira para conhecermos nossos colegas, e para elas nos conhecerem.

Tem um menino chamado Louis. Ele é baixinho, e tem olho azul. Aqueles olhos tem cor de oceano, céu, e picolé pinta língua. Ele é bem quietinho, mas gostei dele. Talvez possamos ser amigos.

X

Cheguei em casa, falei com meus pais sobre Niall, Louis e ou outros coleguinhas. Eles querem conhecer Niall, já que foi o único amigo que fiz na escola, desde o pré.

Tomei banho, fiz as tarefas, assisti um pouco de televisão e desci para jantar. Ultimamente minhas noites tem sido agitadas, eu começo a soar frio e até mesmo gritar por ajuda. Mamãe fala que é por causa do trauma passado. Papai fala que é por causa da mudança repentina de cidade, onde eu tinha amigos. Gemma não fala nada, só vem e me abraça.

No dia seguinte foi a mesma coisa, aulas, brincadeiras, Niall tagarelando e rindo de uma mosca, as professoras explicando a matéria e Louis. Ele não foi na escola hoje. Perguntei a Niall se ele viu e ele respondeu algo que me deixou curioso

-Nini, você viu o Louis hoje?

-Quem?

-O Louis, o garoto de olhos azuis, baixinho, que tem o cabelo arrumadinho pro lado

-Não tem nenhum Louis na escola, Hazz, certeza que você não assistiu desenho demais?

-É é pode ser

Não podia ser. Eu vi ele. Ele me viu. Nossos olhos se encontraram. Eu vi Louis. Eu sei que vi.

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Todos os dias depois daquele dia, depois do sumiço de Louis, eu passei as piores noites da minha vida. Eu não tinha percebido, mas havia me afastado de todos, vinha perdendo a memória, dificuldade em me concentrar em coisas pequenas e me irritado muito. Foram exatos seis meses. Seis meses pra eu perceber que escutava vozes, que elas falavam comigo. Seis meses para perceber que tinha um problema.

Em uma dessas noites, eu acordei gritando o nome de Louis, mamãe e papai vieram correndo até meu quarto e resolveram me levar ao hospital. Eles explicaram que isso já vinha acontecendo a muito tempo, então fiz uma tomografia, e exame de sangue. Odeio agulhas.

Ficamos umas cinco horas na sala de espera, até o médico chamar os Styles. Meu nome é legal, vem de estilo, Harry Estilo. Que engraçado.

Sentamos em frente ao médico, a cara dele não tá bonita. O nome dele é Liam. Ele é bonito. Ele começou a explicar o que havia de errado, mas eu não conseguia prestar atenção, não quando ele disse o que eu tinha.

Tudo ficou preto, eu tremia, chorava, escutava vozes, escutava mamãe chorando, papai tentando me acalmar e acalmar ela. Tudo isso pra descobrir, que tenho esquizofrenia.

X

Depois da grande descoberta, algumas coisas mudaram, por exemplo, eu escuto mais vozes, tenho mais crises e as vezes nem como ou durmo. Eu tenho medo. Tenho medo do que possa acontecer se eu dormir, e se eu comer as vozes falam que é errado.

Hoje é dia de consulta com o Liam. Ele vem me ajudando muito ultimamente, e também vou a psicóloga, Madison, ela é bonita. Acho que namora o doutor Liam, não sei, talvez, gosto deles juntos. Mad, me ajuda a acalmar as vozes no meio da crise e a entender que preciso comer e dormir. As vezes falamos sobre Louis.

Louis.

Não vejo ele a meses, ele sumiu, é como se nunca tivesse existido, apenas na minha cabeça, como se fosse uma voz ou algo parecido.

Deixei esses pensamentos de lado, e fui tomar banho. Daqui alguns meses eu faço onze anos. Já vou ser um garotinho. Mamãe falou que posso ganhar uma câmera. Papai falou que vou ganhar livros. Eu amo livros, eles são meu ponto de paz.

X

Cheguei no consultório, e sempre fico perdido em como ele é grande e bonito, as paredes tem uma cor clara de azul e amarelo, gosto de azul, me lembra o oceano.

Fui tirado dos meus pensamentos quando Liam apareceu na porta me chamando. Entrei e sentei na cadeira.

-Hey Harry, como estamos?

-Oi Doutor, eu to bem, as vezes tenho crise e as vozes atrapalham, e você?- Sei que muito pacientes não perguntam como o doutor está, e muitos não gostam disso, mas é meu jeito, e Liam entende.

-Eu estou bem, obrigado. Tudo bem, vamos ver o que essa cabeça está trabalhando no momento e como você está progredindo.

Vai fazer um mês que Liam e eu, trabalhamos juntos nessa área de esquizofrenia, ele já sabe tudo sobre, mas eu preciso entender, eu quero entender. Ele ficou meio chocado no início, mas eu não gosto de entrar em algo sem saber sobre. Então estamos aqui, na radiografia pra ver como meu cérebro está lidando com tudo isso.

Mamãe fala que sou um garoto muito forte, porque além de ter uma doença pesada, eu tenho vontade de saber sobre. Nunca vou entender o porque ela acha isso, se eu fosse forte, não estaria doente né? Gemma acha que eu estou lidando bem, que não tive algo grande o suficiente pra entrar em desespero. Eu concordo com ela, mas as vezes quero jogá-la da escada.

Terminei a consulta e agradeci o doutor por ter paciência comigo, aliás, eu sou uma criança de dez anos, querendo entende uma doença incrivelmente complicada.

Entendi que as vozes vem do nada. São como chuva, vento ou dor de cabeça, elas só aparecem e cabe a você conseguir se proteger. Mas isso não aconteceu, não consegui me proteger dessa crise, dessas vozes, da voz dele.

Louis. Ele voltou. Pelo menos na minha cabeça ele existe. Não consigo enxergar ele, mas consigo ouvir e sentir. Isso é bom.

Ele está me chamando. Mas não consigo responder. Ele sabe que eu já estudei com ele? Ou que eu já vi ele? Será que ele sabe que eu existo na vida real???

Ao longo desses anos, eu me arrumei. Arrumei minha vida e minha cabeça, as vozes continuam aqui, Louis continua aqui, mas nós conversamos, eu consigo falar e ele escuta, ele pergunta e eu respondo.

Somos amigos como eu falei que seríamos.

Imaginations of the heart. {l.s}Where stories live. Discover now