chapter fourteen

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⚠️automutilação e tentativa de suicídio

Uma semana. Fazia uma semana desde que voltamos de viagem e uma semana que não via ou falava com Louis

Depois dele falar que queria pintar meu corpo, eu tirei a camisa e deitei na grama, William chegou com pincéis e tintas e pintou A Noite Estrelada de Van Gogh em minhas costas.

No dia seguinte, nós viemos embora. E desde então, não consigo falar com ele. Liam e Zayn falam que ele está bem, que isso sempre acontece nessa época do ano, lembrei que era por causa de sua família.

Como não sabia o dia exato do acidente, e já estava muito preocupado, peguei uma mochila, coloquei um montinho de roupas e fui para casa dele.

Como o porteiro já me conhecia, ele me deu passagem para subir. Eu estava nervoso. Nervoso porque não sabia o que iria encontrar ao abrir a porta, mas tenho certeza que nada se compara ao que vi.

Louis. Meu Louis. Ele estava jogado no corredor, com a barriga enfaixada, as coxas com cicatrizes que iam de tamanhos diferentes a formatos diferentes. Os braços estavam intactos, como se aquele lugar fosse proibido para tocar. Como se ele não quisesse que ninguém descobrisse.

Fui correndo em direção a ele e com toda delicadeza do mundo, o peguei no colo e levei para o banheiro. Ele estava desacordado, mas conseguia ouvir sua respirar e coração batendo rápidos.

Entrei com ele embaixo do chuveiro. Não sei se foi a melhor ideia que tive na vida, mas queria limpar e tirar todo aquele sangue. Senti seus dedinhos indo de encontro ao meu pescoço, e quando ia falar algo, ele me beijou.

Não esperava por isso. Mas não reclamei. Quando nos separamos, eu o coloquei no chão e rodeei sua cintura com meus braços. Eu não iria cobrar uma resposta, mas queria passar conforto e segurança para ele.

-H-harry. Me d-desculpa.

-Lou, amor. Está tudo bem, eu estou aqui com você agora.

-Já f-faz tanto t-tempo, mas e-eu ainda não c-consigo superar.

-O que faz tanto tempo amor?

-O a-acidente. O dia q-que eles m-morreram.

-Ok, depois conversamos, você está tremendo de frio e eu preciso cuidar dos seus machucados.

-NÃO! Harry por favor n-não.

-O que aconteceu?

-Você v-vai ver meu corpo. V-vai ver elas.

-Suas cicatrizes são lindas Lou. Elas são parte da sua história e são o motivo de você ainda estar aqui. Deixe eu cuidar delas por favor.

-Você promete não rir?

-Porque eu iria rir? Elas são algo seu e mesmo com elas, você é meu garoto estrela.

X

Eu tirei ele da água depois de lavar seu cabelo e limpar com cuidado as novas cicatrizes dele. Peguei umas roupas minhas, e coloquei na cama. Deixei ele se trocar enquanto fui na cozinha fazer algo para comer.

Sei que ele não iria comer agora, mas preciso que ele fique forte, que ele se recupere. E que, principalmente, supere mais um ano.

Eu fiz uma sopa de legumes e um pouco de suco. Não sei se ele gosta ou não, mas vai ter que comer tudo. Ele precisa. Eu preciso que ele coma tudo.

Fui em direção ao quarto, e ouvi um choro baixinho, sabia que era meu garoto, e sabia que devia ajudá-lo, por isso, fui o mais rápido que pude sem derrubar as coisas que estavam na minha mão.

Fui entrando devagarinho, e o encontrei sentado, com as pernas encostadas no peito e as mãozinhas apertando os joelhos. Meu coração se quebrou por ver o quanto ele sentia essa dor, só queria tirá-la dele.

Me sentei ao seu lado e puxei ele para meu colo. Ele levou um susto de início, mas depois relaxou e se ajeitou, fazendo com que suas pernas ficassem uma de cada lado do meu quadril e seus braços envolta do meu pescoço, me agarrando cada vez mais forte.

Eu o abracei pela cintura e fiquei dando beijinhos em seu ombro e pescoço. Minha mão fazia um carinho leve no final da coluna e em uma de suas coxas.

Esperei a respiração dele se normalizar, para pegar o prato de sopa e o copo. Ele me olhou com aqueles olhinhos inchados e negou com a cabeça. Eu fiz que sim e ele aceitou.

Fui dando pequenas colheradas de sopa para ele. E meia hora depois, o prato estava vazio. Fiquei feliz por ter feito ele comer e por deixá-lo um pouquinho mais forte.

Quando ele terminou de beber o suco, colocou o copo na mesinha e pulou em meu colo. Como eu não estava preparado, caímos para trás, fazendo com que, meu corpo ficasse deitado e o dele sentado em minhas coxas.

Nós olhamos com os olhos arregalados e expressões assustadas e rimos. Eu ri. Ele gargalhou. E quando percebeu o que tinha feito, levou a mãozinha até a boca e deixou lá. Suas bochechas coraram e eu percebi que ele estava ignorando meu olhar.

-Foi em 2016, um carro em alta velocidade, bateu no carro em que eu, meus pais e irmãs estávamos. Foi tudo tão rápido, que não deu tempo de gritarmos para o meu pai não dar partida no carro. Até porque, estávamos parados no farol, e o outro carro veio de frente a nós. Foi como se eu fechasse e quando abrisse os olhos, tudo havia acontecido.

-Você não precisa continuar senão quiser, tudo bem?

-Eu quero, está na hora de você saber. Nenhum deles resistiu, nem sei como eu resisti. As vezes peço para morrer, para ficar com eles. Eu me sinto inútil por deixar eles irem e eu continuar aqui, com essa dor. Fiquei meses internado, com os braços e pernas quebrados, anos de fisioterapia e depois, eu fui morar com minha avó, ela sempre me tratou como filho e sempre me apoiou em todas as decisões da minha vida. Eu a agradeço por tudo que fez por mim. Quando descobrimos que ela tinha esquizofrenia, não desanimamos, ela continuou com aquele brilho, e com o jeitinho dela. Mesmo com as crises e vozes que apareciam, ela nunca desistiu. Hoje ela está melhor e faz tratamento em um asilo especializado a doenças mentais.

-Eu quero conhecê-la, se você deixar, lógico. Quero conhecer a mulher que cuidou de você esse tempo todo, e se você me permitir, quero conhecer sua família.

-Você está falando sério?

-Nunca falei tão sério na minha vida Lou.

X

Estou beijando as cicatrizes dele. Todas as cicatrizes de sua barriga, coxas e principalmente, a parte interna nas coxas.

Ele está com medo da minha reação. Estava com medo do que iria fazer. E eu estava com medo das vozes. As vozes que reapareceram.

Sei que fiquei um tempo sem falar sobre elas, mas a explicação para isso, é, elas ficaram caladas. Elas sumiram e apareceram agora.

Estou beijando as cicatrizes dele. Todas as cicatrizes de sua barriga, coxas e principalmente, a parte interna das coxas.

Pensei que ele me bateria, ou gritasse comigo quando eu começasse a fazer isso. Mas tudo que ele fez, foi se libertar. Foi deixar suas barreiras caírem e se mostrar vulnerável para mim.

Não sei como ou em que momento chegamos aonde estamos agora. Lembro que estávamos no quarto, e depois viemos para sala, onde dançamos e nós beijamos.

Nós dançamos e nos beijamos como se o mundo estivesse pronto para entrar em erupção. Como se amanhã, quando acordássemos, não existisse mais nada. Além de nós e de nossa história.

-Prometa para mim, que não importa o tempo, o ano ou a década, se estivermos separados, iremos nos encontrar e reescrever nossa história.

-Por você eu reescrevo até as estrelas.

Imaginations of the heart. {l.s}Where stories live. Discover now