chapter three

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Eu odeio ser esquizofrênico. Odeio porque não sei diferenciar o mundo real do imaginário, não sei se estou passando mal ou é apenas uma peça da minha cabeça.

Preciso levantar, tomar remédio, ir pro banho e trabalhar, mas não consigo, não consigo me mexer. Sinto que estou andando, mas na minha cabeça to parado, como eu disse, não sei o que é real ou não.

Consigo pegar meu celular e disco o número do doutor, eu sei que é cedo, eu odeio acordar cedo, e provavelmente ele também, mas preciso dele, preciso de ajuda. Liam demora um pouco pra atender, me sinto culpado por acordar ele.

-Harry? Harry por Deus, são 7:30 da manhã- eu falei, não falei?

-Hey Liam, e-eu não to c-conseguindo respirar d-direito, eu tive um sonho ruim ontem, e acordei m-mal.

-Ok Harry, tudo bem, você consegue vir aqui agora? Se não tiver como, não tem problema.

-Eu dou um jeito, relaxa Liam, tá tudo bem.

Desliguei. Odeio me sentir fraco, odeio me sentir incapacitado. Mas preciso de ajuda agora e minha única opção é Niall.

Liguei rápido para ele e expliquei tudo do jeito que pude, em menos de dez minutos ele estava aqui, com meu suco e bolinho favorito. Ele devia estar perto, não devia?

X

Chegamos no consultório e Liam já estava me esperando para fazermos mais exames. Confesso que deve ter um armário só de exame meu, mas não posso fazer nada. Ainda.

Liam me cumprimentou com um abraço. Ele sabe que prefiro assim, sabe que passa segurando pra mim, independente do que aconteça. Ele fala com Niall, mas explica que são exames de rotina por causa da crise de manhã.

Fiz uma ressonância magnética e puta merda, aquela máquina é chata, o barulho dela é chato, e eu juro que odeio ficar lá deitado vendo aquele robô incrivelmente grande, fazer tudo. Pôde-se perceber que odeio máquinas de hospitais.

Liam fala para esperar na sala, e é aqui que estou. Com minha perna direita tremendo, meus dedos da mão estralados, e com a cabeça a mil, que, Liam Payne entra com os resultados na mão e uma cara de quem não gostou do que viu.

Ferrou.

-Hm Harry, quero ser muito sincero com você agora, e o que eu tenho nesse envelope não é nada bom, você deve saber já que teve uma crise hoje cedo e está quase tendo uma agora. Seus sintomas estão piores. Sinto muito.

-Bom, melhores não iam estar, então né, nada que eu já não saiba.- Sarcasmo. Ironia. Uso eles quando estou nervoso ou tentando disfarçar isso. Mas falhei.

-Não fique assim, sei que é bobeira falar isso, mas tem jeito de melhorar, conversei com outros médicos, e vamos diminuir sua dose. Os novos remédios são mais fortes e os efeitos são mais rápidos, então não há porque tomar mais. Entendeu?

-Entendido. Remédios mais fortes, menor quanto de pílulas. Certo?

-Certo. Você irá fazer terapia. Não é uma opção Styles, é uma ordem, sou seu médico a anos, e você já foi numa psicóloga, mas largou meses depois. Está na hora de mudar isso e você vai, querendo ou não.

Eu estava assustado? Estático? Querendo chorar? Liam tinha sido grosso comigo, pode parecer besteira, mas ele nunca falou assim. Mas é, ele tem razão.

-Sinto muito.

Sente muito por que? Por eu ser um lunático? Por imaginar coisas que não existem? Ou por ter vozes na minha cabeça mandando eu fazer coisas que não quero? Por favor, não quero seu perdão.

Agradeci a Liam pela consulta, marquei de ir no terapeuta e sai com os remédios. Encontrei Niall na recepção e ele me abraçou tão forte, que achei que já quebrar meus ossos.

Eu amo Niall, ele é o único na minha vida. Depois de minha mãe. Mas além dele ser meu amigo, ele é meu irmão.

Fomos para casa, almoçamos macarrão com queijo e assistimos um pouco de tv, Niall foi embora pois tinha que trabalhar, e eu fiquei só. Mas com elas na cabeça.

X

Mais tarde fui ao trabalho e expliquei a Bárbara o porque do atraso, ela sabe da minha condição e sabe que as vezes preciso sair no meio do expediente para respirar ou ir ao hospital.

Ela sabe e não liga. Quer dizer, liga pra mim não para os meus problemas. Ela me enxerga como uma pessoa normal, e eu adoro isso.

Comecei a arrumar as pilhas de livros de romance, depois suspense, ficção científica, culinária e por fim, fotografia. Não há muitos livros e muitos tipos aqui na livraria, mas os que tem, são incríveis e alimentam muita gente.

Já estava indo embora quando elas apareceram.

As vozes aparecem do nada e ficam até quando querem, eu queria parar elas sabe? Tipo, pedir um tempo e quando estivesse melhor, elas voltassem, mas não é assim.

Me acostumei com gritos, choros e vozes, mas as vezes pioram, como agora. Sai correndo na rua e cheguei no portão de casa um tempo depois, com o rosto vermelho, lágrimas rolando a solta, mãos tremendo e respiração descompassada.

Subi as escadas igual um doido, abri a porta com muita (muita mesmo) dificuldade e peguei os remédios. Como ele fazia o efeito mais rápido, resolvi tomar três pílulas. Mas havia esquecido de como eram fortes. Pensei rápido e tomei mais duas.

Cinco iam fazer efeito né? Cinco iam acabar com essa dor, com essa vida, com meu sofrimento. Eu ia embora. Ia partir como Louis.

As vozes estavam felizes, estavam rindo e agradecendo por tomar essa decisão, sei que não é o certo, mas eu cedi e ouvi elas.

"Você conseguiu Harry"
"Estamos orgulhosas"
"Estava na hora"

Eu estava indo. Se não fosse pela porta aberta e o vizinho pedindo ajuda.

X

Acordei em uma sala de hospital. Como eu sei que era um? Simples, paredes brancas, com quadros pequenos de flores ou frases motivacionais e lençóis gelados e macios.

Uma mão estava segurando a minha. Niall. Ele estava chorando quando eu abri os olhos. Me senti culpado.

-Harry! Hazz! O meu deus, você é um idiota, eu te odeio tanto Edward, odeio tanto.- Ele falou me abraçando, então não era verdade. Por mais que eu mereça isso.

-Você 'tá me esmagando.

-Eu vou te esmagar mesmo, você me assustou cara, por favor não faz mais isso, por favor.- É difícil ver Niall chorando, mas quando ele chora, parece um bebê.

-Tudo bem, desculpa. Eu n-não devia, eu sei, mas pareceu tão c-certo sabe? Pareceu tão certo, que eu só fiz. D-desculpa. Desculpa. Desculpa.

-Shhh, eu to aqui H, está tudo bem. Eu to preocupado mas sei que não foi você que quis fazer isso. Está tudo bem.

Eu chorei. Chorei até dormir nos braços dele. Amo Niall, mas queria que fosse Louis ali do meu lado, queria que fosse ele.

Mas Louis foi embora. Louis não existe. Nada existe.

Imaginations of the heart. {l.s}Where stories live. Discover now