Capítulo 4 - 1975.

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Mais um verão se aproximava do fim na casa Birdwhistle. Agnes não sabia mais quanto tempo aguentaria. Passara maior parte do verão trancada no quarto, leu todos os livros que tinha, estudara todas as poções que conhecia. Pra sua sorte, ao menos, o irmão estivera fora por todo o tempo, Demétrio não suportava a ideia de passar o verão inteiro trancado na velha casa, fizera o possível para passar as férias mas mansões de seus amigos. Além de que, devia estar fazendo as maiores atrocidades ao lado de seu "grupo" novo. Sentia-se nauseada de saber que morava na mesma casa que ele.
Sua mãe estava como sempre, talvez pior. Era uma mulher ríspida, só a procurava para criticar sua insolência. Quanto mais Agnes crescia, mais irritada sua mãe se tornava com sua presença, e agora a apenas alguns meses de seus 14 anos, tudo piorara. Apesar de pequeno, seu quarto era muito organizado. Paredes coloridas de roxo, azul, verde e rosa. Destoava muito do resto da casa, escura e cinza. Bandeirolas, e cartazes estampavam a elegante cobra de sua casa em hogwarts, ao contrário do que pensariamos, não era vergonha alguma para Agnes fazer parte da mesma casa que todos os seus ancestrais, porque apesar disso não era como eles. E sabia além de tudo que a sonserina era mais do que uma casa de bruxos maus, na verdade era sua portinhola para a realização.
O verão mostrava sua face com intensidade naquele ano, o calor era tanto que sentia como se estivesse perto de um focinho de dragão. O vidro da janela seria capaz de cozinhar um ovo, e o chão de madeira não era um bom aliado.
Estava em completo tédio naquele dia, então decidira escrever uma carta pra seu melhor amigo em hogwarts... E na vida. Não se falavam desde o fim das aulas, geralmente não entravam em contato por todo o verão. Agnes não sabia o porquê, decidiu quebrar essa má tradição.
" Como estão as coisas por aí? Bem. Aqui estão um tédio, como deve imaginar. Estou ansiosa para o início das aulas. Já estudei todas as poções possíveis, quero estar preparada para tudo. Me escreva de volta se puder. Estou com saudades "escreveu a carta com zelo e entregou o rolinho de pergaminho para a coruja da família, Axel, que era marrom com pintinhas. Já era uma coruja idosa. Axel fazia um pouco de barulho, então logo a mãe de Agnes, Madame Hilda Birdwhistle subiu as escadas, fazendo barulho com o salto de seu sapato. Subiu lhe um arrepio na espinha.
- O que você está aprontando dessa vez? - soou a voz fria da mãe. Tinha pele branca como aço frio, apesar de não ser rica usava trajes muito elegantes e caros, provavelmente estavam na família a anos, nesse momento vestia um longo vestido vermelho de seda. - mandando cartas? - confiscou com rispidez, a carta da coruja antes que saísse, abriu o pergaminho com os longos dedos. Não se interessou em ler o conteúdo pois seus olhos apenas pousaram sobre o destinatário. Afinal, não se importava o suficiente com a menina para ler sua correspondência. - Black? - sorriu ambiciosa com os olhos brilhantes de ganância - E eu pensando - disse com sua voz arrastada - que a minha infeliz filhinha seria apenas um fardo pro resto da minha vida...
- Por favor, devolva a carta. - pediu com firmeza Agnes. Já imaginava o que a mãe pensaria, e não queria fazer parte disso.
- Mas é claro, minha querida - pôs a carta nas garras da coruja e a induziu a vôo- como eu poderia desperdiçar uma amizade tão... Oportuna.
Conseguiu entender muito bem quais eram as intenções da mãe sobre aquela situação, mas não gostou nada de seu tom. Vindo dela, só poderia não ser nada de bom. Aquela crápula de mulher costumava abusar-se de todos que pudesse, amigos de Demetrio, namorados.
- eu venho tentando lhe ensinar isso desde tão pequena - deu tapinhas ríspidos na cabeça da menina - mas vejo que entendeu meu recado. " Amizades de valor, Agnes " é o que lhe digo. - a mulher ponderava sua própria frase.
Só queria que a mãe saísse logo dali, odiava passar mais do que o obrigatório perto dela. Observava a com receio.
A mãe parecia triunfante, exultante.
- Régulo Black - dizia enquanto descia as escada, sua voz se tornava distante. - A sua netinha finalmente nos trará retorno, nos tirara desse moquifo, mamãe - dizia para o quadro de uma velha senhora de vestes vermelhas que se encontrava ao final da escada. A velha apenas sorriu.
Alguns dias se passaram desde o ocorrido, logo precisaria comprar o material novo. Já imaginava ter de comprar alguns livros surrados, mas isso não se fazia importante para Agnes. Organizava seu malão com algumas poucas coisas que tinha em seu quarto. A Madame Birdwhistle mostrava se mais agradável nos últimos dias, não xingara nem gritara nenhuma vez, o que quer que Agnes tenha feito de tão importante com sua amizade, agradara muito mãe. Finalmente a resposta de sua carta viera. Estava dentro de um belo envelope roxo. Era uma carta do amigo, finalmente viera depois de algum tempo.
" Estou passando o verão no quarto também, Sirius foi proibido de sair no verão. Estou odiando cada segundo. Podemos nos encontrar no beco diagonal no dia 28 de agosto? Vou ir comprar o material novo, podemos comprar juntos. Me mande uma carta de resposta assim que puder. R.A.B " 28 de agosto." "É um ótimo dia" pensou, e seria um bom modo de se livrar da mãe por um tempo. Desceu as escadas apressada, já sabia que a mãe deixaria já que a amizade de Régulo lhe interessava tanto. Decidiu usufruir disso.
- Mamãe?
A mulher que alisava seus dourados cabelos, sentada frente a sua penteadeira adornada, Olhou pra menina com seus olhos bilhantes como habitual.
- Sim, meu bem? - só usava aquele tom quando queria algo de Agnes.
- Hãn... Régulo - mostrou a carta - quer saber se posso comprar meu material com ele.
A mulher se animou imediatamente, aquilo era absolutamente um sim.
- Mas é claro. E vai ver a senhora Black também!? - recolheu o dinheiro de uma lata dourada, eram muitos galeões, mais do que Agnes jamais tivera - Tome. Não pode parecer maltrapilha na frente da Sra Black. Escute bem menina, se comporte como uma lady - disse severa para a menina - como lhe ensinei a ser.
Revirou lhe os olhos. E suspirou. " Já sei já sei" disse Agnes para sua mãe. Sentia náusea com a idéia de sua mãe usufruir de sua amizade como um negócio. Mas aceitou pois nunca tratara as coisas dessa maneira, só queria voltar o quanto antes para hogwarts, seu verdadeiro lar.
Acordou no dia seguinte arrumando os longos cabelos e vestindo sua melhor roupa ( instruções da mãe ) estava pronta, enfiou a carta com os materiais no bolso. Desceu as escadas e viajou até o beco diagonal pela rede de Flu de sua lareira. Andava pelas curvas fechadas observando as vitrines. Vira uma porção de vestidos belos e coloridos que lhe chamou muito atenção, imaginou se tivesse dinheiro para usar vestidos como aqueles. Passou por um ourives que encrustava jóias em varinhas e imaginou como seria sua velha varinha com uma bela esmeralda. Agnes era uma menina vaidosa e o que lhe impedia de se importar mais com sua aparência, era a falta de dinheiro. Estava fazendo um belo dia, muitos alunos e seus pais passeavam pelo local, bruxos e bruxas de todas as forma, alguns colegas de Agnes inclusive.
Finalmente avistou o amigo, usava vestes escuras muito elegantes. Não estava acompanhado de Sr.Black, mas de um elfo doméstico bastante amedrontador. Era o elfo Monstro que Régulo comentara algumas vezes.
Reg acenou para a amiga. Agnes correu em seu encontro abraçando muito apertado. Régulo pareceu desconcertado mas retribuiu o abraço.
- Ah oi - sorriu corado, parecia ter crescido alguns vários centímetros durante o verão, estava muito bem arrumado com seu habitual traje preto, cabelos bem cortados- trouxe o monstro pra nos ajudar. -O elfo parecia honrado de servir a seu mestre, fez uma reverência a Agnes.
- Tudo bem, Monstro. Não precisa tanto protocolo. - estendeu a mão para o elfo - Sou Agnes.
O elfo franziu a testa para o dono. Régulo assentiu com a cabeça dando-lhe permissão. Monstrou apertou a mão da menina.
- Agora que já se conhecem, Monstro preciso que compre essas coisas para mim enquanto vamos até a Floreios e borrões.
- Mas é Claro, senhor Régulo. - sumiu em um estalo com o pergaminho.
Agnes sentia se totalmente desconfortável com a idéia de elfos servos. Mas no mundo bruxo, elfos eram sinônimo de bens e riqueza, então famílias ricas os possuíam.
- Então... Começamos por onde? - começaram a andar pelas ruas de pedra. Estava bastante tumultuado, aparentemente todos decidiram comprar seus materiais naquele dia.
- Acho que pelos livros? Depois buscamos as vestes novas. - Régulo leu a carta de materiais novamente - como está?
- Ansiosa pelas aulas é claro. Odeio cada segundo longe de hogwarts.
Régulo assentiu com a cabeça concordando.
Entraram na Floreios e borrões, estava abarrotada de gente.
- Não aguento mais ficar naquela casa com ele - olhou de esguelha pro irmão que estava na loja também e empilhava um livro na cabeça enquanto James ria. Remo Lupin, o menino mais tímido, apenas separava seus livros na cesta. Agnes riu com a besteira da cena. Detestava Sirius tanto quanto Régulo.
- Ele é tão patético sabe? - Reg Não conseguiu manter a postura séria, rindo também - não acredito que é meu irmão.
Agnes observou o rosto do amigo detalhadamente e olhou pro irmão.
- Ah eu acredito bastante - pegou alguns livros, felizmente poderia levar livros novos esse ano. Régulo deu uma risadinha sem graça e pôs se a pegar seus livros também.
Depois de pegar tudo que precisavam daquela loja, os dois amigos se preparavam pra sair da Floreios e Borrões e continuar as compras, até monstro surgir em um estalo com um embrulho em mãos. Fez reverência para o mestre. Um pouco adiante, Sirius olhou de esguelha pro elfo com desgosto. Ele e o elfo nunca se deram bem.
- Ele não consegue fazer as compras sozinho, tem que trazer essa coisa junto. - Sirius girava um livro de transfiguração nos dedos, estava escorado no corrimão da escada. Usava roupas comuns de trouxa como uma jaqueta preta. Se não o conhecesse, não diria que é um bruxo.
- Ele me dá arrepios - James colocou os últimos livros na cesta - Não sei como você aguenta.
- Não sei, acho que eu sou muito paciente - Sirius sorriu debochado, James riu também.
- já terminaram as compras, pelo visto. - Lupin carregava alguns livros usados - Não temos o dia todo.
- Vamos logo crianças, o vovô Lupin está com pressa - James empurrou de leve Sirius para saírem da loja. Peter não os acompanhava naquele dia.
- engraçadinho. - Disse Lupin rindo com os braços cheios enquanto saiam da loja. Remo era o equilíbrio responsável e sórdido do grupo, enquanto James e Sirius eram o equilíbrio barulhento e bagunceiro. Já Peter...bem nunca reparara muito no garoto.
Passaram o resto do dia fazendo compras, ao entardecer, decidiram parar pra comer alguma coisa no caldeirão furado.
- posso perguntar uma coisa?
- Vai em frente - Régulo terminava seu sanduíche.
- acho que nunca parei pra pensar, se me perguntassem, eu saberia o que dizer mas... Porque você e o Sirius brigam dessa forma? Eu pensei um pouco sobre isso quando me enviou sua carta. - dava colheiradas na sua torta de abóbora. Agnes sabia exatamente porque ELA não gostava de Sirius. E era uma resposta bastante fácil para ela. " preguiçoso, sem futuro, burro, canalha" pensou a menina.
Régulo franziu a testa, não gostou muito da pergunta mas não encontrou maneira de se esquivar.
- Nós não temos nada a ver. Só isso - arrumou cuidadoso o cabelo recém cortado - Sirius gosta de chamar atenção pros piores pontos possíveis. E eu desprezo isso. É meio óbvio. Você mesma não o suporta.
- Não me entenda mal, eu realmente não suporto. Mas... Me perguntou qual foi a razão... Inicial.
- Sirius é explosivo, barulhento, sem noção alguma de limite. - Pensou Régulo - e defende essa gente de sangue ruim, traidores de sangue e todo esse tipo de ralé que eu não engulo. - disse assertivo.
- Régulo, sangue-ruim é o que tem dentro dessa sua cabeça. Pare de dizer isso. - Agnes disse tentando manter a paciência, mas seu estômago embrulhara- achei que depois de tanto lhe explicar você um dia entenderia.
- Não tem nada a ser entendido. Somos sangues-puros e os únicos merecedores realmente da magia. Um dia você vai enxergar e parar de sonhar como uma adolescente rebelde. - Régulo tentava argumentar, mas a amiga não queria ouvir. Observou seu relógio e percebeu ficará muito tarde. - Tenho que ir pra casa agora. - interrompeu Agnes que abrira a boca para argumentar - Talvez um dia você entenda, Agnes, e pare de pensar dessa forma fantasiosa.
- Já chega. Essa conversa está encerrada. Se você quer ser um medíocre supremacista... Seja sozinho! - levantou-se muito irritada e saiu porta fora do lugar. Estava tão cega de raiva que nem viu Régulo sair. Agnes decidiu ficar por ali mais um pouco. Tremia de frio e de raiva pelas ruas, enquanto caminhava esbarrou na menos provável criatura, Sirius Black. Oh, que grande agrado naquele momento.
- O que está fazendo aqui até tão tarde? Vá pra casa. - Sirius assustou-se do esbarrão.
- Engraçado, achei que meu pai estivesse por aí viajando o mundo. Não na minha frente - disse Agnes irritada não estava nem um pouco afim de brincadeiras agora. - acho melhor me deixar em paz, Sirius. Eu não tenho paciência pra você, menos ainda agora.
- Deixa eu adivinhar, Régulo chamou a garçonete de "mestiça imunda"? - debochou Olhando a garota nos olhos penetrante, Agnes observava de volta séria.
- Não. Mas me insultou sendo tão...- não conseguia pensar em palavras para descrever.
- Chato, idiota, grosseiro, e com uma forte mania de grandeza? - sorriu o garoto, cruzou os braços. O anoitecer esfriava um pouco mais do que já havia sido o dia, apesar de ainda ser verão.
- Estamos falando de você agora? - respondeu irritada - e, é! Sim. Que seja. -
Agnes revirou os olhos e continuou andando, porém acabará de adquirir um novo 'carrapato', já que Sirius decidiu andar ao seu lado. - caramba o que você quer? Mais chiclete no cabelo?
- Eu não esqueci dessa sua "brincadeira" infantil. E vai ter retorno. Mas agora o simples fato da minha presença irritar você, me alegra. - Sirius disse suavemente. Agnes Bufou.
- Já que você vai ficar me seguindo, por que não me responde uma coisinha? - disse Agnes pro garoto. Ainda sentia se muito irritada.
Ele suspirou fundo.
- Sinto muito, mas terei que negar seu pedido de me levar pra sair.
- Ah é. Era exatamente isso que eu ia perguntar. - Fez um gesto como se fosse vomitar - Nem que você fosse o último ser humano vivo. Obrigada. Agora escuta. Por que o Régulo te odeia?
- Não sei, por que eu sou lindo? Popular? Talentoso? Ah é. É porque ele me acha uma vergonha ambulante pra mamãezinha querida e pro papai.
- Do que você está falando?
- Ele me adorava quando era mais novo, mas ai de repente as coisas ficaram difíceis e aí no ano passado acabou de vez. - ele pensou um pouco, falou com tranquilidade.
- Você se refere aquela briga por causa da Marlene?
- Isso. Ele merecia aquele soco. Mas não me orgulho. E você não tinha de ter se metido. Eu não bato em garotas, então foi um jogo injusto. - coçou a cabeça - Quer dizer. Ele é um idiota mas é meu irmão idiota. E é o único que eu tenho. - Sirius diminui um pouco o tom, como se não quisesse que ninguém ouvisse sua declaração. - mas isso não é da sua conta, Birdwhistle.
Agnes sabia como era, apesar de que não tinha chance alguma de se aproximar do seu irmão.
- Aí que gracinha. Vejo até uma lágrima - Agnes cortou a conversa de repente. Sirius a olhou zangado, acabara de abrir seu coração pra menina que menos gostava no mundo ( e para ele, não gostar de uma mulher demandava bastante esforço).
- cuidado com os Dementadores na esquina, Birdwhistle. Eles adoram moças, principalmente as frigidas - Deu-lhe as costas e começou a sair. - Seria uma pena não ter mais com quem aprontar.
- Então é melhor você tomar cuidado. - Respondeu a provocação. - nojento.
Ele apenas ergueu o braço em resposta enquanto andava.
Viajou de volta pra casa pela primeira lareira que encontrou, chegando em casa organizou todas as suas coisas novas, parou frente a janela pensando sobre os irmãos. O que pudera ter acontecido, se Sirius poderia apenas estar manipulando a informação. E se fosse verdade, se perguntava o que dera em Régulo, Agnes daria tudo para ter um irmão que se importasse com ela, e não que a desprezasse. Mas depois da discussão com o amigo, tinha certeza que ideologia de sangue importava mais para ele do que as pessoas que amava. E isso a deixou ainda mais rancorosa.

Killer QueenWhere stories live. Discover now