Capítulo 5 - O banheiro.

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Durante a madrugada, Agnes teve um sonho muito curioso. Estava no corpo de uma outra menina, em um quarto muito grandioso, paredes adornadas de decorações caras, o piso era feito de um belo mármore branco, seus lençóis de seda. Vestia uma camisola bordada. Quando olhou-se no espelho, tinha belos cabelos loiros curtos. Não estava entendendo, sequer sabia que era um sonho, então levantou-se, e ouviu alguém chamar por seu nome. Sabia que era sua mãe, ou a mãe de Agnes do sonho, vestiu um robe e caminhou até a sala. A casa era muito bela e muito iluminada, tinha um belo jardim que se via das janelas, parecia ser verão. O ar tinha cheiro de grama recém cortada.
- Agnes, minha filha. Eu e papai precisamos te contar uma bela novidade. - uma mulher dizia que com certeza não era Madame Hilde, mas Agnes sabia que era sua mãe.
- É mesmo, mamãe? - Disse Agnes sem sentir, apenas seguia o sonho. Era uma sensação estranha de flutuar. - O que é?
A mãe de Agnes lhe sorriu, era uma mulher jovem, usava um belo vestido amarelo pastel como uma margarida, e logo atrás dela vinha seu pai, mas Agnes não sabia seu nome.
- Encontramos um pretendente a altura de nossa filha. - O homem disse com as mãos nos bolsos das vestes, parecia apreensivo de lhe dar a notícia.
Ao ouvir aquilo sentiu o estômago despencar, olhou para os dois rapidamente, como se estivessem delirando.
- Não vou me casar! - gritou Agnes, queria chorar, espernear. Sentia-se traída, sem apoio ou consolo de ninguém, ninguém para lhe salvar. - Nem que tragam Merlim aqui!
A mãe de Agne suspirou profundamente, e estendeu os pálidos braços para a menina, mas Agnes fugiu para os lados opostos. Sentia tanta fúria dentro de si, como um vulcão em erupção.
Agnes acordou em um descompasso, seu coração batia e lágrimas escorriam de seu rosto. Sentiu uma sensação de tristeza pelo ocorrido, mesmo que fosse apenas um sonho. Aquela emoção forte que sentimos depois de acordar de um sonho muito intenso. Tocou nas próprias bochecha, que estavam quentes. Para sua sorte já era manhã, vestiu-se e saiu para o salão comunal. Apesar de já ser dia, as meninas ainda dormiam em suas camas.
- Estou-lhe dizendo, foi tão real, senti como se fosse eu mesma. - Agnes explicava para o amigo, como se revivesse o sonho estranhamente real - Ela se chamava Agnes como eu.
- Pode ser seu medo interno de... Casamento arranjado? Huh... eu não faço idéia. - Régulo disse um tanto confuso. Era um verdadeiro cético em relação aos sonhos. - Agnes, eu já volto, um segundo só. Não saia daqui - Saiu depressa Régulo até um amigo que estava logo ali no corredor. Sem ter muito para quem recorrer, Agnes teve uma brilhante idéia naquele momento, prometera durante o verão que encontraria um local sossegado para sua experiência, mas até agora não havia lembrado disso. E com toda a confusão mental do sonho, decidira despejar tudo isso em seus experimentos. Teve uma ideia: Existia em hogwarts um banheiro interditado feminino, onde poderia estudar, poderia deixar seus ingredientes ali e usar um feitiço de ocultação. Não me leve a mal, não era uma má idéia. Ah não ser pelo habitante que vivia nesse tal banheiro. De qualquer forma, assim fez. Correu escadaria a cima tão rápido, que suas panturrilhas queimavam. Chegando até o banheiro, notou que de fato, ninguém subia ali. Era espaçoso e possuia uma enorme pia circular em seu interior. Ficou se perguntando porque aquele banheiro não era mais utilizado.
Largou sua mochila ali mesmo, no chão, e decidiu descer depressa para pegar o caldeirão e alguns ingredientes que estudara. Sabia que mesmo para uma escola de magia, não era muito comum um cadeirão flutuante por conta própria, e não queria fazer estardalhaço chamando atenção de Filtch e sua gata, ( madame Nor-r-ra, que agora era um felino adulto.) então um feitiço convocatório estava fora de questão. Porém enquanto descia a escadaria, esbarrou com Pandora que ia para sua sala naquele momento. Hoje usava brincos turquesa.
- Oi, Pandora! Desculpe. Estou com um pouco de pressa- tentou passar depressa por ela, mas sem sucesso, a menina segurou-lhe as vestes com delicadeza.
- Aposto que sim, Agnes. Mas o seu amigo perguntou por você - Ela acenou para Régulo que estava logo ali - a propósito, feliz aniversário!
Agnes suspirou profundamente, não queria que Régulo a levasse para a aula. Ele era bastante rígido com os estudos e obrigava Agnes que fosse também.
- Obrigada, Pandora. - Torceu a boca para o canto.
- Agnes, onde estava? Vamos nos atrasar! E onde estão suas coisas? - Régulo parecia preocupado em não perder Aritmancia, que era a aula daquele período.
- Régulo, minha ideia era não ir... A aula.
Ele arregalou os olhos perplexo, "não, não. Sem chance" disse o amigo, lhe levando para a chata aula de Aritmancia. Nada mais era do que o estudo das propriedades mágicas dos números, e como poderia não ser chato? Agnes odiava números. Até porque não usaria essa disciplina em sua experiência. A matéria era eletiva, mas a escolhera para fazer companhia ao amigo. E que péssima decisão. Passara a aula toda anotando formulações que achava que poderiam ser úteis, já Régulo escutava atentamente. Ao fim da aula, arrumou uma maneira de fugir de Régulo e Pandora, despistando os dois. Desceu depressa até seu quarto com muita cautela, apanhou tudo que precisaria e subiu até o banheiro feminino. Estava bastante animada de finalmente começar a trabalhar nisso e aquele local era perfeitamente ideal.
Quando chegou até lá, organizou sua "bancada" de trabalho, com seu caldeirão e seus ingredientes. Sentada no chão sob sua perna, picava algumas folhas de tentáculos venenosos e salpicava sobre a água borbulhante. Algumas pétalas de rosa e mais alguns ingredientes, até então, tudo ornava como deveria. Teve a ideia de mesclar a poção embelezadora que estava preparando, com alguns ingredientes que acreditava serem rejuvenescedores. A certo ponto a poção tornou-se cor de carmin, o que era a idéia inicial. Estava tão concentrada que não pensava em mais nada, apenas no que deveria fazer.
- quem é você!? - algo soltara um muxoxo muito fino.
- Quem quer saber? - Levantou-se rápido, utilizou o feitiço de ocultação em suas coisas. Seu coração batia muito rápido. - Vamos, apareça.
- Eu sou a Murta! Mas é claro que você não sabe! NINGUÉM LIGA PRA MIM MESMO! - Berrava em lágrimas um espectro com a aparência de uma garotinha chorona. Usava marias-chiquinhas na cabeça transparente e um uniforme de hogwarts.
- Murta-Que-Geme? - Perguntou Agnes fingindo interesse, já sabia o que fazer pra se livrar da menina. Murta era um espectro conhecido em Hogwarts por chorar e ralhar com todo mundo, não era uma companhia agradável para se ter em um laboratório. Podia estar concentrada quando de repente "HA" um berro choroso de murta e Agnes jogando o que não deve no caldeirão. Ou seja. Má idéia. - Mas eu conheço você, minha cara. É famosa em Hogwarts... - Disse cínica, Agnes.
A menina assoou o nariz espectral.
- Famosa, é? pelo que? - Disse fungando, com sua vozinha estridente.
- Pela sua...beleza! É claro, " - Mentira - a fantasma mais bela de Hogwarts" você não sabia?
A menina franziu a testa para Agnes um pouco desconfiada.
- Já me disseram isso antes. Um menino fortão da Grifinória. Cabelos pretos. - Murta disse em um tom paquerador.
- Ah, que surpresa - Disse Agnes ironicamente já sabendo de quem se tratava - Aí! Viu! Agora, Murtinha, se puder por favor parar de chorar, seremos grandes amigas.
A Murta desceu de seu flutuo pelo banheiro perto de Agnes, e deu uma olhada para o que ela mexia, porém estava oculto.
- O que você estava fazendo aqui? - Disse o fantasma da garotinha, mais calma.
- Uma experiência muito secreta, não pode contar, o.k? - Colocou o indicador na frente dos lábios para indicar segredo.
Agnes voltou a mexer em sua mistura carmin, pingou algumas gotas em um frasco, tomando coragem, bebeu todo. Não estava certa se deveria ter feito isso, mas tinha de ter coragem para descobrir a poção que tanto desejava. Tinha um gosto nojento de prego e fígado de boi. Sentiu vontade de vomitar. Olhou se no espelho procurando alguma diferença em seus traços, mas só sentiu como se uma nuvem de mosquitos lhe picassem ao mesmo tempo. Quando olhou para seus braços estavam cobertos de bolinhas vermelhas coçantes. Só podia ser um pesadelo, é claro, Murta caiu na risada, soluçava de tanto gargalhar.
- Não é muito elegante rir das pessoas em sua cara! Podia pelo menos me esperar sair! Murta grosseira! - Gritou com o espectro. Estava enraivecida pelo seu fracasso, e a coceira infernal lhe fazia querer gritar.
A Murta pôs as duas mãos na bocas indignada, abriu o berreiro novamente, deu um grito alto e entrou pela torneira. Agnes não se sentira nada culpada pelo que disse.
- Fantasma chorona. - as bolhas coçavam tanto, que Agnes apenas saiu depressa para a enfermaria do castelo esquecendo-se de ocultar seus objetos.
Chegando até a enfermaria, usou uma desculpa para não contar a verdade a madame Pomfrey. A mesma parecia bastante relutante quanto ao motivo fictício de Agnes, que consistia em ter caído dentro de uma casa de formigas-goblin. Porém, lhe deu um antídoto e a ordenou que ficasse na enfermaria aquela noite. Estava se sentindo frustrada e com coceira, então demorou para cair no sono. Felizmente, não sonhara com nada.
- Como assim? Sério? - Régulo ouvia Agnes no salão comunal na manhã seguinte. Estava bastante preocupado com a garota. - Sinto muito não ter ido lá, eu nem mesmo achei você.
- Ah, não. Não se preocupe, eu só fico frustrada, é como se não saisse do lugar nunca. - Pôs o cabelo atrás da orelha, falou um pouco baixo. Ninguém além de Régulo, sabia sobre sua experiência e seu sonho.
- Não deveria se cobrar tanto, afinal, é algo que ninguém jamais estudou sobre, além da pedra filosofal que não é a mesma coisa.
Régulo disse enquanto caminhavam para o café da manhã, Agnes continuou a contar a ele sobre o evento no banheiro feminino e sobre Murta. Não estava com fome de qualquer forma, mas acompanhou o amigo. Os testes para o quadribol começariam naquela semana, então a equipe da Sonserina estava bastante animada. Principalmente Régulo, que faria o teste esse ano. Não se interessava muito, na verdade, quase nada por quadribol, mas iria assistir os jogos daqui pra frente, caso Régulo entrasse.
Agnes comia sua torrada, quando o correio bruxo chegou entregando muitas cartas através das corujas. Era como se estivesse nevando cartas e pacotes. Nada viera para ela, como de costume. Mas aparentemente, na mesa ao lado, viera algo bastante barulhento.
- Isso não é um berrador? - Agnes ouviu James Potter falar na mesa da Grifinória. - De novo, Sirius? Ela não cansa?
- Só pode ser brincadeira - Sirius suspirou e abriu a carta que imediatamente começou a flutuar sob a mesa. Em voz alta e familiar começou a ressoar. Sirius ganhava cartas como aquela quase todo ano. Cada vez por um motivo diferente, mas naquele momento, fora pior.
" Caro, Sirius Black. Você não vai insultar a nossa inteligência mais uma vez. Quando chegar em casa novamente, terá o castigo que merece, você nunca terá solução. Ladrão. "
O salão inteiro ficou em silêncio, foi uma tensão muito constrangedora. Mesmo odiando Sirius, sentiu um pouco de pena do garoto. Sirius olhou para os lados um pouco envergonhado, enquanto a carta se desfazia em pedaços. Os colegas olhavam para ele um pouco chocado. James pôs a mão no ombro dele e o encarou com compreensão.
- não achamos que isso é verdade - Lupin disse tentando desvirtuar a situação. - não mesmo. Ladrão? Você jamais...
Sirius levantou-se bravo da mesa e saiu depressa. Estava exalando constrangimento. E Agnes entendia bem o porquê. Régulo observou a cena e saiu atrás dele. O que definitivamente era novo, mas fora consolar o irmão, ou repreender mais ainda. Agnes estava não entendendo absolutamente nada do ocorrido, mas preferira não se meter na situação. Afinal, não sabia nem um pouco sobre a relação familiar dos Black. Só o básico. Mas... Ladrão?

Killer QueenWhere stories live. Discover now