Capítulo 10 - Eu consigo com uma pequena ajuda dos meus amigos.

143 32 18
                                    

Depois de uma longa noite no salão comunal, chorando todas as suas mágoas para Régulo, que ouviu pacientemente, Agnes sentia-se mais infeliz do que nunca. Não fora expulsa ( por um milagre), mas estava bastante ferrada e sabia disso. Era uma fracassada tão completa que até mesmo Sirius tivera pena dela ( o que para Agnes era o completo fim do poço), ficaria mais algumas semanas de detenção e prof Slughorn a odiaria para sempre, era isso que pensava. Pode parecer apenas drama, mas na verdade, para Agnes, isso era realmente o fim. Slughorn fora o primeiro e único adulto que acreditara nela de verdade e estragara tudo sendo uma criança imatura. Suas palavras não saiam da mente de Agnes, " a diferença entre um sonserino da luz", aquilo latejava em sua cabeça.
Não queria ser má, não era má. Mas sentia-se como uma vilã, uma pessoa cruel e maligna que não se importava com ninguém, essa sensação era pior do que tudo.
Por mais triste que estivesse se sentindo, esconder-se no dormitório não melhoraria sua situação, decidiu reunir suas forças e ir para um novo dia de cabeça erguida, como se nada lhe afetasse ( nisso, Agnes era perita). Vestiu-se com roupas comuns, nem mesmo vestira seu manto ( Não existia essa obrigatoriedade durante férias e fins de semana, mas Agnes gostava da estética).

– Bom dia! – Deu um sorriso enorme para o melhor amigo, mesmo que se sentisse tão murcha. – Estou me sentindo ótima hoje, acho que é o destino. – Mentiu. Não queria ser um fardo para o amigo durante o resto do dia.
Régulo a observou um pouco chocado, na noite anterior presenciara Agnes se desmanchar em lágrimas por horas. De qualquer forma achou melhor não atrapalhar o esforço da amiga. Apenas deu-lhe alguns tapinhas nas costas em silêncio, sorrindo de lado. Os dois saíram do salão comunal.
O dia fora bastante chato, as férias estavam acabando, e o café da manhã não estava tão gostoso como de costume. O dia estava nublado e feio para ela, talvez sua tristeza estivesse afetando seu olhar sobre tudo. Tentou ao máximo pensar de maneira positiva, sabia que sua mente era sua maior inimiga, mas passara o dia inteiro engolindo o choro.  Tentou trabalhar em sua experiência, mas claramente sua falsa positividade não estava enganando nem a ela mesma, decidiu então, ficar sozinha na clareira, até o dia terminar. Só queria ficar em silêncio e sozinha algumas horas. Mas quando começara a nevar, se deu conta de que a clareira estaria úmida demais e até fria demais para isso. Ficou no pátio, já sem muitas opções.
Mesmo nas horas mais indequadas, Sirius tinha culpa de sua irritação, estava com aquela música irritante  na mente.
– You don't have to be a star... hey, hey, hey, lover – Cantarolava olhando para o nada, até se dar conta. – Sai da minha cabeça...
– Irritante, né? – Lupin se sentara ao seu lado, no chão. Não olhava para Agnes, mas para o mesmo ponto que ela. Estava vestindo roupas normais também e exalava um cheiro fresco de alfazema. Suas roupas eram claramente de segunda mão ( como as de Agnes costumavam ser, mas sabia feitiços bons para melhorar suas aparências) mas estava sempre caprichosamente arrumado.  – Ele nem gosta dessa música, não sei porque escolhera. – Disse sorrindo de maneira leve. Carregava um livro de Defesa contra as artes das trevas, provavelmente estava se preparando para os N.O.M.s.
– Porque o grande projeto de vida dele, é me enlouquecer até eu ser mandada pro Saint Mungus – Agnes resmungou, a companhia de Lupin não era exatamente o que esperava, mas também não era ruim. O garoto, como já mencionado, não se parecia com os amigos. Era muito gentil.  Ficaram sentados em silêncio por alguns minutos, Agnes percebeu que mais uma cicatriz surgira, em sua mão dessa vez. Não quis olhar muito, apenas desviou o olhar. Percebia que com o passar do tempo, o garoto parecia cada vez mais maltratado pela maldição.  – Você está bem?
Ele apenas sorriu de canto, continuou olhando para o horizonte. Claramente não queria falar sobre aquele assunto, Agnes sentiu um pouco de vergonha por tocar nele. Imaginou que era um assunto recorrente na mente do garoto e que não deveria tê-lo lembrado.
– Você está bem depois de ontem? – Lupin desviou do assunto.  Apenas balançou a cabeça de maneira afirmativa. Pensou que depois do ocorrido, Lupin nunca mais falaria com ela, já que Sirius era seu amigo. Mas Lupin, talvez achasse como todos, que essa rivalidade era uma grande besteira.  – Se tenho direito de lhe dar um conselho, diria que vocês dois deveriam parar com isso.
– Só que ele nunca vai parar... Você sabe. Você sabe que ele não vai. – suspirou, sentia-se  cansada disso. A vida inteira cedera a pressões de todos os lados, e a vida toda baixara a cabeça para pessoas como Sirius Black, e já estava exausta disso. Iria até o fim. – Se veio até aqui para me dizer isso, perdeu seu tempo.
Ele apenas riu e balançou a cabeça.
– Vocês são tão parecidos que é até mesmo engraçado se odiarem. – Saindo da boca de qualquer outra pessoa, teria deixado Agnes furiosa, mas vindo de Lupin não parecia uma ofensa.
– Nunca. Não temos nada em comum. – Agnes pousou a cabeça no punho sem olhar para o garoto. – Ao contrário de Sirius, eu não gosto de estragar a vida das pessoas.
– É mesmo? – Lupin sorriu para ela – Nem mesmo a dele?
Agnes abriu a boca em objeção, como Lupin podia tirar conclusões sobre ela dessa maneira. Mas ele a interrompeu.
– Não vim até aqui estressar você, de qualquer forma. Só queria saber se estava tudo bem. Você foi legal comigo. Não me esqueci. – Disse sorrindo sem mostrar os dentes. Agnes apenas o observou, baixando sua guarda.  – Se serve de consolo, Slughorn está mais triste do que você. Ele se apega fácil a pessoas talentosas. Logo ele esquece essa situação toda.
– Tomara que até lá, ele não arrume uma substituta – Mirou no professor, que estava conversando com Lilian Evans, a menina da Grifinória, esforçada como ela. Sentiu uma pontada no estômago ao ver aquela cena. Lupin deu um tapinha em seu ombro.
Os dois ficaram ali até o sol se pôr. Conversar com o garoto fez com que se sentisse melhor. Não sabia porque, mas sentia como se conhecesse Lupin por toda uma vida. Era como se ele fosse capaz de entender melhor do que os outros, mesmo que mal falassem. Amizades como a de Agnes e Lupin, acontecem pouco na vida, mas quando acontecem, nós sempre sabemos quando elas acontecem. São intensas, mas calmas. Mesmo que não se encontrem por meses e anos, as coisas nunca vão mudar.
Depois que o garoto fora embora, sentiu um peso menor em suas costas, mas ainda sim um peso. Decidiu pular o jantar e ir direto para o salão comunal, o que era raro, já que estava sempre com fome. Ficou em frente a lareira acesa, enquanto fingia ler seu livro, mas na verdade, só estava pensando um pouco. Ficara ali pensando, se algum dia poderia ser uma bruxa tão poderosa, que pudesse criar um cura para licantropia. Não era algo muito discutido, as pessoas no geral, tinham horror à isso. Talvez um dia, mas até lá garotos como Lupin continuariam sentindo daquela maneira. Fora dormir cedo o suficiente para não ver Régulo naquela noite.
Tivera o sonho mais estranho de todos até então, durante toda a noite vira apenas uma imagem em sua frente. Uma imagem que circundou sua mente, um pássaro negro bicava a madeira em um ritmo, toc toc toc, a noite toda, o mesmo ritmo familiar. Já ouvira aquele ritmo uma vez, mas não se lembrava. Poderia ser apenas o sonho lhe causando sensações.
Durante a noite, sentou-se na cama. Suas três colegas de dormitório não estavam na escola ainda, haviam ido para casa nas férias. O que para Agnes era uma sorte, agarrou a varinha e tocou suavemente na madeira da cama no mesmo ritmo do pássaro. As notas saiam da varinha como notas de piano, pareciam uma música de ninar.Aqueles sonhos estavam cada vez mais estranhos, então com o pouco conhecimento de piano que tinha ( Graças a Osprey, seu pai, que lhe ensinara um pouquinho aos cinco anos) escreveu as notas que ouviu no sonho. Tinha um pequeno truque, " Do, igual ao passaro dodô, Ré, igual Rouxinol" e assim por diante, igual o pai lhe dizia, enquanto estavam sentados no piano da casa Birdwhistle, que costumava ser muito mais bela. Sentada ali escrevendo as notas, lembrava de seus dedos pequenos e gordinhos tentando tocar as teclas que para ela, ficavam muito longe uma da outra. " Você tem talento para música, meu pequeno passarinho " ele dizia para Agnes em frente ao piano. Osprey era um homem  bonito, jovial e todos sempre falavam de seu inabalável senso de humor. Talvez ela herdera isso dele, já que comecara a rir da tolice que era, estar ali sentada sentindo falta do homem que lhe abandonara naquela miséria. "Maldito seja, Osprey Birdwhistle ". Terminara de escrever antes que uma lágrima fina molhasse o papel. Fechou o caderno e deitou-se nos lençóis de seda esmeralda.

Killer QueenWhere stories live. Discover now