Capítulo 20 - Sirius Black.

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Já para Sirius, as coisas não estavam tão tranquilas como uma noite de verão. Pelo contrário. Depois de seu pequeno show no jantar de Walburga, os dois pais quiseram vê-lo ( na casinha do cachorro, piadas a parte) no escritório de Órion. A verdade é que depois de tantos anos de xingamentos e insultos, esses momentos não traziam mais tanto pesar para ele. Mas havia algo inegável no ar, as coisas estavam mudando. Quanto mais ele crescia, mais reais pareciam as ameaças. Ele não acreditava que estaria ali, naquela casa, por mais muitos anos. Mas não conseguia evitar, sentia tanta raiva dos pais, sentia tanto desprezo pelos ideais e por tudo que eles representavam para ele. Acabava fazendo coisas como aquelas que fizera no jantar, não conseguia controlar, era tanto ódio. Odiava aquelas pessoas, os Malfoy engomadinhos que se escondiam atrás dos superiores e sempre eram tão subalternos. Odiava os Lestrange e principalmente a prima Bellatrix. Não suportava a completa falta de humanidade da mulher, que parecia sempre tão estranha e louca. Histérica era a palavra que a definia.
Mas o que mais era odioso para ele, era a injúria de ser tratado como um bicho selvagem desde que se lembrava. Quando Sirius nasceu, ele era o primeiro filho. 3 quilos e meio e ralos cabelos negros que logo evoluíram para uma cabeleira bastante rebelde quando tinha por volta de cinco anos. Ele não lembrava perfeitamente como era ter cinco anos, mas se lembra de como nunca se dera bem com Monstro, o Elfo. Sirius costumava ser uma criança franzina, pois odiava a comida de monstro e não suportava ser alimentado por ele. Fazia os pratos ricochetearem por toda a cozinha. Quando ele tinha 7 anos, Walburga insistia em fazer o menino ter aulas de piano, mas ele costumava sair correndo e se escondendo no armário da sala ( além de fazer surgir uma salamandra no cabelo da professora, jurando não saber como). Ele sabia que não tinha talento pra música e principalmente, tinha aversão a disciplina. Aos onze anos, já era a persona non grata da família... E ele adorava isso.
Sirius sempre teve uma queda pela rebeldia. Ele entendia que esse traço era uma consequência de como era tratado, mas no fundo, isso viria a tona de qualquer maneira. Porque quebrar todas as regras era a sua coisa favorita em todo esse jogo de vida humana, lhe trazia certa satisfação. E o chapéu seletor sabia disso quando gritara: " Grifinória!"
A partir daí, as coisas nunca mais foram as mesmas, Sirius abraçara sua completa diferença de sua família e tornara um projeto fazer com que eles se orgulhassem o mínimo possível dele - o que nunca fora difícil - que podia facilmente ser visto como uma maneira de autopreservação, entrementes, quanto menos ele se parecesse com Órion e Walburga, mais certa seriam as suas ações.
Ele foi pego pelo braço por Walburga, conseguia sentir as unhas da mulher pressionando o músculo do braço. Ele tentou se desvencilhar com força, mas sem sucesso. Foi arrastado para dentro do escritório, que Sirius costumava chamar de Gulag, já que era alí que ele era tratado como um preso de guerra. O lugar era mal iluminado e tinha cadeiras de pele de crocodilo, que o menino achava ridículo. E o papel de parede poderia ter sido trocado a umas três gerações.
Órion estava parado diante a janela, de costas para os dois. A mãe fechou a porta, não queria que ninguém ouvisse a punição.
- É claro agora, que você não tem mais solução. Você nunca vai endireitar-se, vai ser sempre um menino mimado e ingrato. - O homem disse com seriedade na voz, um tom de arrepiar a espinha. Parecia prester a tomar uma decisão. - Andei analisando as leis bruxas e felizmente não há nenhuma que me impeça de te exilar dessa casa.
- É claro. PORQUE VOCÊ SERIA CAPAZ DE FAZER ISSO COM SEU PRÓPRIO FILHO! - Sirius gritou, não sentia mais o próprio corpo. Estava dormente. Deu um soco na escrivaninha.
- Você não é mais meu filho a muito tempo. - Órion apontou o dedo para o rosto do garoto, que o encarava de igual para igual. Sirius tinha um brilho rancoroso nos olhos, enquanto o brilho de Orion era de crueldade. Um silêncio se estendeu pela sala por alguns segundos, os dois pareciam inflados de ódio. Sirius sentia seus dedos tremerem e sua garganta seca.
- Essa será a última vez, Sirius Black. - Walburga ergeu o braço de Sirius, olhando-o nos olhos, colerica. - Que você desrespeita essa família. E não aceitaremos que saia um dedo da linha daqui pra frente, ou está fora. Deixarei você morrer na rua.
Sirius prendeu os olhos no chão, longe do olhar cruel da mulher. Sentiu algo quebrar dentro dele quando ouviu a sentença. Se soltou das mãos da mulher e saiu do escritório, batendo a porta com toda a força que lhe sobrava naquele instante. Subiu ao próprio quarto e trancou a porta.
Ele se sentou aos pés da cama, no chão, abraçando os próprios joelhos. Estava fundo dentro do próprio sentimento, dentro do próprio rancor. Não sabia como era possível que pais pudessem desejar que os próprios filhos morressem, não podia entender. Sirius não sabia nada sobre amor paterno, afinal nunca tivera. Mas ele tinha uma idéia do que era, algo tão forte e impossível, que seria preferível morrer do que precisar ver um filho fazer isso. Pelo menos era isso que ele achava que deveria ser. Ele não entendia porque não era assim com Orion e Walburga. Sirius nunca admitiria - nem mesmo admitiu- em voz alta, mas ele sentia falta de ser amado. No fundo, ele sentia que nunca fora.
Suas mãos estavam vermelhas de tanto pressionar os punhos, ficara sentado na mesma posição por um longo período. Pensara em pegar todos os seus pertences, jogar em seu malão e ir embora ele mesmo. Se imaginou saindo pelo hall da frente levando vários itens valiosos com ele, e batendo a porta com força. Nunca mais precisando olhar para aqueles estúpidos novamente.
No quarto dele, havia uma porção de objetos estrategicamente posicionados para irritar os parentes. Dois ou três pôsteres de mulheres trouxas de biquíni, algumas bandeirolas da Grifinória, fotos com os melhores amigos, os Marotos. Uma miniatura de uma moto de colecionador e uma lanterna que ele roubara da coleção de artefatos trouxas de Hogwarts. Não servia de nada para ele, mas era legal tê-la na estante. Além disso, algumas de suas roupas estavam espalhadas pelo local, a maioria poderia ser facilmente usada por um astro do rock trouxa ou apenas um garoto aspirante a motoqueiro, uma delas, sua jaqueta favorita. Em um quadro de aviso, algumas cartinhas de amor que ele recebera, mas guardara para rir delas. Não entendia porque as garotas eram tão sentimentais. Além disso, fazia-no sentir popular e com ego nas alturas. Mas ainda achava bobagem, afinal, nunca sentira paixão por pessoa alguma. Já tivera uma porção de pequenos romances, mas nada que o fizesse sentir como costumava ver James sentindo. Então para ele, esse tipo de apego emocional era apenas uma tolice passageira.
Mas sua cartinha favorita, era a que recebera em seu quarto ano. Era elegante, com requintes de ofensa e um toque perfumado de pura ira. Nela dizia:
" Gostaria de pedir, encarecidamente, que você pare de usar Wingardiu Leviosa nos meus bolinhos de aveia, seu tapado, idiota. Com ódio e completa falta de paciência, Agnes" ela havia mandado para ele, depois de rotineiramente roubar os bolinhos de aveia - que ele achava grotesco - do prato dela toda manhã, por 2 meses. Se ele se concentrasse, conseguia lembrar da expressão de Agnes sempre que eles saiam voando e sumiam. Na verdade não era um feitiço, era apenas a capa da invisibilidade. James o ajudava com a manobra.
Ver a carta de insulto de Agnes, fez Sirius viajar para as memórias de todas as vezes que fizera a menina ter um ataque. De todas as pessoas, era mais divertido de atazana-la, já que era tão ingênua e estressada. Lembrou-se da vez que colocara loção-completa-careca ( que encontrara por acaso na Zonko's) no suco da garota. Não fora difícil, já que ela era tão descuidada e desatenta ( Não entendia porque diziam que ela era uma garota inteligente, se claramente era estúpida, mas não vem ao caso).O que fez lembrar-se da vez que atrapalhara a festa de natal de Slughorn e de como seu cabelo estava cheiroso naquele dia. Bem, não exatamente. Não que isso interessasse. Na verdade, ela era tão não-bonita... Agnes não tinha cabelos cheirosos e nem olhos bonitos e nem nada de especial, era apenas uma garotinha boba e chorona, extremamente irritante e trapaceira. E também, era bem feia. Na verdade Sirius poderia fazer uma lista de mais de trezentas páginas de como Agnes era completamente imperfeita, mas detestava fazer listas porque exigiam que pensasse muito e era trabalhoso. Mas o fato, é que ele a desprezava. E também achava seu nariz torto.
Pelo menos era assim que Sirius gostava de pensar ( ou gostava de verbalizar).
Naquela noite, ele apenas tirou a camisa azul escuro que vestira pro jantar e jogou-se na cama, adormecendo. O que não durara muito.
Alguém batia na porta. Levantou-se com os olhos marejados de sono e abriu. Mas logo arregalou os olhos de susto. Era Agnes.
- O que é que você quer!?- disse em um tom mais assustado do que pretendia. A menina cobriu os olhos imediatamente, emitindo um som enojada.
- Se vista! - Agnes mantinha as mãos sob os olhos. Ele apenas revirou os olhos para ela afinal, quem estava batendo na porta de seu quarto as duas da manhã, era ela.
- Estou confortável assim. Desembucha.
- Primeiro... Obrigada pelo lance do jantar - A menina parecia estar amaciando para o que viria - Foi legal. Você é uns 5% legal quando não é um babaca, que no geral é o que compõe 95% da sua personalidade.
- Abutre Birdwhistle, eu não vou repetir. - Sirius fez um gesto de fechar a porta, mas Agnes a empurrou com a mão.
- Espera! Tá bem, tá bem. Eu só...parece errado demais pedir sua ajuda pra isso.
- Ajuda pra que? - Ele franziu a testa. - O que está aprontando? E olha que novidade, aparentemente não é contra mim.
- Idiota - Cruzou os braços - Eu só...Sirius eu preciso da sua ajuda, parece errado pedir. Tem esse livro, que é muito raro, apenas um exemplar. E seus pais tem a posse dele no cofre. Eu pensei que talvez...- Agnes mexia nos próprios dedos com nervosismo.
Livro. Um livro? Até quando ela poderia ser tão entediante? ele pensou. Aparentemente a níveis extremos. Mas Sirius não faria isso, não ousaria sair um dedinho da linha depois da conversa que tivera com os Black. Sirius costumava aprontar coisas bem mais intensas que o roubo de um livro bobo, mas dessa vez, nem isso era possível. Houve a vez em que Sirius e James fizeram chover no corredor do quinto andar. Ou a vez em que eles trancaram a porta de todas as salas, só porque era divertido rir dos professores tentando abri-las. Ou a situação da mesa da sonserina, que deixou os professores e alunos bastante zangados. Todas aquelas vezes, ouvira uma porção de reclamação dos pais, ameaças e ofensas, mas nada como aquilo. Ele sentia que daquela vez era sério. E por mais destemido e desapegado a regras que fosse, não poderia.
Sirius deu um sorriso malandro para ela.
- Espera aí, está dizendo que quer roubar os meus pais? - Ele riu - Olha aí a verdadeira Sonserina vindo a tona.
- Sirius, por favor. Não posso pedir isso a Régulo. E não é roubar... é pegar emprestado sem ele saber.
- Claro que não pode pedir a ele, ele ficaria furioso... Seria uma traição completa, isso é certo. Imagina, você roubando a família dele assim, na espreita. Mas a amiga é você, quer dizer... Se você quer. - Ele começara a tagarelar bem rápido - E eu ganharia o que com isso? Talvez uns beijos? É seria uma boa. Talvez você carregando meus livros pelo resto do ano também. Perai você já beijou alguém antes né?
- Para! Para, para de falar! - Agnes enfiou as mãos em sua boca, calando-o. Parecia mais nervosa ainda.
- Agnes, por mais tentador que pareça aprontar uma dessa. Eu estou na corda bamba. Não tem chance alguma de eu ajudar você. Os dois servos de satã podem me expulsar. - Puxou Agnes pelo braço para dentro do quarto, falando em tom mais baixo. - Eu sei que você adora mergulhar na própria ambição, até que isso te afogue, mas não dá. Me tira fora dessa.
Ela puxou o braço, dando um passo para trás.
- Mas você sempre apronta, você até disse que entrar em uma biblioteca escondido era facilimo. - Agnes Suspirou.
- As coisas mudaram. - Disse simples, ajeitando o cabelo de Agnes atrás da orelha, que teu um tapa leve na mão dele.
- Tudo bem, Sirius. Eu não quero que você arrisque ser expulso pra me ajudar igual eu fiz com você e seus amigos. - Disse Agnes em um tom manhoso, de falso contentamento. Mas Sirius podia notar que estava nervosa, seu rosto quase escorria suor. - Homens são assim mesmo, pegam tudo de você e vão embora. Mas saiba que você está me devendo um favor.
Sirius apenas revirou os olhos com os braços cruzados. E isso nem era tecnicamente verdade, já que ela deixara claro que estava ajudando o senhor " Eu sei fazer amizade com todo mundo " Lupin.
- O que vocês aprendem na comunal da sonserina? " Como manipular e mentir, turma avançada"?
- Sim? Aprendemos a enganar Grifinórios no segundo ano. Era o dom de Salazar. - Deu um sorriso Irônico para ele. - Não sei porque o símbolo de Grifinória é um leão, devia ser de uma galinha medrosa se tremendo toda. - A menina riu baixinho.

Aquela frase foi a chave necessária para convencê-lo, afinal, como ousava dizer que ele não tinha coragem? Sirius explicou para Agnes que a chave dos cofres ficavam guardadas no escritório de Órion, mas depois da última vez em que Régulo pegara o anel e Sirius assumira a culpa, eles decidiram esconder as chaves melhor. Logo, teriam duas opções;
Abrir a porta do escritório com um feitiço, ou se esgueirar pelo quarto dos pais. O que para ele, era uma idéia muito arriscada, mas era uma opção. Já fizera isso algumas vezes, mas dessa vez valia muito mais.
Não pregara os olhos por um minuto naquela noite, ficou imaginando o que James iria sugerir. Com a capa da invisibilidade eles provavelmente fariam isso muito facilmente, da mesma maneira que entraram escondidos na sala de Slughorn para roubar ingredientes ( que o homem dera falta tempos depois) ou então como costumavam usar a capa para matar algumas horas de aula do lado de fora do castelo de Hogwarts. A verdade, é que quando estava com James, tudo era absolutamente possível. Sirius e James eram, como diziam, inseparáveis. Por mais difícil que as coisas estivessem, eles sabiam que encontrariam uma casa para onde voltar, um ao outro. E da maneira mais Grifinória e impulsiva possível, Sirius seria capaz de dar a vida pelo amigo. Imaginou que ele riria dessa afirmação.

No dia seguinte, sentia os olhos pesarem enquanto tentava mastigar a torrada com geleia na mesa da cozinha. E o sol que entrava pela janela, não ajudava em nada a manter os olhos aberto. Observando o quintal, conseguiu ver Agnes e Régulo do lado de fora. Eles estavam sentados no chão, jogando xadrez-bruxo e riam como se aquele jogo tivesse mesmo graça. Mas quando se está com alguém que lhe é tão estimado, coisas que não tem a mínima graça, passam a ter. Tinha essa sensação quando estava na aula de transfiguração com James e tudo parecia engraçado. Até quando Minnie - Minerva - fazia-os responder alguma pergunta complicada da qual não estavam prestando atenção.
Régulo era um pequeno - como diria Sirius - "pé no saco". Quando ele tinha apenas um ano de idade, o irmão nascera. E ao contrário de Sirius, era como se o garoto tivesse todos os olhares admirados dos pais, e todas as expectativas também. Mas Sirius nunca invejou Régulo, na verdade, ele gostava de estar perto do irmão, pelo menos até ir para a escola. Ele tinha o forte instinto de sempre proteger Régulo de qualquer coisa que os pais faziam, como se pudesse evitar que ele se tornasse tão amargurado quanto Sirius. Mas a verdade é que ele não era capaz de evitar nada, e quando entrou para Hogwarts fora o momento que dividira os dois até o presente. Régulo decidiu que não queria se parecer com Sirius e nem ter relação alguma a ele. E sem entender mais nada, Sirius apenas se afastou do garoto. Mas ainda gostava dele, e gostava de vê-lo alegre, que era raro, exceto quando estava perto de Birdwhistle.
- Você está trapaceando - Disse Agnes para Régulo.
- Não é trapaça, é uma estratégia de vitória. - Régulo começara a rir da garota que estava injuriada.
- Trapaceiro. - Ela sorriu derrubando todas as peças de cima do tabuleiro.
Sirius se perguntava se deveria anotar as falas deles, para escrever um livro sobre o ecossistema das cobras venenosas. A regra é clara, nunca aposte nada com um sonserino. Ele vai dar um jeito de vencer, trapaceando. Afinal, todo bruxo famoso da sonserina se tornara um trapaceiro notório. Salazar Sonserina construira uma câmara que guardava um monstro temível, quando ele não conseguiu vencer uma discussão. Voldemort criara um grupo de assassinos quando ele não conseguira ter suas ideias aceitas. Merlin? Bem diziam que ele trapaceava no xadrez igual Régulo. Mas o fato era, que era possível analisar essa característica trapaceira até nos alunos jovens.
Severo Snape tentara revelar a escola que Lupin era um lobisomem se esgueirando através deles, Agnes o envenenara com uma poção do amor quando ele estragou sua festa, e Régulo mentia pra si mesmo o tempo todo. Os sonserinos eram criaturas mentirosas, trapaceiras e manipuladoras, na visão de Sirius. E a coisa que mais detestava era que ao contrário dos Grifinórios, bruxos naturalmente destemidos e que enfrentavam as adversidades de frente...os sonserinos eram sorrateiros. Eles faziam as coisas de maneira soturna, escondida, igual as cobras.
Sirius ainda observava janela a fora.


Killer QueenWhere stories live. Discover now