Darkness Within You || 𝐋𝐞𝐠𝐨𝐥𝐚𝐬

Capítulo 14| Memórias

↞ 𝑮𝒂𝒏𝒅𝒂𝒍𝒇 ↠

Como deixei chegar a este ponto? Eu sabia que não a devia ter deixado ir embora naquele dia, há tanto anos atrás. Porque não a sentei naquele momento e contei-lhe tudo o que ela tinha direito a saber?

Como fui tão ingénuo em pensar que, com o tempo tudo poderia voltar ao lugar que devia. Pensei que, depois de lhe dizer para ela parar com aqueles truques de magia o selo que a protegia voltasse a fazer efeito.

Eu devia ter estado mais presente, o destino da Terra Média esteve nas minhas mãos desde o momento em que encontrei aquela bebé. Aurora é a última descendente de Sauron, assim como a sua mãe era, e agora que ele estava de volta, penso que foi tudo por minha causa.

Eu devia de a ter procurado mais cedo, devia ter sido no momento que soube que ele estava de volta. Assim que a minha aventura com os anões e o hobbit tivessem acabado.

"Já é tarde demais, como é que ela chegou a este ponto?" Penso em voz alta uma vez que Legolas se volta a juntar ao nosso grupo.

"Ela queria ficar sozinha." O elfo fala e eu volto para os meus pensamentos.

"Gandalf disseste que ela mal conseguia convocar uma chama na palma da sua mão, como é que ela pode conjurar adagas agora?" Lord Elrond pergunta e com razão.

"Eu não sei. Tenho que ir falar com ela, a sós." Sigo na direção da saída.

"Talvez amanhã seria melhor." Aragorn impede-me pondo-se à minha frente.

Concordo com Aragorn e retiro-me para o quarto onde estava a ficar. Aurora precisava de descansar e eu tinha que começar a procurar por uma forma de fazer o poder que Sauron sobre ela desaparecer ou o pior podia acontecer.

↞ 𝑨𝒖𝒓𝒐𝒓𝒂↠

Eu passeava pelo palácio, em direção aos estábulos onde Nahar estava. Entro no lugar que parecia ser repleto de magia como o resto daquele sítio. Assim que chego perto do meu companheiro de viagem sou recebida com o seu chilro.

"Não me digas que isso é tudo saudades." Brinco acariciando o seu focinho.

"Ele gosta muito de si." Ouço a voz profunda de Arwen a aproximar-se.

"Ele é um cavalo extraordinário." Completo e dou um leve beijo na sua cabeça.

"Se quiser podemos sair para ir dar uma volta." A elfa fala e sinto um sorriso formar-se no meu rosto.

"Isso seria perfeito." Respondo e a princesa chama dois elfos que preparam os nossos cavalos.

Em alguns minutos eles estavam prontos e eu subo no dorso do animal sentindo-me completa. Sigo atrás de Arwen que iria indicar o caminho, pois ela conhece estas terras como a palma da sua mão.

Passamos o resto da manhã fora do palácio de Rivendell, foi bom enquanto durou, não ter que pensar em mais nada se não no caminho à nossa frente e quem conseguiria ir mais depressa. A companhia de Arwen era o que eu estava a precisar, a presença de outra pessoa do sexo feminino. Eu estava cansada de estar rodeada por machos alfas, ditando o que eu faria ou não com a minha vida.

Voltamos ao palácio horas depois, mais precisamente depois da hora do almoço. Deixamos os nossos cavalos no estábulo e seguimos até ao salão grande onde faríamos as nossas refeições. Assim que abrimos as portas somos conhecidas com um grupo de machos furiosos.

"Aurora, onde é que estiveste?" Gandalf pergunta pisando pesado na minha direção.

"Fui dar um passeio a cavalo com Lady Arwen." Explico calmamente e rapidamente vem me à cabeça que não devo satisfações a ninguém. "E aliás eu não tenho que te dar explicações nenhumas." Continuo depois deixando o feiticeiro furioso que para a alguns metros de mim.

"Nós estávamos preocupados, apenas isso. De manhã não estavas no teu quarto, nós pensamos que..." Aragorn fala aproximando-se de nós, deixando Legolas no fundo da sala com Lord Elrond.

"Vocês pensaram que eu tinha fugido?" Interrompo o homem olhando para Gandalf que desviou o olhar confirmando a minha pergunta, assim como Legolas. "E para onde fugiria? Não é como se eu tivesse alguém à minha espera numa cabana aqui perto." Falo tentando esconder a deceção na minha voz com o pensamento do grupo. "É melhor eu ir."

Saio daquela divisão e tento encontrar o caminho de volta para o meu quarto. Devo ficar surpreendida que eles tiveram tal pensamento? Ou apenas desiludida que eles pensam assim tão pouco de mim. Acabo encontrando a porta que queria e tranco-a assim que entro.

A verdade era que eu já pensei em fugir e continuar a viver como sempre vivi. O único problema era que eu tinha algo desconhecido e meio adormecido dentro de mim e que sem eu querer podia magoar aqueles à minha volta. Pessoas inocentes. Talvez, quando tudo isto tiver acabado eu desapareça da Terra Média e nunca volte. Quem sabe. Pode ser um dos caminhos.

Não saio do meu quarto o resto do dia, tinha voltado a perder o meu apetite. Deito-me na cama macia que eu já me tinha habituado e adormeço sem grandes dificuldades. Com tudo o que me estava a acontecer eu poderia ter sonhado com qualquer coisa, mas o meu sono foi passado a recordar-me de memórias que tinha com Elliana. Minha mãe adotiva.

Eu lembrava-me das histórias que ela costumava contar-me antes de eu ir dormir, histórias que pareciam contos de fadas e que, agora que penso bem, depois de tantos anos a andar sobre este mundo, elas eram tão reais como qualquer história de Gandalf sobre uma guerra que ele tinha lutado.

Lembrava-me das canções que ela me sussurrava quando eu tinha pesadelos e não tinha coragem de voltar a dormir. E quando as canções não resultavam, nós simplesmente passávamos as noites em branco deitadas no prado na frente da nossa casa a ver as estrelas até o cansaço me vencer.

Eu tinha tudo naquela altura e nem sabia. O que eu faria para voltar a ter um momento frente a frente com ela e agradecer-lhe por tudo o que ela fez por mim. E que quando me sinto triste são as memórias que tenho com ela que me ajudam a ficar mais alegre.