Café frio

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Desgastado, Goku tentava infrutiferamente, ao menos, tomar um copo de café para ter energias. Estava tão corrido que nem tempo pra isso ele tinha, basicamente. Estava quase na hora de ele ir para casa e Chichi vir para o lugar dele, ao menos poderia chegar mais cedo em casa e ligar para os pais, para poder ver Gohan e Goten.

Pela milésima vez foi interrompido e o café já estava frio, então nem se importou mais com isso. Se dirigiu a sala de tratamento que foi chamado, e para sua surpresa, quem estava lá não era o paciente que ele tinha consultado mais cedo. Era seu avô, e Vegeta estava com ele.

— Vô? O que houve? Tá se sentindo mal? — Piscou freneticamente, tentando reprimir a vontade de abraça-lo.

— Estou bem, Goku.

— Então o que está fazendo aqui? Sabe que não pode sair de casa, não faz ideia de como estar aqui é perigoso.

— Ele foi transferido pra cá, a clínica ficou sem hemodiálise e aqui ainda temos para fazer. — Vegeta respondeu, olhando a ficha dele. — Eu vou buscar. — Ele se retirou da sala de tratamento, nem percebendo a tensão que ficou pairando pela sala.

— Hemodiálise?

— Meu filho, lamento não ter contado. — Senhor Gohan suspirava fraco.

— Tá fazendo hemodiálise há quanto tempo?

— Tem pelo menos dois meses.

— Dois meses? Tá na fila pro transplante e nunca ia me contar? — Ele perguntou revoltado.

— Você sabe que não gosto que se preocupem comigo.

— Pelo amor de Deus, vô. Pretendia ficar nessa até quando? Quem sabe disso?

— Goku...

— Quem mais sabe?

— Seus pais, seu irmão.

— Porra! — Goku soltou um palavrão e em logo seguida arregalou os olhos. — Me desculpe. — Não queria ser grosso com seu avô. — Por que nunca me contaram?

— Meu jovem, você estava tão feliz com Chichi e os meninos. Por que te incomodar com meus problemas?

— Nós somos uma família, vô. A gente sempre vai se preocupar e querer cuidar. — Goku lamentou não poder chegar mais perto dele, afinal, não era nem seu paciente.

— Não estou morrendo, Goku. Para de me agourar. — Senhor Gohan se irritou, como um bom velho teimoso.

— Não tô.

— Muito bem.

— Quanto tempo de hemodiálise?

— Três horas. Logo estarei de volta no meu aconchego, na minha poltrona quentinha e meu cachimbo. — O velho deu um sorriso, imaginando-se fazendo anéis de fumaça

— Ei, sabe que não pode fumar.

— E quem se importa? Eu tô velho.

— Tá velho, mas tem que se cuidar.

— Muito bem. — Vegeta chegou, pronto para iniciar a hemodiálise. — Goku, já deu tua hora e a Chichi não chegou.

— Ok, vou ir pra casa e ver o que houve. Cuide bem do meu avô.

— Quando eu sair daqui, Goku, vou fazer você enrolar cigarros pra mim, como quando você era menino. — O velho deu um sorriso carinhoso.

— A gente vai é tratar esse teu tabagismo.

Goku apenas tirou a roupa descartável que usou, mas estava com tanta pressa que correu para casa, esquecendo-se de trocar de máscara. Quando chegou, retirou os sapatos na porta e foi imediatamente higienizar as mãos. Chichi desceu as escadas lentamente, apropriadamente uniformizada, mas ela estava bem vermelha, algo que preocupou Goku. Antes dela descer os degraus por completo, ele estendeu a mão, ajudando-a descer.

— Você está bem? Tá vermelha, tá passando mal?

— Eu tô... — Institivamente, ele levou a mão destra para a testa dela, sentindo a pele quente demais.

— Tá com febre.

— Eu... não tô conseguindo...

— Respirar? — Ele a sentou no sofá e correu para o banheiro e dentro do pequeno armário, pegou o nebulímetro e foi correndo entregar para ela. Assim que ela pegou, colocou na boca e pressionou, enchendo os pulmões de ar, e depois o retirou.

— Tá melhor?

Chichi tentou respirar sozinha por alguns segundos, e conseguiu formular uma frase.

— Sim, obrigada. Foi só uma crise de asma, fazia tempo desde a última.

— Eu acho que não. Vou te levar ao hospital.

— Tá maluco? Já acabou seu turno e você precisa descansar.

— Eu não vou descansar em paz, até você fazer o teste.

— Você acha que é?

— Não tenho certeza, mas precisa fazer o teste. Vamos. — Ele buscou uma máscara nova e um novo nebulímetro. Estendeu a mão pra ela e dessa vez, ele fazia questão de usar o carro.

Quando chegaram no hospital, logo foi disponibilizado um teste rápido para ela, e enquanto esperavam o resultado, Chichi teve outra crise e foi levada para a sala de tratamento disponível, e como o nível de saturação dela estava muito baixo, foi induzida a oxigenoterapia, onde usava uma máscara de oxigênio, mas ela ainda estava consciente e por breves momentos retirava a máscara para falar com Goku, que ficou ao lado dela o tempo inteiro, mesmo que não fosse o médico responsável por ela.

Mas conforme o tempo foi passando, sua saturação foi diminuindo, e ela começava a ter diminuição no nível da consciência, e mesmo com os medicamentos para aumentar sua saturação, nada adiantava. E com muito pesar, ela foi intubada.

Enquanto estava em pé ao lado da cama dela, segurava as mãos dela, e por mais que estivesse desacordada, queria imaginar que ela pudesse sentir que ele estava ali com ela.

Logo chegou Vegeta com o resultado do exame, que infelizmente dera positivo. Mas ele também tinha outro resultado.

— Goku, há quanto tempo você e Chichi não conversam direito, como... casal?

— Ah, tem um tempinho, mas não é por falta de querer, é falta de oportunidade.

— Então imagino que vocês não imaginavam que o hormônio beta HCG dela tá elevado.

Goku paralisou por um minuto e arregalou os olhos.

— Não. Não, não é possível.

— É verdade. Por rotina eu pedi um exame de sangue completo, e daí vi que o BHCGH tá alto.

— Quanto tempo?

— Pelo menos vinte e seis semanas.

Goku estancou, sentindo todas aquelas informações lhe pesarem nas costas. Segurando as mãos de Chichi, as suas próprias começaram a tremer impiedosamente e seus olhos começaram a marejar.

— Goku, tem outra coisa. Com as crises asmáticas dela junto da covid, normalmente já afetaria os pulmões, mas como a gravidez pressiona os outros órgãos, inclusive os pulmões, a saturação dela cairia demais e ela precisa estar com a saturação estável para uma gravidez saudável. A questão é que: se manter a gravidez, Chichi terá de ficar intubada e virar uma espécie de incubadora humana para gerar o bebê, mas quando for desentubada, as sequelas podem ser arrasadoras. Se interromper a gravidez, ela poderá ser tratada com medicamentos e oxigenoterapia. Como você é o pai, e eu não posso desentubar Chichi agora, você precisa tomar esta decisão por ela.

MedicinaWhere stories live. Discover now