Tratamento experimental

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Lá estava ele se afundando de novo naquela velha garantia. Sentado no sofá, segurando um copo de rum, como se aquilo pudesse o fazer esquecer o que estava acontecendo. Na verdade, ele torcia para que funcionasse. O homem cuja a alma doía.

Sentia que tinha caído da nuvem mais alta e dado de cara no concreto.

Vegeta o mandou embora. Segundo ele, estava exausto demais para tentar tomar essa decisão no estado deplorável em que se encontrava, embora Goku não achasse que iria conseguir pensar direito, descansado ou não.

Como tomaria essa decisão? Só tinhas duas formas na qual ele conseguia pensar em como fugiria dessa situação.

Na primeira forma: ele pensaria como Chichi. Ela não iria querer abortar. Ela sempre tentaria buscar novos tratamentos, não importando o que teria que fazer. Mas ela também não iria querer passar a vida sendo dependente de outra pessoa pra viver.

Na segunda forma: ele pensaria por ele mesmo. Ele não iria querer abortar, mas não conseguiria ver Chichi como uma incubadora humana todos os dias. E depois de tantos meses, só Deus sabe as sequelas que ela teria.

Ele não queria tomar esta decisão. Já estava com dor de cabeça.

Levantou e cambaleou até a cozinha, tateou um dos armários e abriu, pegando uma caixinha branca. Dentro dela, buscou uma cartela de analgésicos e pescou um, tomando-o com a água da torneira.

Em passos lentos e preguiçosos, se arrastou para o andar de cima, para a cama, deitando-se sozinho novamente.

Estava sozinho e perdido.

Mais uma noite.

Apesar de tudo, ainda conseguira ter uma noite de sono agradável. Talvez a mistura do cansaço e a dor de cabeça tenha o feito apagar de vez assim que colocou a cabeça no travesseiro. Estava apoiado na bancada da cozinha, esfregando o indicador e o polegar da mão esquerda na testa, enquanto a outra mão segurava uma xícara de café forte, de olhos fechados. Suspirou e abriu os olhos. Ergueu a mão do café até a altura do rosto e aspirou o cheiro da bebida, para o despertar.

Bebeu aos poucos, mas sem estômago para comer qualquer outra coisa. Assim que terminou o café, pegou uma máscara descartável e saiu de casa, pronto para mais um turno, e ver Chichi, é claro.

Ao chegar no hospital, sua temperatura foi medida, e como estava normal, ele entrou para vestir a roupa descartável e foi logo subindo para ver Chichi. Vegeta tinha ido descansar, e outros médicos a vigiariam. Com as mãos cobertas pelas luvas descartáveis, ele retirou uma das luvas e segurou a mão dela.

Ficando um tempo assim, uma ideia correu pela sua cabeça.

Ergueu a blusa dela, pegou o tubo de gel condutor e espalhou sobre a barriga dela. Sabia que isso só tornaria tudo mais difícil. Via crucis autoimposta. Ele começou a deslizar o transdutor pelo abdômen dela, na mesma hora que Suno entrou na sala.

— Goku! Não faça isso. Vai piorar tudo.

— Eu tenho o direito de saber, Suno. — Ele se virou para trás, para olha-la nos olhos.

— Goku, acredite em mim quando eu digo que quanto menos souber, melhor será para tomar a decisão.

— Eu não posso viver assim. — Ele disse com a voz amuada e ela se calou. Então ele continuou o processo, mas desta vez, ele se virou para a tela para ver a ultrassom. Suno apoiou a mão no ombro dele, tentando lhe passar conforto.

— E então? —  Suno perguntou. Ele suspirou fundo e largou o transdutor.

—É um menino, meu Deus! — Pela primeira vez naquela situação, na qual ele tem feito um enorme esforço para não chorar, ele finalmente chorou.

MedicinaWhere stories live. Discover now