É isso, acabou.

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Deitada em sua cama, Chichi buscava uma posição confortável para ela e sua barriga, o que parecia ser uma tarefa impossível. Era sua segunda gravidez e ainda não conseguia se ajustar em uma posição que lhe agrade. Se revirava nos lençóis brancos de um lado para o outro na enorme cama, onde só ela estava deitada. Goku, por algum motivo que ela ainda não sabe, estava no andar de baixo. Apesar de estarem brigados, ainda dormiam juntos, mas foi um dia bem estressante para o Goku, então ela o compreendia que precisava de um tempo. Rosnou irritada.

— Mas que porra! — Sussurrou indignada.

Goku abriu a porta devagar, vestindo seu pijama e com o cansaço estampado em seus olhos. Caminhou para a cama, puxando Chichi para deitar abraçada a ele. Eles não trocaram uma palavra sequer, mas Goku continuava de olhos abertos, encarando o teto.

Então, finalmente Chichi encontrou uma posição que era confortável para ela dormir. Mas não conseguia. Apesar de estar cansada, ver Goku naquele estado tirava seu sono. Não poderia suportar aquilo por mais tempo, era infantilidade demais.

— Desculpe. — Ela sussurrou sincera. Isso já estava perdurando tempo demais. Goku deitou a cabeça para olha-la.

— Hm? — Sussurrou de volta, verdadeiramente confuso.

— Desculpe por tudo. Eu estava com medo de te contar e tornar tudo real. Eu não pedi para cuidar do seu avô, você sabe. Mas eu tive tanto medo — ela respirou fundo e se sentou na cama. — Medo de não conseguir gerar. De não conseguir. Tem duas vidas importantes pra você nas minhas mãos, e eu não quero te decepcionar, mas ao mesmo tempo é tão sufocante que eu nem consigo respirar ou pensar de forma clara, por isso eu disse tantas coisas ruins pra você, eu sei que não justifica, mas eu estou tentando — Ela fez uma pausa pra respirar e controlar as lágrimas que queriam escorrer pelo seu rosto.

— Chichi. — Ele se sentou na cama também e a abraçou, fazendo cafuné nos seus fios. — Eu já te perdoei há muito tempo, entende? Eu amo você, e antes de ser qualquer coisa minha, você é uma excelente médica. O que tiver de acontecer, vai acontecer se estiver nos planos de Deus. — Beijou o topo de sua cabeça, acariciando o rosto dela com o polegar.

— Você sabe que eu não acredito em Deus. — Ela deu uma risada sem graça.

— Não estraga.

Goku puxou Chichi para se deitar novamente. Logo, ela pegou no sono. Goku ainda se revirou na cama algumas vezes até conseguir dormir novamente.


Exatamente as quatro e meia da manhã, o celular de Goku vibrava constantemente na cabeceira ao lado dele. Demorou um pouco para ele despertar, já que estava em um sono profundo. Quando foi atender a chamada, a pessoa na qual estava ligando para ele, desligou, mas felizmente deixou uma mensagem de texto para ele.

Assim que seus olhos terminaram de ler a última palavra da frase da mensagem, não pôde impedir uma única lágrima de descer pelo seu rosto. Levantou da cama e seguiu para o banheiro do quarto para escovar seus dentes e se trocar.
Fez tudo silenciosamente, afinal, Chichi estava dormindo e ainda estava bem cansada. Vestiu seu casaco e uma máscara e saiu de casa lentamente. Dirigiu até o hospital. O enfermeiro chefe daquele turno quase impediu Goku de entrar, não sabia que se tratava de um médico, apesar de que, naquele momento, não estava ali como médico.
Entrou no elevador e seguiu para o terceiro andar do hospital. O corredor estava vazio, mas estava tão frio ali, que sentiu-se arrepiar por completo. Bateu duas vezes na porta do quarto e entrou lentamente.

Caminhou vagarosamente para perto da cama do hospital. Outra lágrima teimou em escorrer de seus olhos, mas logo parou. Toma se levantou da poltrona.

— O coração dela parou. Tentaram usar o choque nela e a massagem cardíaca... mas, ela não resistiu. Ela estava fraca, só quis descansar. — Disse com a voz trêmula.

— Eu sinto muito, Toma. Se tiver algo que eu possa fazer...

— Eu só te chamei aqui por consideração. Você é o pai do filho dela, tiveram uma história juntos. Eu não quero nada de você. Fui feliz ao lado de Seripa, não me arrependo de nada.

— Mesmo assim, obrigado.

— Eu imagino que tenha sido difícil pra você ter que encarar a volta dela, e levar Gohan para conhecê-la. Mas, eu digo com sinceridade, Goku. Quando ela dizia querer estar perto do menino, ela estava sendo honesta. Eu sei que é pedir demais, mas eu não ficaria em paz se não pedisse...

— Fique tranquilo, Toma. Eu irei ao funeral, mas o Gohan...

— Eu juro que vai ter pouquíssimas pessoas. Apenas eu, o pai e a irmã dela. Seria importante se o menino estivesse lá.

O silêncio se instaurou no quarto gelado. Goku refletia enquanto observava o corpo de Seripa sobre a cama. Logo as enfermeiras apareceriam para pega-la.

— Se precisar de algo, estou aqui. — Goku estendeu sua mão e pôs sob o ombro de Toma. — E de novo, eu sinto muito.

Ele se retirou da sala imediatamente. Aparentemente iria render o médico da noite mais cedo, afinal, não iria conseguir voltar para casa e dormir.
E assim o fez.



Chichi tinha acordado assustada ao perceber que Goku não estava ao lado dela como dormiram na noite anterior. O procurou pela casa, não o encontrou. Não havia indícios dele ter tomado café nem nada. Quando chegou no hospital, vestiu seu jaleco e procurou por Goku na emergência toda. Por fim, desistiu. Desceu para a patologia para poder buscar o resultado de um paciente.
Surpreendentemente, era ali que Goku se encontrava, sentado no fundo do corredor. Se aproximou, chamando pelo nome.
— Oi! Desculpe ter saído sem te avisar.

— O que houve? Tá fazendo o que aqui?

— Bulma me deixou ficar aqui um pouco para... você sabe... espairecer. Aqui é tudo quieto.

Ela se ajoelhou para ficar mais próxima dele. Acariciou seu rosto e deu um beijo na ponta do nariz.

— O que aconteceu?

— Seripa. Ela não aguentou. Toma me ligou de madrugada e eu vim pra cá.

— Eu lamento, Goku. Eu sinto muito, de verdade.

— Toma pediu para eu levar Gohan no funeral, mas não sei se é uma boa ideia.

— Eu sei que você vai tomar a decisão certa. Você vai saber o que é melhor. Mas eu tenho que te mostrar uma coisa. — Ela segurava as mãos dele, então quando ficou de pé, o puxou para ficar de pé também.

Antes de subirem para a emergência, Chichi pegou os exames do paciente. Doutora Black entregou para uma enfermeira e puxou Goku para o computador onde ela trabalhava. Digitou algumas coisas, enquanto Goku estava visivelmente confuso.

— Olha aqui. Eu estava tratando a Seripa. Pouco antes da gente brigar, ela me pediu uma coisa.

— Certo...? — Goku não estava entendendo.

— Ela pediu para ver se os rins dela estavam saudáveis, e bom, estão saudáveis. Daí ela pediu para eu comparar e ver se era compatível com outro paciente.

— Ela já não tinha esperanças de sair daqui com vida. Que horrível.

— É, sim. Péssimo. Mas, os rins dela são compatíveis.

— Então? Não estou entendendo. Sempre que um paciente vai a óbito, pedimos para os responsáveis para pensarem sobre doação de órgãos.

— Ela pediu para doar para o senhor Gohan.

Goku ficou em silêncio absoluto, desviou o olhar para o chão e se apoiou no balcão.

— Era vontade dela. Tenho toda a documentação necessária. E uma carta.
Goku voltou seu olhar para ela.

— Ela pediu para te entregar caso... caso acontecesse o que aconteceu. Tá no meu armário, endereçada no seu nome. Pegue e leia.

Ele concordou com a cabeça e seguiu para a sala dos médicos, onde buscou pelo armário de Chichi e tateou pela carta. Sentou-se em uma das cadeiras e suspirou. Abriu e começou a ler.





As gotas de chuva caiam gradativamente pelo vidro da janela do carro. Ele estava parado ali um bom tempo, tomando coragem. Trajando um terno preto como forma de respeito, buscou um guarda-chuva também preto pelo banco do passageiro. Saiu do carro e abriu, se protegendo da chuva. Respirou fundo, buscando a coragem que lhe faltava.

Abriu a porta do banco de trás e tirou Gohan da cadeirinha, protegendo-o debaixo do guarda-chuva. Caminhou com ele no colo por todo o caminho até se aproximar de onde estava acontecendo o funeral de Seripa.

Como Toma havia dito, havia apenas ele, o pai e a irmã dela. Ficou um pouco afastado deles. Até que Toma se aproximou.

— Obrigado por ter vindo, e ter trago o garoto.

— Era o mínimo a se fazer.

O silêncio tomou conta de tudo enquanto o caixão estava sendo enterrado. Gohan não entendia o que estava acontecendo, e ficou um tanto inquieto. Aos poucos, o pai e a irmã dela se foram.
E Toma também foi embora, visivelmente abalado. Gohan continuava inquieto, não entendendo o motivo de estarem parados ali.
Goku deixou uma flor rosa sob a lápide antes de ir embora.

MedicinaWhere stories live. Discover now