Vingt et un

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Setembro de 2019

Aimée se mexeu na cama e ao perceber que o dia já estava nascendo, desistiu de tentar dormir novamente. Na verdade, ela tinha dormido muito pouco, estava preocupada com Pierre, principalmente depois que ele pediu a ela que passasse a noite lá com ele. Imaginava que ele tinha sido vencido pelo cansaço depois de tanto mexer na cama e ela achou tê-lo ouvido chorar novamente no meio da noite.

No final, Aimée tinha achado bom ficar ali. Graças a ela, ele tinha aceitado jantar mesmo insistindo que não sentia fome. Ela sabia que ele não abriria mão da corrida, aquilo era o que o deixava mais feliz na vida e ela tinha certeza de que ele correria em homenagem ao amigo.

Pierre abriu os olhos pouco tempo depois.


— Oi. — Aimée disse baixinho e ele deu um sorriso triste. — Eu sei que é uma péssima pergunta para se fazer, mas como você está? — Pierre deu um longo suspiro.

— Acho que o melhor que alguém poderia estar nessa situação. — Ela assentiu.


Pierre continuou olhando nos olhos dela e Aimée notou como os olhos dele estavam fundos, comprovando seu pensamento de que ele quase não tinha dormido. Quis fazer um carinho em seu rosto, mas preferiu evitar o contato.


— Seus pais devem chegar daqui a meia hora. — Ela avisou depois de ler a mensagem de Pascal e Pierre assentiu.

— Vou tomar um banho e nos encontramos com eles para um café.

— Eu vou para o meu quarto, tudo bem? — Ele voltou a assentir e Aimée trocou de roupa, indo para o quarto reservado com suas coisas.


Não fez questão de organizar as coisas da mala, afinal iria embora naquele dia. Levou os produtos de higiene e maquiagem e uma roupa. Tinha tomado um banho rápido na noite anterior para não deixar Pierre sozinho por muito tempo, mas um tempo para ela seria bem-vindo.

A maioria das reflexões de Aimée aconteciam quando ela estava no banho e assim que entrou na água quente, todos os pensamentos e sentimentos vieram à tona de uma só vez. Quando ela sentiu que precisava estar ali naquele final de semana, ela jamais imaginaria que enfrentaria aquela situação. Por que ele? A pergunta que Pierre havia feito no dia anterior ecoou em sua mente seguida das lembranças do jantar com Anthoine.

Naquele momento ela permitiu suas lágrimas. Mesmo que ela não fosse amiga e nem mesmo tivesse convivido com ele, ela sentia a perda. Aimée não lidava bem com as perdas. Tinha descoberto isso com a morte de seu avô dez anos atrás. Era algo que mexia com ela e que ficava em sua mente por semanas, como se todo e qualquer assunto a lembrasse constantemente da perda.

Devidamente vestida e com uma maquiagem feita apenas para tentar disfarçar as olheiras, Aimée deixou o seu quarto. Passou no quarto de Pierre, que já estava pronto e desceram juntos. Chegaram na recepção no mesmo momento em que os pais dele cruzaram a entrada do hotel e Aimée ficou parada onde estava, já tinha dado seu apoio como podia e não queria interferir no momento com a família.

Pascal enxugou os olhos enquanto caminhava na direção da afilhada, acompanhada do marido de um lado e Pierre do outro.


— Obrigada! — Disse quando se abraçaram e Aimée não tinha lembrança de ter ganhado um abraço tão forte de sua madrinha antes.


O caminho até o restaurante assim como toda a refeição tinha sido em silêncio. Todos perdidos nos próprios pensamentos. Por mais que fizesse sol do lado de fora, continuaria sendo um dia nublado.

Léger et Inattendu || Pierre GaslyWhere stories live. Discover now