Vingt-Deux

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Mesmo com as chaves do apartamento de Pierre, Aimée preferiu comprar passagens para sexta à noite e chegar quando o piloto estivesse em casa. Isso significava fazer tudo mais rápido do que ela normalmente fazia, tinha menos de uma hora e meia para fazer um lanche, tomar um banho e fazer as malas, ou chegaria atrasada no aeroporto de Marselha.

Aimée tinha dado a sorte de conseguir um voo direto e chegou a Milão pouco antes das nove da noite, se surpreendendo totalmente com o temporal que caía na cidade. Não tinha imaginado chuva para aquele final de semana e nem tinha levado roupas mais quentes.

Pierre conferia o relógio na parede a cada dois minutos. Tinha se oferecido para buscar Aimée no aeroporto, mas ela havia recusado, insistindo que não queria atrapalhá-lo em um final de semana de corrida. Sentia-se ansioso em vê-la, mesmo que não fizesse sentido. Ele a tinha convidado, tinha finalmente pensado e chegado a uma conclusão, então por que se sentia tão nervoso?

Deu um pulo no sofá quando o interfone tocou, trazendo-o de volta à realidade. Liberou a entrada dela e sabendo que o elevador iria direto ao apartamento dele, destrancou a porta e a esperou ali.


— Oi. — Pierre abriu um sorriso para cumprimentá-la, notando em seguida como ela estava molhada. — O que aconteceu? — Pegou a mala da mão dela.

— O taxista não quis descer para tirar minha mala do porta-malas e eu peguei chuva até a entrada do prédio. — Explicou passando as mãos pelos braços, estava com frio.

— Vem, é melhor tomar um banho ou vai acabar doente. — Pierre fez o caminho até o quarto de hóspedes, acendendo a luz e dando passagem a ela primeiro. — Tem toalhas no banheiro. — Falou, se sentindo estúpido em seguida e Aimée deu um sorriso discreto.

— Obrigada. — Respondeu abrindo sua mala para pegar uma roupa.

— Pensei em pedir uma pizza. O que acha? — Aimée o olhou por cima do ombro, algo nele estava diferente.

— Pode ser. Não demoro. — Sorriu e seguiu para o banheiro assim que ele fechou a porta do quarto.


Aimée se arrependeu de não ter levado uma blusa de frio. Mesmo tendo tomado um banho quente, o apartamento estava frio e a chuva parecia ter ficado ainda mais forte desde que ela chegara.


— A pizza acabou de chegar. — Pierre falou com a caixa em mãos quando viu Aimée no corredor.

— Pie, você me empresta um moletom? — Ela pediu um pouco sem graça e isso só reforçou a ideia na cabeça dele de que ela estava se comportando de uma forma diferente.

— Claro. — Ele deixou a caixa na mesinha de centro e entrou na última porta do corredor, voltando pouco tempo depois com um moletom coral.

— Obrigada. — Aimée agradeceu, o vestindo sem demora e sentindo o perfume dele invadir suas narinas.

— O que foi? — Pierre perguntou ao ver que ela ria.

— Só lembrei-

— Da Marie aquele dia, né? — Ele completou rindo também quando ela assentiu.

— Ainda bem que foi a Marie que apareceu. — Aimée comentou lembrando-se do susto.

— Ainda bem que estávamos só no começo. — Pierre falou sem pensar e ela desviou o olhar, sentindo as bochechas esquentarem. — Vou pegar um suco. — Avisou indo para a cozinha e voltando com dois copos pouco tempo depois.


Aimée abriu a caixa reconhecendo os sabores típicos italianos, capricciosa e marguerita. Pegou uma fatia com um guardanapo e Pierre fez o mesmo. Comeram em silêncio e era um silêncio incômodo. Pierre percebeu que Aimée parecia receosa e sabia que deviam conversar logo, afinal de contas ele a tinha chamado para isso, mas ele parecia não saber o momento e nem como começar.

Léger et Inattendu || Pierre GaslyWhere stories live. Discover now