Capítulo 1

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Aquele com o cara sem camisa

O quarto estava girando. Ou talvez fosse eu? Não sei dizer, mas sei que o barulho do meu despertador nunca pareceu tão alto e irritante. Sem nem levantar minha cabeça, enterrada no travesseiro, tateei a cama em busca do aparelhinho que estava tentando me matar com aquele som. O encontrei perto da cabeceira e logo ele já estava desligado e a paz restaurada! Pelo menos foi isso que eu pensei.

Nem um minuto tinha se passado quando a porta do quarto se abriu e comecei a escutar alguém gritar meu nome:

- Vamos Louis, você não pode atrasar de novo! Vai, levanta!

- Me deixa dormir, mãe! Minha cabeça tá doendo! - Não tinha certeza de ser minha mãe, mas quem mais seria a essa hora, me acordando desse jeito? Confesso que minha cabeça latejava tanto que não consegui distinguir nem se era um homem ou uma mulher que me chamava.

- Mãe? E eu lá tenho idade para isso? Eu sinto muito pela sua cabeça, mas nada que uma aspirina não resolva! Vamos, ou vou ter que chamar a dona Jay de verdade pra te tirar daí? - O completo estranho dizia enquanto me puxava delicadamente pelos tornozelos para fora da cama.

- AAAAAA, 'tá bom! - Me virei na cama bufando e dando de cara com brilhantes olhos verdes que me encaravam. Num pulo me coloquei sentado, encostado na cabeceira, e sabia que em meu rosto uma mistura de medo e confusão estava estampada. - Quem é você?

- Ha ha ha, muito engraçado, mas anda logo, a aula começa daqui meia hora - disse a misteriosa figura alta se encaminhando para a cama à minha frente. Ele usava apenas uma calça de moletom cinza e por um minuto me perdi no emaranhado de tinta preta que preenchia a sua pele branca, pelo tronco e pelos braços, formando lindos desenhos. Os cabelos cacheados caiam sobre os ombros tornando a figura uma obra grega viva. Só sai do meu transe quando ele começou a abaixar as calças, mostrando uma boxer preta.

- Quem é você? É sério! - eu me encolhia tanto na cama que hora ou outra ia acabar sumindo.

- Louis?! O quanto você bebeu ontem? - Ele se aproximou de mim, já com a calça jeans vestida, e se sentou na ponta da cama em que eu estava.

- E-eu, eu...não muito? - foi quando realmente me dei conta de que não estava no meu flat. - Onde eu 'tô?

- Em casa! Lou, você tá passando mal?

- Não, eu, eu ...

Definitivamente eu tinha bebido demais! Como eu fui parar na casa daquele cara? E porque ele me chamou de Lou? Só minha família e Zayn tinham essa intimidade. De súbito me levantei da cama e fiz o que qualquer pessoa sensata faria... sai correndo! Passei como um vulto pela cozinha e para a minha sorte a porta da frente estava destrancada. Corri pelas escadas do edifício sem prestar atenção em nada e foi só quando cheguei no lobby que percebi que aquele era meu antigo prédio.

Olhei para baixo e ainda estava com a minha roupa de ontem. A calça preta justa ainda estava lá, assim como o Vans e camiseta vermelha vinho que usei para ir até o trabalho. O Senhor Rodriguez ainda estava lá também - ele definitivamente era o melhor porteiro que eu já tinha tido! Acenei para ele com um falso sorriso no rosto, apenas para ser simpático, e sai pela porta. O frio me engoliu.

Droga, o meu casaco!

Provavelmente ele estava na casa do bonitão de olhos verdes, mas eu não podia voltar buscar, podia? Comecei a tatear os bolsos a procura da minha chave e celular, "tudo bem, eu só tenho que chegar em casa", mas era óbvio que o universo ia me sabotar de novo. A única coisa que encontrei foi o relicário da noite anterior. Pronto, acho que agora eu já posso sentar no chão e chorar.

No Matter Where | l.s.Where stories live. Discover now