Capítulo 14

199 23 15
                                    


Aquele com o show

No dia vinte e sete, eu, Liam e Zayn voltamos para Londres, desta vez de ônibus já que Lottie teria que trabalhar e não havia mais ninguém que pudesse nos levar. Chegamos na cidade no meio da tarde e seguimos direto para o apartamento. Descanso por algum tempo e depois vou para o bar junto com os outros dois. Eventualmente, no meio da noite, Liam se despede e diz ir para casa enquanto eu e Zee seguimos atendendo os clientes até a madrugada.

Aquela foi uma noite de trabalho tranquila. A cidade parecia estar vazia, com todos bem acomodados em suas casas no interior do país, visitando a família e aproveitando o clima natalino enquanto ele se mantinha. Assim seguiram as noites posteriores também. Poucos clientes, a maioria deles pessoas na faixa dos trinta ou quarenta anos que acabaram sozinhas no fim do ano. É triste observá-las, afogando sua solidão em cada gota de álcool. A cada nova alma desacompanhada que entra pela porta do bar, agradeço silenciosamente pela família e amigos que tenho e por, pior que um dia já estivesse, não ter nunca me virado a eles.

Os dias passam cada vez mais rápido e a contagem regressiva para o ano que há de vir começa a causar burburinho. Por todos os cantos vejo pessoas preparando as listas de afazeres para o dia primeiro de janeiro. Promessas, a maioria infundadas, que nunca serão cumpridas, ou abandonadas antes do fim do primeiro mês.

É o meio da noite do dia vinte e nove, me perco nesses pensamentos enquanto seco alguns copos do bar e observo os clientes. Imagino o que cada um colocou em sua listinha de ano novo e se a cumprirão ou não. Parece um pensamento amargurado, mas diria que é apenas olhar a realidade de forma clara. O ser humano é esperançoso e sonhador, mas, às vezes, precisamos colocar o pé no chão e, ao invés de planejar uma lista de desejos, organizar um caminho, um passo a passo para chegar até tais desejos. Afinal, o universo não nos dará eles de bandeja.

Ou talvez sim?

Penso quando a figura cacheada entra pela porta do 5SOS vestindo uma calça skinny preta e casaco de inverno caramelo. Harry me encontra antes mesmo da porta se fechar a suas costas e sorri. Caminha até mim com as botas marrons e se senta à minha frente, cumprimentando Zayn com um aceno e um sorriso, que é prontamente correspondido.

- Oi - ele diz.

- Oi, os meninos não vem?

- Não, hoje sou só eu.

- Bom!

- É, bom! - a esse ponto o rubor em suas bochechas delicadas já é notável.

- E para beber?

- Hoje, eu quero só uma coca.

Entrego a ele o refrigerante, mas sou chamado por um cliente antes que possa dizer qualquer outra coisa. E talvez seja um castigo do universo por ter praguejado a vida alheia e suas listas de ano novo idiotas, mas o bar começa a encher e por longas horas não encontro tempo algum para me dedicar ao homem de olhos verdes que me observa a distância. Quando finalmente o tempo aparece já é fim de noite e restam apenas algumas pessoas bêbadas pelos cantos do lugar.

- Oi de novo!

- Oi de novo! - ele sorri.

- Então, o que veio fazer aqui sozinho?

- Vim saber que horas você termina o trabalho.

- Que horas são agora? - Harry me mostra o celular que brilha exibindo meia noite e vinte - Em quarenta minutos.

- E você se importa se eu esperar?

- De forma alguma! - Um sorriso bobo surge em meus lábios, brincando com meus sentidos e me prendendo aos olhos dele.

No Matter Where | l.s.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora