Dans une réalité parallèle.

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— Eu já disse, não conheço vocês. — falei mais uma vez na esperança de que me escutassem alguma hora.

Fechei meus olhos com medo, o silêncio se instalou no ar. Não fazia ideia de onde eu estava, somente acordei amarrada em uma cadeira em um galpão sujo e escuro que fedia a cocô do cavalo. Tudo o que eu escutava era a respiração do homem em minha frente que já me encarava há alguns minutos como se eu fosse uma aberração.

Antes de desmaiar tive a ligeira sensação desses homens viverem em uma realidade paralela, a julgar pelo modo como se vestiam. Agora, de frente para os três que me encaravam como se eu estivesse em um julgamento final, essa sensação só se concretizava mais.

Talvez a pancada na cabeça tenha sido forte demais e eu estava alucinando.

— Arthur, ela não parece estar mentindo, julgando tamanho desespero.

Abri meus olhos vendo o homem bigodudo se afastar de mim claramente frustrado, passando a mão pelo bigode até o queixo. Então Arthur era o nome dele.

— Se essa vadia for uma espiã, eu juro que mato ela — Arthur disse antes de sentar-se ao redor de uma mesa de madeira a alguns metros de distância de mim.

Os três automaticamente ignoraram a minha presença e reuniram-se ao redor de uma mesa de madeira velha. Observei-os acenderem seus cigarros e olhei ao redor tentando entender onde eu estava. Mas se eu pensasse demais faria minha cabeça doer ainda mais, eu já começava a sentir o sangue escorrendo da minha testa para a minha bochecha até o meu queixo e pingar na minha roupa.

— Posso perguntar uma coisa a vocês? — indaguei com toda a coragem restante dentro de mim.

Somente um deles me olhou e acenou positivamente com a cabeça. Engoli à seco.

— Que dia, mês e ano é hoje? — minha teoria poderia estar a um passo de ser concretizada.

— Dezesseis de Junho de mil novecentos e vinte e dois — disse calmamente, bem diferente do outro ignorante. — Sua cabeça está doendo ainda?

Na verdade, ela estava girando desde o momento em que ouvi o ano que foi dito. Poderia ser uma brincadeira de mau gosto comigo ou uma pegadinha, a qualquer momento Matteo poderia sair de trás de uma das pilastras e falar que eu estava em um programa de gargalhadas.

— Não estamos em dois mil e vinte e dois?

Os três homens entreolharam-se confusos. Um deles riu, o outro continuou fumando seu cigarro me olhando como se eu fosse a incógnita ali e o mais simpático não esboçou nenhuma reação que eu consegui identificar.

— Senhorita acho melhor descansar, a coronhada deve ter lhe deixado confusa. Não sabemos nem o que acontecerá amanhã, quem dirá esses anos todos. Uma coisa é certa, se fosse dois mil e vinte e dois estaríamos todos mortos.

— Para mim ela é maluca — o homem que estava em total silêncio até então falou, fazendo Arthur rir.

Lembrei de estar com o meu celular no bolso, mas não conseguia pegá-lo por estar de mãos atadas.

— Pode me fazer um favor? Estou com meu celular em meu bolso, se você pegar ele para mim posso ligar para o meu amigo e esclarecer as coisas. — pedi olhando para Arthur.

Ele se levantou.

— O que é celular? — indagou confuso e eu comecei realmente a ficar nervosa.

Arthur colocou a mão na frente do outro não deixando-o vir até mim. Ele então deixou o cigarro no cinzeiro e chegou perto, colocou a mão no meu bolso e pegou meu celular. Observou-o atentamente e a tela se acendeu com o movimento.

Coração Negro | Thomas ShelbyWhere stories live. Discover now