Peaky Blinders Nuit.

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TRÊS ANOS DEPOIS

Minha mente vagou durante a aula, sentada perto da grande janela de vidro, observei as árvores balançarem e o céu mudar de cor. Uma chuva forte cairia a qualquer momento, mas eu contava com a carona de Eleanor e não me molharia na saída. Conheci a mulher no segundo semestre da faculdade de História e logo nos tornamos amigas. Ela era uma ótima aluna, tirava somente notas altas e muitos a consideram como a mais inteligente da turma. O mais legal foi vê-la se dando muito bem com Matteo e eu imaginei algo acontecendo entre os dois escondido.

— É liberado vestirem-se conforme o século vinte, vai ser uma noite divertida e vocês vão conhecer mais sobre a história de nossa cidade.

O homem barbudo falou e logo me entregou um ingresso. Observei melhor e virei-o lendo sua frente, mas deixei o mesmo cair sobre a mesa ao notar realmente sobre o assunto.

Certamente eu havia começado uma nova faculdade imaginando estudar mais sobre a gangue, mas com os anos acabei ignorando isso e realmente comecei a gostar das histórias dos antecedentes. Ir ao Black Country Living Museum em um evento sobre a gangue era demais. Eu evitava ao máximo a tentação de procurar em internet e bibliotecas sobre eles, agora ir em uma aula onde eles viveram faria toda a minha saudade voltar.

Os alunos começaram a sair da sala e eu agarrei minha bolsa vendo Eleanor vindo em minha direção com um sorriso animado nos lábios.

— Vai ser tão divertido! — exclamou e juntas começamos a andar. — Podemos alugar vestidos juntas?

— Bem, eu não sei se vou.

Seu semblante mudou totalmente. Ela não tinha muitos amigos, então costumava confiar em mim para tudo o que fazia.

— Se você não for, eu também não vou.

— De jeito nenhum, você ama História, vai ser muito bom.

Ela não deveria sair prejudicada por minha causa, afinal eu tinha problemas com o passado sombrio e não ela.

— Então vá comigo — me olhou juntando as mãos.

— Vou cogitar a ideia, tudo bem? — sorri me dando como vencida e ela assentiu feliz novamente.

[...]

Entrelacei o meu braço com o de Eleanor ao descer do ônibus e encaramos a grande fila formada na entrada do museu. A maioria dos visitantes eram estudantes caracterizados e estavam todos muito animados.

Logo uma fila se formou ao lado da entrada e liberaram nosso acesso ligeiramente, assim não era necessário aguardar na fila maior.

Minha amiga passou a semana inteira me perguntando se eu iria e no final decidi ir e ainda alugar uma fantasia, mas ao contrário da maioria das mulheres com seus vestidos lindos, eu estava de terno e obviamente uma boina.

Todos estavam me olhando diferente conforme eu avançava na rua. Todas as casas e lojas eram exatamente iguais às que eu vi durante os meses no passado, era incrível como eles conseguiram reproduzir tão bem.

O professor, caminhando à frente, nos reuniu em frente a um teatro onde entramos e nos acomodamos.

— Vamos agora conhecer melhor a história da família de gângsteres na Inglaterra do século 20 — disse o homem barbudo e eu estremeci, me ajeitando na cadeira.

As luzes do teatro se apagaram e a telona surgiu na nossa frente iniciando um documentário.

"Os Peaky Blinders eram uma organização criminosa de origem cigana que se passava na cidade de Birmingham, Inglaterra, em 1919, formada vários meses após o final da Primeira Guerra Mundial (1914–1918). A história é centrada na ambição do líder da gangue inglesa, Thomas Shelby."

Ouvir o nome dele me fez estremecer de novo, não sei se teria coragem de assistir até o fim e descobrir como ele havia morrido assim como seus outros membros da família.

"A família era notadamente conhecida por ter navalhas costuradas em seus chapéus, além de estar envolvida em um esquema ilegal de apostas em corridas de cavalos."

"Em 1921, a família Shelby expandiu sua organização criminosa no Sul e Norte, mantendo uma fortaleza no coração de Birmingham. Em 1924, Tommy e sua família entraram em situações mais perigosas à medida que os negócios se expandiram novamente, envolvendo também organizações anticomunistas. Após ter que lidar com a greve geral no Reino Unido (1926) e disputas com a máfia ítalo-americana, Tommy tornou-se membro do Parlamento Inglês em 1927. Dois anos depois, durante a Quinta-Feira Negra (1929) — procedendo posteriormente à Grande Depressão, iniciou-se com uma manifestação liderada pelo líder fascista inglês, Oswald Mosley."

"Com a chegada de uma nova gangue, chamada Billy Boys, muito mais poderosos do que o império Peaky Blinder, o magnata Thomas Shelby..."

Levantei tampando meus ouvidos com as mãos e corri para fora do teatro a fim de não ouvir o que o locutor iria falar.

Lá fora, tentando me controlar, comecei a andar pelas ruas e me lembrei dos acontecimentos. Pelo menos eu sabia que Thomas havia se dado muito bem na vida antes de sabe-se lá o que ia acontecer com ele.

Parei em frente a um mural onde haviam mais informações sobre a gangue e me interessei ao ver uma matéria de um jornal antigo com o título de "Onde está a mulher misteriosa funcionária do Shelby?"

Olhei a data no jornal amarelado, 30 de dezembro de mil novecentos e vinte e dois, e meu coração disparou. Conforme eu lia as linhas da história, eu sabia mais e mais sobre o artigo ser sobre mim. Não fazia sentido para mim estar no noticiário quando na verdade foi um erro cair no passado.

No outro jornal, tinha uma matéria sobre Thomas ter ido à Londres onde ficou doido e começou a perder tudo o que ele tinha.

O próximo me deixou mais nervosa ainda, já que era uma carta dizendo sobre a morte de John Shelby, que foi alvejado a tiros na porta de sua casa onde morava com sua esposa Esme.

Eu falei para ele sair daquela vida que ele era bom demais para estar lá. Quando notei já estava chorando como uma bebê e sentei-me na beirada da calçada com o rosto entre os braços.

— Você está bem? — ouvi uma voz masculina indagar.

Eu engoli o choro e levantei minha cabeça com meus olhos vermelhos e meu rosto inchado de tanto chorar, observando o rosto a alguns metros do meu.

— Na verdade não estou me sentindo muito bem.

— Posso te levar embora, eu já estou de saída.

— Não pego carona com estranhos.

Ele estendeu a mão para mim sorrindo e eu a peguei, me levantando em seguida.

— Sam.

— Gale.

Sorri de volta deixando de lado minhas lágrimas e soltei sua mão. Sam era muito bonito, o sorriso branco e ladino dava-lhe um charme a mais.

— Seria loucura se eu dissesse que pareço que te conheço de algum lugar? — indagou e eu balancei a cabeça negando.

— Você também não me é estranho.

E realmente ele não era, mas eu não sabia de onde o conhecia.

— Então já posso te dar a carona?

Eleanor ficaria triste se eu fosse embora sem avisar, mas não iria entrar no teatro e ver mais sobre o documentário bobo.

— Tudo bem, acho que você não vai me matar — sorri mais uma vez. 

Coração Negro | Thomas Shelbyحيث تعيش القصص. اكتشف الآن