J'ai tué un homme.

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O dia amanheceu bastante sombrio. Da janela do meu quarto, observei as pessoas na rua andando nas mesmas direções de sempre. O senhor de sobretudo azul marinho era dono de uma alfaiataria, o homem mais novo que o seguia era dono de um pub onde Arthur passava a maior parte de seu tempo livre. A mulher com o bebê no carrinho passeava todas as manhãs. Todos estavam em um loop dia após dia e eu me perguntava se algum dia ficaria igual a eles.

A família Shelby me acolheu bem em sua grande maioria, mas ali não era o meu lugar. Talvez eu tivesse me acostumando com a minha nova vida, mas dois meses se passaram e eu precisava começar a agir se realmente quisesse voltar para casa.

Peguei meu casaco do cabideiro e saí de casa determinada a ir em busca do que eu realmente queria. Andei até a rua do outro lado do canal onde havia uma gráfica. Ao entrar no local um homem de mais ou menos trinta anos me olhou de trás do balcão.

— Bom dia, senhorita. Como posso ajudá-la?

— Bom dia. Preciso de cinquenta cartazes — sorri.

Cerca de uma hora depois saí da gráfica com os papéis em minhas mãos. Neles estava escrito que eu procurava uma pedra branca e brilhante, também oferecia uma boa quantia como recompensa e coloquei o endereço da minha casa para caso alguém achasse levasse até lá.

Comecei a colar em todos os postes e aguardava ansiosamente por aquela estratégia dar certo.

Quando faltavam alguns cartazes somente, era hora de realizar o trabalho que foi-me dado hoje. Entrei no bordel e as meninas limpavam o salão.

— Senhorita Brown! — Amelia disse fazendo todas me olharem.

— Gale! — exclamou Paige e veio ao meu encontro me abraçar.

— Como você está? — perguntei.

— Estou ótima e você? Fiquei sabendo que agora você trabalha para os Peaky Blinders.

— Pois é, Gale. Me diga como é transar com o Arthur? — foi a vez da Olivia perguntar.

— Ainda falam disso na cidade? Eu definitivamente nunca transei com nenhum dos Shelby e nem pretendo. Vamos ao que importa. Reserve seis lugares para hoje à noite, a pedido do Thomas.

Elas sorriram, eu sabia como elas se derretiam por ele.

— Com certeza reservaremos. — Amelia sorriu.

— E pendure esse cartaz em um lugar onde todos possam vê-lo. — peguei um cartaz e entreguei para Paige que assentiu — Obrigada, meninas. Foi bom ver vocês.

[...]

Eu não tinha certeza do que aconteceria durante a noite, mas a julgar pela maneira como os irmãos Shelby estavam quando os encontrei a poucos metros do bordel da senhora Tomlinson, imaginei que algo ruim iria acontecer.

Na entrada, os outros homens abriram espaço para a nossa passagem. Thomas liderava o bando, logo atrás estavam Arthur, John e Michael e por último, mas não menos importante, estávamos Polly e eu. Não entendia o motivo de ter sido convocada, mas não recusei o convite.

Havia muita conversa, mas conforme passávamos entre as pessoas, elas começaram a sussurrar. Meu olhar encontrou o de Olivia, que estava de queixo caído. Era em parte divertido pertencer à gangue mais temida da cidade, afinal eu não vivia naquele século, tudo era novo para mim.

Sentamo-nos à mesa reservada e logo nos serviram bebidas.

— Lá está ele — John disse.

Direcionei meu olhar para a entrada e vi Billy Kimber. Um arrepio percorreu meu corpo, ainda me lembrava perfeitamente do que ele tentou fazer comigo.

— Está tudo bem, Kimber não vai te machucar — Polly sussurrou para mim.

— Não, ele nunca mais vai machucar ninguém — Thomas disse ao escutar o que sua tia falou e soltou a fumaça do cigarro que fumava.

O tempo estava passando, os homens à mesa bebiam e conversavam um pouco. De vez em quando, eu observava Kimber entre as outras. Eu não sabia qual era o plano, mas não demoraria muito para que eles começassem a executá-lo.

As mulheres do bordel passavam com os homens o tempo todo para o segundo andar, pobres mulheres eram as esposas daqueles homens imundos que deveriam estar em casa cuidando dos filhos.

— Polly vá para casa — Thomas disse se levantando — Gale você fica com a gente e Arthur pega o cara.

Sua tia estabeleceu um semblante sério e pegou a bolsa de cima da mesa.

— Tommy, não faça isso. — ela disse. — Não deixe o seu...

— Eu sei o que estou fazendo. — ele a interrompeu. — Agora vá e leve seu filho com você.

Michael olhou feio para o primo, mas apenas deixou o bordel em silêncio. Polly olhou para mim e balançou a cabeça antes de ir embora.

John se levantou e com a mão fez um gesto para que eu me levantasse também. Caminhamos em silêncio até os fundos, onde ficava um beco escuro. Eu costumava jogar o lixo fora quando trabalhava lá na lixeira perto do portão.

Arthur apareceu minutos depois, trazendo Billy Kimber com ele. O homem olhou para mim e sorriu. Ao meu lado, Thomas Shelby engatilhou uma arma.

— Sabe, Kimber, eu mesmo estava planejando te matar — disse o homem ao meu lado — Comecei sabotando seu cavalo na corrida, você perdeu muito dinheiro. Hoje eu finalizaria o meu trabalho, mas tem alguém que tem mais ódio de você do que eu.

Thomas me entregou a arma. Eu odiava Billy, mas matá-lo não passou pela minha cabeça. Eu nunca segurei uma arma na minha vida.

Kimber deu risada.

— Essa mulher não tem coragem de me matar — disse ele — Gale Brown, eu me lembrei de você.

Imediatamente abaixei a arma.

— De onde? — perguntei.

Ele sorriu.

— Lembro de você de quatro na minha cama nos meus sonhos. Como eu queria que isso acontecesse aquele dia, mas você preferiu ser a prostituta dos Shelbys.

— Cala a boca! — gritei.

— Atire, Gale — Thomas disse ao meu lado.

— Você parece ser tão nova, deixe-me adivinhar. Uma pobre garota que veio para Birmingham encontrar o amor de sua vida, mas a vida é cheia de surpresas, então você virou uma puta — Kimber cuspiu as palavras.

Minha mente estava girando, talvez fosse o efeito da bebida ou as coisas que ele estava me dizendo. Com minhas mãos trêmulas, levantei a arma apontando para o homem a alguns metros de mim. Seus olhos pareciam estar me estudando milimetricamente.

— Atire então vadia ou eu ainda vou foder você.

Fechei meus olhos ouvindo as palavras ecoarem em minha mente. Então eu atirei, meu corpo recuando ligeiramente, mas quando abri meus olhos Kimber estava deitado no chão.

— Muito bom, Gale — Thomas pegou a arma de minha mão — Arthur e John, sumam com o corpo dele. Vamos embora.

Continuei imóvel, tremendo, analisando a cena que me parecia estar em câmera lenta. Eu tinha acabado de matar um homem, mas o que mais me assustou foi que não estava arrependida.

— Vamos embora porra! — Thomas gritou puxando-me pelo braço para sairmos dali, então voltei à mim.

Coração Negro | Thomas ShelbyDär berättelser lever. Upptäck nu