Accords et propositions.

11.6K 1.2K 235
                                    

Já faziam alguns minutos que eu estava encarando a parede em minha frente ainda tentando entender como eu havia ido parar em mil novecentos e vinte e dois, onde não existia celulares, câmeras como as de Matteo e muito menos uma cidade de Birmingham moderna.

Estava há dias presa no passado, sem saber onde ir ou o que fazer para voltar ao meu ano. Tudo indicava ter sido a pedra brilhante, mas eu não tinha ideia de como tê-la novamente, já que desapareceu quando explodiu em minhas mãos.

Por sorte consegui arrumar um canto para dormir enquanto não conseguia voltar ao meu ano em um lugar não muito agradável, um bordel no fim de uma avenida e a dona do local disse que como eu não era uma prostituta, eu poderia ficar só se a ajudasse com a limpeza do quartos e na recepção. Não vi outra escolha, nenhum outro local me acolheria, então resolvi ficar enquanto não descobria como ir embora. As mulheres que trabalhavam lá eram em sua maioria amigáveis e à noite, depois do trabalho, nos reuníamos no grande salão para beber, cantar e dançar. Algumas noites eu contava histórias da minha vida normal e elas pensavam que era algum tipo de história inventada por minha imaginação e adoravam. Também comecei a perguntar sobre Anabella Lewis nas ruas, na esperança de encontrá-la perdida lá, mas ninguém a conhecia.

As três batidas na porta me acordaram dos meus pensamentos. Estava divagando muito ultimamente.

— Entre! — exclamei.

Paige colocou o rosto no espaço da porta entreaberta e olhou para mim antes de sorrir. Ela era uma das mais simpáticas ali, sem falar na beleza. Seu cabelo era preto e seus olhos verdes, o que lhe dava um belo contraste.

— Vamos abrir em dez minutos, a senhora Tomlinson está te chamando para ajudá-la a receber os pagamentos — disse ela e eu assenti — Aliás, hoje é um dia especial — ela piscou e saiu sem me deixar entender o que iria acontecer.

Não conseguia colocar em minha cabeça como ela era tão feliz fazendo um trabalho tão imundo como aquele. Os homens que costumavam frequentar ali eram de péssimas índoles.

Terminei de me vestir com um vestido azul claro que me deram e penteei meu cabelo ao redor dos ombros. Finalmente, coloquei saltos que não eram muito altos e saí do meu quarto no andar de cima. Estar apresentável era uma das regras do estabelecimento.

A senhora Tomlinson estava claramente perdida quando cheguei no caixa, os homens já formavam fila na porta para poderem ser atendidos pelas mais bonitas. Aquilo me dava náuseas, mas eu não tinha outro jeito de sobreviver ali se não fosse morar no bordel. Ninguém abrigaria uma desconhecida em sua casa.

— Deixe isso comigo, senhora — disse colocando minhas mãos em seus ombros e a afastando do caixa.

A senhora Tomlinson devia estar na casa dos setenta anos e suas mãos já não correspondiam ao seu cérebro e às vezes ela ficava confusa com tanto dinheiro, deixando os homens passarem a perna nela.

— Obrigada, Gale — sorriu amavelmente e saiu dali me deixando na frente de todos os homens imundos e pervertidos.

Organizei uma fila com muita dificuldade e fui receber o pagamento, dando-lhes os ingressos para entrar no estabelecimento em troca. Vez ou outra ouvia piadas sobre mim, mas preferia não levar a sério. Dentro do local, mulheres dançavam, entregavam bebidas, sentavam nos colos dos homens e saíam com eles minutos mais tarde. Era uma loucura que eu nunca imaginei que passaria ou veria pessoalmente.

Quando o bordel lotou e fechamos as portas para ninguém mais querer entrar, contei as notas e moedas e coloquei-as numa caixinha de madeira, deixando-a debaixo do balcão.

Uma mão masculina surgiu sobre o balcão mostrando-me quatro notas na minha frente e olhei para cima, congelando instantaneamente ao ver o homem que tentou me matar no meu primeiro dia ali me olhando estranho. Caramba, ele se lembrou de mim.

Coração Negro | Thomas ShelbyWhere stories live. Discover now