Tueur.

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Eu estava chegando no escritório quando ouvi barulho de galope e virei a cabeça. A postura ereta e natural do cavaleiro de boina denunciou Thomas imediatamente. Quando ele ficou na minha frente, acenou com a cabeça em uma saudação curta.

— Você vem comigo, tem um trabalho a fazer — disse antes que eu falasse algo.

Tirou o pé do estribo e ofereceu-me o braço para me ajudar a subir.

Olhei hesitante para a porta de entrada do escritório e ele. Usando o estribo como degrau, subi no cavalo com a ajuda dele e sentei-me à sua frente, totalmente envergonhada. Transferindo as rédeas para a mão direita, ele girou o cavalo em um semicírculo, seu braço roçando no meu levemente. Logo o cavalo seguiu em meio a galope pela rua, não me deixando saber onde iríamos.

— Pegue a arma dentro do meu terno e a carregue — falou junto de meu ouvido.

Um tremor correu em mim, não conseguia distinguir entre ser o medo ou a voz rouca.

— Quem vamos matar? — indaguei ironicamente.

— A pergunta correta seria "quem eu vou matar".

Virei-me ligeiramente, então notei estarmos próximos demais. Thomas mantinha os olhos acima da minha cabeça, no horizonte conforme saímos da cidade em direção ao campo.

Eu timidamente abri seu terno e vi uma arma, tirei-a com as balas e me virei novamente. Enquanto a carregava, tentei me equilibrar para não cair do cavalo, embora minha cintura estivesse rodeada pelos braços do homem atrás de mim.

Chegando perto de uma vasta área de plantação, o cavalo começou a trotar.

Forcei meus olhos para frente, onde podia ver um homem amarrado e amordaçado aos pés de um espantalho.

— Quem é ele? — perguntei.

— Ninguém que vai fazer falta. Só mate-o como matou o Kimber, o resto meus irmãos já estão vindo e vão dar um jeito.

Quando Thomas parou o cavalo diante do homem, imediatamente joguei a perna por cima da sela para desmontar. Estava ansiosa para me livrar do contato perturbador dele, que me deixou desconcertada.

Meu olhar correu no homem em minha frente, ele deveria ter chorado recentemente já que seus olhos estavam vermelhos. Pobre homem.

Puxei o ar livre, mas cheirava a algo ruim. Era o mesmo cheiro da noite no beco, era o fedor da morte.

Sabia como o homem ainda montado no cavalo não deveria estar com muita calma e levantei a arma em direção ao homem amarrado, este tentava gritar e se soltar de alguma forma. A mesma sensação de antes me invadiu como um vento gelado. As vozes na minha cabeça falavam do assassino da minha mãe, parecia o diabo aos meus ouvidos.

Sem demorar muito atirei no homem.

Thomas estendeu o braço novamente e eu o peguei. Sua mão rodeou firmemente meu antebraço e me colocou sobre a sela.

No mesmo momento, uma explosão rasgou o ar e o cavalo cambaleou, interrompendo o galope que começava a dar. Thomas tentou se recuperar, lutando para manter o equilíbrio. Atordoada, tentei ajudar puxando as rédeas para levantar a cabeça do cavalo e firmá-lo.

Mas era tarde demais. O cavalo nos jogou para trás e caiu no chão.

O homem de olhos claros deitado a poucos metros de mim fez um gesto para que eu me escondesse atrás do homem morto e eu rastejei até lá observando-o pegar a arma do chão e mirar em direções diferentes, procurando de onde o tiro tinha vindo.

— Thomas — o chamei ao sentir uma dor forte em meu ombro.

De relance olhei meu ombro e o mesmo estava sangrando. Na hora da queda não tinha sentido, mas a bala tinha me acertado e a dor era tão forte que eu não conseguia nem gritar.

— Thomas, o meu braço está sangrando. O tiro pegou em mim.

Ele baixou a guarda ao me olhar com o sangue manchando toda a minha blusa de cetim rosa. Ao abaixar em meu lado, ouvimos outro tiro, este passou ao nosso lado.

— A bala está agarrada no seu ombro — olhou ao redor e socou a terra com força. — Porra!

Ouvimos mais um tiro, esse não veio em nossa direção. Logo ouvimos o motor de um carro e deduzi ser os irmãos dele. Pressionando com força meu ombro, levantei-me correndo na direção do veículo ao vê-lo.

John saltou do carro ainda em movimento quando me viu e Arthur passou por mim, parando quase perto de seu irmão que estava sentado no mesmo lugar de antes, olhando para o horizonte com um olhar perdido.

— Arthur! Temos que levar ela logo! — John gritou. — Vamos Gale. Entre no carro.

Eu balancei a cabeça e entrei no banco de trás do carro, então Arthur fez sinal para o mais jovem me levar e voltar para buscá-los mais tarde.

— Tem uma garrafa de gim em algum lugar — disse John dirigindo com uma mão enquanto a outra ele vasculhava o lado do carona. Então ele achou a garrafa. — Toma isso, vai te anestesiar até chegarmos na cidade.

Com dificuldade, peguei a garrafa de sua mão e abri, tomando grandes goles da bebida, embora eu não fosse muito fã.

— Posso te falar algo para te distrair? — perguntou ele e eu assenti quando ele me olhou no retrovisor.

Virei mais um gole da bebida.

— Lizzie está grávida e o Tom é o pai.

Eu arregalei meus olhos e tomei mais três goles.

— Essa galera não tem televisão em casa? — indaguei dando risada.

— Se eu soubesse o que é isso, eu certamente te falaria.

Então percebi que havia falado sobre algo que eles ainda não faziam ideia que algum dia iria existir.

— Só achei melhor contar, já que você e ele estavam juntos. Tom dorme com Lizzie desde a morte de Grace, ele disse que não era para ficar sozinho.

— Não temos nada, John, mas você fez muito bem em dizer. Você não é como eles, deveria sair dessa vida.

[...]

Eu olhei em volta vendo um lugar conhecido. Foi o quarto que fiquei durante a noite que passei na casa de Thomas. Não sabia como cheguei lá, a última lembrança que tive foi minutos antes de me levarem para remover a bala do meu ombro.

Andei cambaleando até o escritório dele e ao entrar o vi sentado atrás de sua mesa vendo alguns documentos.

— Soube sobre a gravidez da Lizzie. Parabéns — falei ainda da porta, encostada no batente. — Como cheguei aqui?

Ele tirou os óculos de aro redondo e olhou para mim. Com a mão, ele fez sinal para que eu entrasse e me sentasse.

— John te trouxe. Tentaram te matar, Gale. Alguém do Changretta sabe que você trabalha para mim. Você vai ficar nessa casa enquanto se recupera do tiro, é o lugar mais seguro no momento.

— Isso é muito, Thomas. Lizzie vai ter uma ideia errada sobre isso.

— Lizzie não é nada minha. Ela engravidou, foi um descuido. Se eu te falo que vai ficar aqui só quem pode dizer ao contrário sou eu mesmo. — disse rudemente.

— E se eu disser que quero ir embora? — arqueei minhas sobrancelhas.

— Então vá, mas não vai passar dessa noite.

Levantei-me da cadeira e olhei para ele uma última vez, mas ele já estava olhando para os papéis novamente.

Quando estava saindo pela porta, ouvi sua voz.

— Só não suportaria perder você na minha frente também.

Sorri mesmo sem ele ver e saí do escritório, indo para o quarto novamente.

Coração Negro | Thomas ShelbyWhere stories live. Discover now