Content de te revoir.

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Encontrar meus dois amigos no The Garrison não foi uma tarefa fácil, mas eles estavam me incentivando a viajar e redescobrir o dono do meu amor. O coração brilhante em minha bolsa não brilhava ainda e eu temia ele nunca mais acender. Assim não conseguiria evitar o fim da gangue e nem mesmo ver todos uma última vez antes de decidir finalmente o meu futuro.

A essa altura, Eleanor já sabia de tudo e acreditava em mim, então ela também estava me ajudando a descobrir como fazer minhas escolhas.

— Como vocês vão viver sem mim? — indaguei fazendo charme e meu amigo revirou os olhos.

— É mais fácil saber como você vai viver sem nós dois. Só faça história, assim teremos notícias suas.

Nunca imaginei meu nome saindo em livros de histórias e sendo falada na boca dos professores e historiadores.

— Vocês me amam mesmo sabendo da minha vida como uma assassina?

— Só viva a vida, Gale. Faça tudo intensamente e se divirta — Eleanor falou sorridente.

Eles eram definitivamente os melhores.

Matt pegou de sua mochila uma caixinha de ferro e esticou-a sobre a mesa em minha direção.

— Leve isso com você — disse ele abrindo a caixa. — Tem algumas fotos nossas, assim não vai sentir tanta saudade.

Sorri e observei o conteúdo dentro da caixa, haviam fotos desde crianças até o atual momento.

— Vocês são incríveis — levantei-me e os chamei em um abraço coletivo.

Portanto, evitar certos eventos era meu propósito, mas como convenceria um homem teimoso a desistir de suas ambições? E se ele não se lembrava mais de mim, como eu poderia fazê-lo lembrar?

Quando nos soltamos do abraço minha bolsa sobre a mesa brilhava e eu sabia que havia chegado a hora de voltar. Peguei-a e saímos em direção de um beco onde não tinha mais ninguém além de Matt e Eleanor ao redor.

Com o coração brilhante em mãos, consegui olhar os dois através do forte brilho e eles choravam. Senti minhas lágrimas escorrerem em minhas bochechas. Só de saber existir a possibilidade de nunca mais vê-los doía em meu coração.

Os feixes de luz foram ficando maiores e eu vi meus braços começarem a desvanecer assim como o resto, como se uma brisa tivesse levado um fantasma embora. Não havia dor, somente a sensação de estar caindo em um sono.

— Eu amo vocês — isso foi tudo dito antes de fechar meus olhos.

[...]

Minha cabeça latejava. Abri minha bolsa vendo se tudo estava dentro antes de levantar meu olhar e notar estar em um beco escuro. Inalei o ar, sentindo o cheiro de fumaça. Small Heath do século vinte era onde eu estava mais uma vez, mas dessa vez feliz em estar ali.

Saí logo dali antes de ser agarrada e andei em direção ao bordel. Eu nunca estive tão feliz em estar em um lugar estranho e sem as condições do futuro. As ruas, ainda sujas, estavam movimentadas. Crianças brincavam com bola, os adultos caminhavam de um lado ao outro em seus trajes antigos e os homens dirigiam seus carros na rua de cascalho.

Eu me sentia em casa.

Parei em frente ao bordel, o edifício não havia mudado. As mesmas mulheres de antes ainda estavam lá ou conseguiram se casar e constituir família?

Entrei no local vagarosamente, observando-o vazio. Bati na madeira do balcão aguardando ver algum rosto conhecido surgir e me receber, mas não aconteceu.

Coração Negro | Thomas ShelbyWhere stories live. Discover now