Droits des travailleurs.

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Os Shelbys mexiam com coisas ilegais, mas aquilo não me incomodava. No século vinte e um o que mais existe são bandidos e criminalidades e eu como jornalista não me abismava mais. Pelo menos não precisava ouvir gemidos dos quartos ao lado e nem atender homens que achavam que as mulheres serviam só de escravas sexuais. Paige estava triste com a minha partida, mas eu ainda iria me encontrar com ela para conversar nos dias de folga.

Passei a ficar muitas horas no trabalho ao lado de Michael fazendo todas as contas e quando chegava em casa tudo o que eu desejava era um banho e minha cama desconfortável. Algumas noites eu passava em claro, imaginando se ainda procuravam por mim. Mas quando caía a ficha que já tinha se passado semanas, mas eu achava que ficaria ali no passado até morrer. Talvez não fosse uma má ideia.

Nos finais de semana eu enchia a cara a fim de esquecer esse assunto com o Arthur, que estava mudando sua opinião sobre mim. Uma vez até o levei para casa já que ele não aguentava ir sozinho. Lembrava-me perfeitamente de como John o zoou quando nos recebeu na porta de madrugada.

Mas então, parece que não era comum as mulheres saírem com um homem para beber apenas por amizade e rumores começaram a circular por toda a cidade sobre eu estar transando com Arthur Shelby, o que era uma mentira completa. Um: gangster não fazia o meu tipo e dois: Era o Arthur, o cara que mais me detestava ali desde o começo.

E Polly, a matriarca da família, não gostou da ideia de colocar uma estranha em assuntos pessoais. Ela não falou comigo pessoalmente, mas acabei ouvindo sua conversa com Thomas uma vez. Eles não me viram.

"Toda vez que você deixa seu coração te controlar, coisas ruins acontecem."

Pensei naquela frase da Polly e nem continuei ouvindo o resto, afinal se eu fosse pega lá não sei qual seria o meu rumo, que já não estava sendo dos melhores. A desvantagem foi que, depois dessa conversa, Thomas nem mesmo me cumprimentava quando passava por mim, como se realmente achasse que era estúpido por me colocar para trabalhar lá, eles mal sabiam que eu não tinha absolutamente ninguém para contar além deles e mesmo que tivesse alguém mais conhecido ali, nunca falaria das suas ações ilegais. Seus irmãos me disseram que ele está assim desde que voltou da França, que uma guerra pode transformar um homem ao extremo. Talvez seja verdade.

Minha casa ficava na mesma rua, a poucos metros da casa de Polly. Era um lugar pequeno cheirando a mofo e a sala de estar contornava o quarto, mas era bom ficar sozinha.

Abri as portas do guarda-roupa e observei pela milésima vez todo o meu mapa que criei e fui colando na porta. O lago não era sombrio, mas aquela pedra foi o motivo já que antes dela explodir eu vi Matteo indo na minha direção e segundos depois surgi em uma dimensão distinta. Será que se outra pessoa a pegasse viria para o mesmo lugar do que eu? E se tivesse algum propósito específico para eu estar ali? E se a pedra estivesse enterrada ainda no lago neste ano?

Com isso em mente, saí ligeiramente de casa correndo pelas ruas como se minha vida dependesse disso e, bom, por um lado dependia.

— Thomas! — gritei ao vê-lo chegando na casa de Polly.

Ele parou com a mão na maçaneta da porta e me olhou, quando parei em sua frente abaixei-me sem fôlego de correr.

— Preciso de um favor — falei ainda tentando voltar com minha respiração ao normal.

— Não faço favores.

— Só quero saber como chegar no lago que os seus homens estavam quando me encontraram.

Ele me observou em silêncio por alguns segundos.

— Não é bom uma mulher como você ir lá sozinha.

Coração Negro | Thomas ShelbyWhere stories live. Discover now