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Quando o dia infernal acabou, Alice se sentiu liberta dos olhares de todos no ginásio. Todos haviam escutado o esporro que ela e Bruno levaram por se atrasarem um pouco. Durante as pausas, Douglas e Lucas tentavam conversar com ela para entender o que aconteceu, mas a garota resumia em poucas palavras: "Nada, só nos atrasamos um pouco." Até Lucarelli foi conforta-la, dizer para que ela não ficasse tão afetada com os comentários de Renan, que isso era normal e era causado pelo estresse. Mas isso não entrava na cabeça da jovem. Para ela, Renan estava certíssimo em puni-la, mas não precisava pegar pesado com Bruno. A única solução para que os amigos descobrissem o que aconteceu ao certo, era perguntar ao capitão.

Com o dia prestes a escurecer na capital japonesa, a morena analisou sua lista de horários e viu que estaria livre naquela noite, já havia editado as fotos que tirou e as enviado para a equipe, então decidiu dar uma volta pela Vila em um daqueles ônibus sem motoristas que estavam perambulando pelo local. Agradeceu mentalmente pela tecnologia do Japão, pois não queria andar muito na noite quente de verão.

Enquanto procurava uma roupa mais fresca na mala, como um vestido, seu celular tocou em cima da cama. Quando viu quem era, seus olhos castanhos claro automaticamente reviraram.

"Oi, mãe." — atendeu com certa preguiça de iniciar aquela conversa que já sabia como iria terminar.

"Oi, Alice. Como estão as coisas aí? É noite já, né? Só liguei para dar sinal de vida." — a voz de Cecília invadiu seus ouvidos. Aquela ligação só servia para manter a filha com os pés no chão, e lembra-la de que quando voltasse, seus pais estariam ali a esperando.

"Sim, senhora, já é noite. Tá tudo tranquilo, mãe, as coisas estão bem corridas. Acho que hoje vou sair par-" — antes que pudesse terminar a frase, sua mãe a cortou.

"Ah, que bom que seu trabalho está dando certo." — Alice suspirou ouvindo sua resposta, já era de se esperar que a dona Cecília fosse dar pouca importância para a felicidade da filha — "Lembre-se do esforço que eu e seu pai fizemos para tudo dar certo."

A filha, como resposta, permaneceu em silêncio por alguns segundos. Ouvir aquilo a machucava muito, porque ela só está onde está por causa de si mesma, e não de seus pais. Eles nunca a apoiaram e não mereciam esse mérito nunca. Essa frase foi o suficiente para estressa-la.

"Tenho que desligar, estou sem tempo para continuar a conversa, seu pai te liga amanhã, eu acho." — Cecília percebeu que tocou em um ponto que irritou a filha e apressou em se despedir, usando uma desculpa esfarrapada.

"Não precisa se preocupar com isso, não dou a mínima se você e ele vão me ligar ou não." — em um ato de coragem, a filha retrucou ríspida e despejando seu estresse na fala.

"Nos respeite, você não estaria onde está se nã-" — Alice desligou em sua cara. Bufando de raiva, soltou um grito rápido para aliviar aquele sentimento ruim que sua família deixava nela.

— QUE INFERNO! — praguejou e tomou um gole de água gelada. Qualquer coisa que envolvesse sua família lhe deixava assim, nesse estado. Alice só queria ter um pouco de paz, mas toda hora sua mente lhe autossabotava com o triste fato de que quando voltasse para o Brasil, teria que viver naquele inferno particular que chamava de casa, localizada no Rio de Janeiro. E teria que lidar com algo também chato: voltar para o estúdio onde trabalhava. Se fosse possível, sairia fumaça da cabeça de Alice, devido a tanto estresse.

Desistiu de procurar uma roupa na mala e partiu direto para o banho, precisava relaxar o corpo antes de sair andando por aí, ou descontaria a raiva em qualquer um que passasse pela sua frente, mesmo que sem ter culpa de algo. Parada embaixo da água fria, deixou seu corpo refrescar. Lavou os cabelos com tanta delicadeza e calma que achou que fosse hibernar ali mesmo. Já relaxada, enrolou a toalha no corpo e uma no cabelo e saiu do banheiro. Ao abrir a porta, levou um susto quando viu Douglas sentado na beira de sua cama, gravando stories para o Instagram.

Cruel Summer » {Bruno Rezende}Where stories live. Discover now