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Firmando os pés em solo brasileiro, Alice sentiu uma brisa gélida embater contra o seu rosto, já havia se esquecido de que ainda era inverno neste lado do mundo, mais especificamente neste país. Estar de volta ao seu país de origem não lhe trazia boas lembranças e sensações... Tudo estava tão calmo e tão bom enquanto trabalhava em Tóquio, que simplesmente se recusava a acreditar que estava de volta ao Rio, de volta à casa de seus pais, presa novamente na gaiola. De volta ao seu pior pesadelo: sua casa.

Só de pensar que mais tarde estaria no meio de brigas e discussões de seus pais, já se sentia estressada.

Parada ali, com os pés para fora do avião que comportava a equipe e o time Brasil, olhou para trás e sentiu as lembranças dos últimos acontecimentos lhe atingirem como um soco inesperado em cheio na sua face.

A primeira memória que invadiu sua mente foi a fatídica derrota do Brasil para a Argentina, um inimigo antigo. Como se já não bastasse a dor da dilaceração de perder para o Comitê Olímpico Russo, teve que sobreviver para uma dor pior ainda. Se lembrava perfeitamente de cada detalhe, como se estivesse vivendo aquele dia novamente. Depois do jogo, todos voltaram juntos para a Vila Olímpica, tristes e decepcionados. Quase que todos andando cabisbaixos. Alice segurava a mão de Bruno, sabendo que a qualquer momento seu namorado poderia, simplesmente, desmoronar diante de si. Se quebrar em mil e um pedaços impossíveis de serem colados novamente. Ao adentrarem o prédio, o técnico Renan, de maneira rápida e sem ninguém ver, no sigilo, foi diretamente telefonar para sua família no Brasil, longe dos atletas e da equipe. Era de se imaginar como estava a cabeça dele naquele momento, onde toda a culpa da derrota cairia sobre seus ombros.

A maioria das pessoas ali presentes se direcionaram até seus devidos aposentos, mas cerca de três membros da Equipe se direcionaram até a sala, aquele cômodo tão bem conhecido pelos corpos de Alice e Bruno. Foram desabafando e conversando em tom baixo para não espantar o resto das pessoas ali presentes. Bruno segurou mais firme a mão de sua amada, respirando fundo, pensando seriamente em ir até aquela sala, na esperança de que Renan estivesse ali. Queria desabafar com ele. A morena acariciou a mão dada dele, a beijando em meio à algumas lágrimas secas presentes por todo seu rosto. Bruno entendeu como um sinal de apoio, e seguiu andando com ela ao seu lado.

Adentraram a sala, com os olhos curiosos olhando ao redor. Ambos tinham boas lembranças daquele cômodo, mas por causa do clima instaurado naquele dia não seriam capazes de sentirem a felicidade ali.

— Cadê o Renan? — Bruno perguntou, em voz baixa e calma, se aproximando dos outros três membros da Equipe que estavam ali.

— Ligando pra casa, espera ele aí... — um deles respondeu suspirando em derrota.

Alice o puxou para um dos sofás desocupados. Bruno se sentou e manteve seu rosto apoiado em suas mãos, tampando a visão. Seu amor ao lado sabia que ele estava fazendo isso para evitar que o choro repentino o alcançasse, estava tentando impedir as lágrimas teimosas. Ela apenas se limitou a afagar os fios de cabelo dele com a mão, em uma tentativa quase frustada de acalma-lo. Alice, assim como seu homem, segurava as lágrimas. Ela sentia a dor de Bruno invadir todo seu corpo, como se com um simples toque ela pudesse absorver tudo de ruim que ele sentia, tomando a dor para ela. Até onde isso seria saudável para ela? O destino se questionava, assistindo aquela cena, como se estivesse na plateia assistindo sua própria peça.

Após longos minutos que pareciam uma eternidade, Renan chegou no cômodo. Com os olhos vermelhos e um semblante triste, se direcionou até Bruno. O capitão levantou com tudo e foi ao encontro de seu técnico, o abraçando. Ambos deixaram de lado as implicâncias dentro de quadra e se permitiram sofrer pelo mesmo motivo que os assombrava naquele dia.

Cruel Summer » {Bruno Rezende}Where stories live. Discover now