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Apesar de serem tortuosos e lentos, os dias se passaram. Houve pouco contato entre Alice e seus pais, estavam se vendo e conversando apenas em alguns horários do dia, como nas refeições, então Ali usou isso a seu favor, pegando as poucas brechas de tempo que tinha para sair de casa, respirar um pouco, viver a vida e, principalmente, ver Bruno... E era justamente esses momentos com ele que salvavam sua vida, que lhe davam vontade de continuar vivendo e lutando por tudo que sempre quis. Continuar lutando por sua independência e liberdade.

Uma das memórias prediletas que Alice tinha era de um dia no apartamento de Bruno, um daqueles dias mais quentes em meio ao inverno do Rio de Janeiro. Os dois estavam a sós na cozinha, brincando e jogando conversa fora enquanto tentavam fazer um brigadeiro decente e que desse para comer. Tentando porque, nas outras duas vezes que fizeram mais cedo naquele dia, não havia dado certo, sempre terminavam se sujando propositalmente com chocolate e esquecendo a panela na fogão enquanto se limpavam no banheiro, trocando carícias e beijos.

Tanto Alice quanto Bruno poderiam facilmente dizer que aquele dia foi o ápice da paz no relacionamento deles. Finalmente tinham tomado gosto pela vida.

E foi exatamente naquele dia que Alice se deitou no peito de Bruno, ouvindo atenciosamente as batidas ritmadas e calmas do coração dele, estirados no tapete felpudo da sala dele, e revelou um de seus maiores sonhos, ou melhor, uma de suas mais importantes metas na vida. Simplesmente o que mais almejou durante a infância e adolescência toda. Pegou e pousou o seu notebook entre as pernas e voltou para as várias pesquisas que fazia com o namorado em conjunto. Sentindo a respiração quente e leve de Bruno embater contra seu pescoço, arrepiando os pelos quase que inexistentes naquela área perfumada.

— Eu não vejo a hora de achar logo um apartamento pra mim, quero continuar estudando em paz como eu fazia antes, só que sem ser escondida dessa vez. — a fotógrafa desabafou em um murmúrio, sorrindo enquanto Bruno lia as informações sobre o imóvel na tela, mas prestando atenção no que ela falava ao mesmo tempo — Quero fazer o máximo de especializações que eu puder, e me formar no tanto de cursos que eu conseguir. — olhava toda boba para ele — Vou fazer de tudo para nunca mais depender dos meus pais, Bruno.

— Você sabe que eu sempre vou te apoiar nisso, né? Eu quero que você consiga fazer tudo o que quiser, amor. E eu quero que você viva isso comigo do lado. — depositou um beijo demorado na testa da moça, que sorriu abertamente toda contente e apaixonada, sentindo seu coração acelerar de felicidade. Se encararam, olho no olho, e era como se aqueles dois pares de olhos castanhos, juntos, pudessem viajar e leva-los para o paraíso. Uma passagem só de ida para o paraíso particular.

E nessa viagem, Alice conseguia imaginar, ou idealizar, perfeitamente ela e Bruno juntos, morando no mesmo lugar, dividindo a louça para lavar, e decidindo no pedra, papel ou tesoura quem iria buscar os filhos na escola. Conseguia vivenciar isso, como se já estivesse acontecendo na vida real. Sentia como uma realidade já

Estavam tão entretidos no próprio mundo particular que se esqueceram totalmente de como as coisas funcionavam na realidade. Nem se deram o trabalho de lembrar de que Bruno iria jogar pelo Brasil na Sul Americana em Brasília ainda; Esqueceram que Alice iria ficar para trabalhar no Rio de Janeiro assim que conseguisse um trabalho, e que Bruno teria que viajar para a Itália, pra jogar pelo Modena Volley. Isso, para eles, não era nada. Preferiam fingir que tal "crime" não aconteceria. Viviam em uma realidade paralela onde Bruno jamais moraria na Itália e Alice jamais sairia da porta pra fora daquele apartamento de Bruno na Zona Sul do Rio.

Já para Bruno, uma de suas memórias favoritas, que permanecia dia e noite em sua cabeça, era a doce imagem de Alice em um domingo de manhã, com uma torrada queimada em mãos. Ela usava uma das camisas de Bruno, que ficava duas vezes maior no corpo dela. Exatamente ali, naquele momento, foi a primeira vez em que Bruno se esqueceu de seus medos, de suas inseguranças e de seus fantasmas do passado.

Cruel Summer » {Bruno Rezende}Where stories live. Discover now