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Quando o dia 25 de fato se iniciou, era véspera de jogo. Alice havia pulado cedo da cama, agitada. Queria riscar um dos seus principais itens da lista de metas. Tomando uma xícara de chá, olhou atentamente a tela de seu notebook, procurando por especializações na área da fotografia. Pós graduações, cursos extras, não importava o que exatamente. Ela sabia que queria muito continuar nessa área, apesar da opinião contrária de seus pais.

— Esse! — murmurou para si mesma quando achou o site de uma boa instituição, localizada no Rio de Janeiro, sua terra. Haviam planos de descontos e outras oportunidades de bolsa. Alice batucou os dedos na mesa e ficou pensativa, calculando todo o custo que aquilo teria. Verificou seu cartão, sua poupança, seu dinheiro guardado de antigos empregos e, principalmente, o salário que receberá pelo seu trabalho nas Olimpíadas. Precisava estudar mais e crescer mais para, finalmente, sair da gaiola que estava presa com seus pais.

Primeiro, arriscaria um desconto ou uma bolsa. Caso não conseguisse, Alice estava disposta a colocar todo o dinheiro que tem nisso. Clicou e teclou, preencheu todos os seus dados, e-mail, endereço, telefone pessoal e, por último, o telefone de sua casa, onde estavam Luiz e Cecília, seus pais.

Enquanto isso, Bruno se permitia dormir por alguns minutos mais. Seu corpo e mente imploravam por isso, após ele ter passado boa parte da madrugada acordado remoendo pensamentos sobre Renan. Ao mesmo tempo que o capitão estava disposto a mostrar toda sua garra e força para o técnico e para o Brasil, se sentia frágil por dentro. "Porra, quando foi que o Renan perdeu a confiança em mim?!" Ele se questionava sem parar. Desta vez, os pensamentos negativos rondavam sua cabeça mais do que os positivos.

Bruno não tem um bom histórico com isso... Uma coisa levou a outra e, quando menos percebeu, pegou no sono em meio à algumas lágrimas intrusas que escorriam delicadamente por seu rosto, na calada da noite. Toda essa sensação de se sentir incapaz, o lembrou de momentos traumáticos de quando era mais jovem. Todas as brigas com seu pai Bernardo, todos os esporros, puxões de orelha e discussões sobre o desempenho e a capacidade atlética de Bruno. Se lembrou de quando saía da casa de seu pai e chorava o final de semana inteiro nos braços de sua mãe Vera, na casa dela, recebendo todo amor, carinho e conforto do mundo.

E agora, após anos, seu maior medo voltou a dar as caras. O medo de não ser suficiente, não ser o que esperam dele em sua carreira. E com isso, voltava a dor que sentiu na juventude. Bruno ama seu pai, apesar de tudo que passaram. Ele sabe que não estaria onde está hoje se não fosse pelos ensinamentos preciosos vindos de Bernardo. E sem contar dos ensinamentos dados por Vera, sempre repletos de respeito e carinho.

Mas o fato é que essa ferida mal cicatrizada, voltou a sangrar pra caralho.

Acordou com dor de cabeça e uma certa ardência nos olhos, devido ao choro da madrugada. Em silêncio, tomou seu banho gelado e permaneceu imerso em seus próprios pensamentos, dentro de sua bolha de pensamentos negativos.

O treino da manhã não foi nada produtivo da parte do Rezende. Ele estava aéreo e totalmente avulso da conexão com os colegas de trabalho em quadra. Errava passes, levantamentos, saques e pontos, não era o melhor dia para o atleta. E isso estava levando Renan ao ápice de seu estresse, era véspera de um jogo super importante contra a Argentina e seu capitão estava indo mal. Mesmo com tanto esforço, era como se um peso estivesse nas costas do levantador e isso estava o impedindo de jogar.

— Não! Assim não dá! — Renan reclama perto da arquibancada onde Alice estava posicionada fotografando. Ele puxa a cordinha em seu pescoço e soa o apito pela quadra — CHEGA! — gritou e fez sinal de tempo com as mãos, atraindo os atletas até ele.

Bruno estava cabisbaixo e em silêncio, remoendo lágrimas, traumas e raiva. Ele sabia que Renan ia brigar com ele e não teria como evitar isso. Alice se encolheu e observou a situação, sentindo seu coração apertar com a situação.

Cruel Summer » {Bruno Rezende}Where stories live. Discover now