Michigan, Louis
— Você me odeia?
Ouvi uma voz grossa e rouca ecoando atrás de mim, como uma bela e conveniente assombração. O ar denso, juntou-se ao meu coração acelerado, formando uma atmosfera digna de filme de terror.
Bruce tinha seus olhos quase tão arregalados quanto os meus, mas o resto do seu rosto formava uma careta, com os lábios esticados, os dentes superiores sendo pressionados contra os inferiores e as bochechas coradas.
Me virei lentamente, vendo Harry Styles em toda sua glória. Havia tomado banho e vestia uma camisa preta de mangas e calça skinny da mesma cor. A luva, sempre na mão esquerda, era de couro, tal qual a de um motoqueiro. Seus cabelos estavam presos em um coque frouxo e sua boca e nariz estavam rosados.
Esse deve ser o resultado de jogar reclamações para o universo. Ele te devolve algo mil vezes pior, apenas provando que pode.
Não que eu estivesse assustado. Isso, jamais. Só não estava nos meus planos deixar que alguém tão presunçoso descobrisse que sua mera presença me afeta. Entretanto, não costumo dar pra trás.
Quer dizer, dependendo do contexto, é uma hipótese a se ponderar.
— Quer saber? Sim, eu odeio. Odeio como você é prepotente... - empurrei meu dedo indicador contra seu peito.
Antes que eu pudesse citar mais alguns dos muitos problemas que eu via no cacheado, ele deu um tapa forte contra a mão que estava apontando para si.
Meus olhos se arregalaram e minha boca abriu em um perfeito "O", enquanto o semblante do mesmo permaneceu intacto.
Bruce resolveu sair ao perceber que as coisas poderiam ficar feias. Que tipo de amigo... Eu o culparia depois por me deixar sozinho com esse agressor miserável.
— Você ficou maluco? - gritei a plenos pulmões. - Nunca mais bata em mim dessa forma!
— Nunca mais toque em mim... de forma nenhuma.
E assim, ele iniciou seus passos para outro dos muitos corredores da Gorky Central Park.
— Onde porra você 'tá indo? - comecei a, sendo sincero, persegui-lo. - Quem você pensa que é, seu merda?
É como se eu não estivesse ali.
Ele seguia caminhando inabalável e em completo silêncio, como se toda paz do universo o envolvesse em uma bolha de calmaria.
— Você é só um convencido do caralho.
Nenhuma reação.
— Eu já imaginava que você era um escroto, mas não sabia que era agressor também.
Ele entrou em um dos estúdios de dança. O único completamente rodeado de espelhos e barras, já que era totalmente focado no ballet.
— As outras pessoas deveriam sentir repulsa ao te olhar, assim como faz com elas. - se direcionou a sonoplastia. - Seu filho da puta nojento!
Foi então que ele parou.
Sua postura endureceu à medida em que ele começou a apertar os próprios punhos com certa força. Quando Harry me encarou... não parecia ter vida em seus olhos. O verde vômito sumiu. Sua pupila estava dilatada o suficiente para que eu só enxergasse a escuridão.
Ele se aproximou em passos rápidos, ficando a milímetros de distância, mas ainda sem me tocar.
Um arrepio atingiu minha espinha, me fazendo pender para trás, mas mesmo assim, o cacheado não se deixou abalar e continuou se aproximando, lentamente. A diferença de altura fez com que eu tivesse de olhar para cima, passando ainda mais a sensação de impotência que eu tanto odeio.
Eu estava com medo.
— E quem VOCÊ pensa que é? - deu ênfase. - Gritando por aí que me odeia enquanto eu nem ao menos sei seu nome.
Ouch!
— Você fica falando de mim pelos cantos, me xingando, fazendo fofoca e questionado as minhas decisões, igual um adolescente sem vida social. - mais perto do que nunca. - Você vai atrás da gestão da academia pra reclamar, ao invés de falar suas merdas olhando nos meus olhos.
— Isso não é ver...
— Porque você não tem coragem. É só um cagão do caralho que implora para que os adultos resolvam seus probleminhas egoístas.
Que porra?
— Eu sou egoísta? Você fez todo mundo parar o que estava fazendo apenas para não mostrar seu pau no vestiário masculino e eu quem sou egoísta?
— Você não teve culhão pra bater de frente com as minhas vontades, assim como não teve culhão pra fazer uma apresentação decente no ano passado e nem pra competir no Grand Pix. É por isso que você nunca vai poder ter as coisas que eu tenho, ou os privilégios que tanto me julga por conseguir, mesmo que morra tentando. Você é uma dece...
O estalar da minha mão contra o rosto do cacheado ecoou por todo o ambiente, tornando-se ainda mais alto por conta da acústica abafada.
Harry deu alguns passos para trás, tocando a bochecha direita e começando a alterar a respiração. Seus olhos encheram-se de lágrimas e logo elas transbordaram pela pele branca, inundando a face irritada pelo tapa.
Eu estava quase ficando preocupado quando Victor passou por mim correndo. Foi até o mais alto, segurando em seus ombros e dobrando um pouco os joelhos para encara-lo.
Mas é claro!
— Rose, você está bem?
Ele não conseguia responder por conta dos soluços abafados.
E aliás, que droga é Rose? Ou melhor, desde quando esse corrupto de merda está nos ouvindo?
— O que aconteceu? - me olhou.
Sonso.
— Eu-eu não... ele está fingindo!
— Victya... - ouvi o de olhos verdes chamar por um fio de voz.
— Para de mentir, seu filho da puta! - tentei partir para cima dele, mas o técnico entrou no meio, repousando as mãos em meu peito.
— Acho melhor você sair.
— Técnico, ele está fingindo. Eu juro!
— Já chega! Deu por hoje, Louis. - engrossou a voz, como eu nunca o vi fazer.
Eu me tornei um vilão? Que tipo de série adolescente é essa? Quando eu me enfiei nessa palhaçada?
— Você é um desgraçado! - apontei para o mais alto que ainda chorava descontroladamente, tentando acalmar a respiração descompensada. - Seu fudido!
Então, eu saí.
E eles ficaram lá, abraçados e românticos.
Nojentos e repulsivos.
❅
VOCÊ ESTÁ LENDO
ICE CASTLE ❅ {l.s}
FanfictionLouis achava que Evgeni Pliushchenko seria para sempre o grande ídolo dos patinadores artísticos, mas viu sua ideia cair por terra quando Harry Styles entrou em sua academia, a Gorky Central Park. Com quatro medalhas de ouro seguidas na bagagem, um...