8 - Acasos de uma decisão

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Wei Wuxian dedicou-se o dia inteiro para cuidar bem de A-Yuan.
 
Não foi uma tarefa fácil logicamente, o tatuador nunca viu tantas empecilhos incrustados em um único objetivo. Cuidar de uma criança era difícil, cansativo e demandava muita paciência, por isso muitas vezes Wei Wuxian não entendia o porquê de romantizarem tanto a maternidade, como a paternidade. Existiam muitas coisas boas, ele admite, porém acreditava que não deviam exigir ou esperar que qualquer pessoa pudesse ser pai. Colocar um filho no mundo exigia muita responsabilidade e todos deveriam levar isso mais a sério, serem mais realistas e verdadeiros no que tange esse aspecto para evitar futuras frustrações em pessoas desavisadas. 

Assim que Lan WangJi foi para o trabalho foi questão de minutos até A-Yuan acordar novamente com a fralda cheia. O homem não segurou um grito no primeiro momento, fazendo o bebê chorar com o susto. Numa tentativa de acalmá-lo, Wei Wuxian tentou trazê-lo para seu colo, porém num movimento em falso a fralda da criança vazou e começou a escorrer para todos os lados. O que ele fez? Gritou novamente. O que A-Yuan fez? Chorou novamente.

Os momentos seguintes foram protagonizados por um Wei Wuxian ligando desesperado para Lan WangJi a fim de desabafar, depois do término da ligação, ele ficou feliz por sacaneá-lo. Brincar com o médico sempre seria uma de suas maiores diversões. Em seguida a sua breve felicidade, ele teve que voltar à realidade: um bebê todo sujinho para ele limpar.

Foi horrível! Completamente horrível! Ele teve que segurar o ar dentro de suas pulmões várias vezes para não aspirar aquele cheiro de merda enquanto limpava A-Yuan com lenços umedecidos e o dava banho. Depois da missão impossível ser executada, ele prontamente se orgulhou do bebê que agora ressonava cheirosinho e empacotado em seus braços, estando muito bem alimentado depois de tomar uma mamadeira de leite completa.

“Gorduchinho guloso, você ein?” - disse acariciando seu rosto macio e angelical, observando como a boquinha do bebê fazia um biquinho totalmente fofo enquanto ele dormia. - “Faça exatamente isso mesmo. Só coma e durma enquanto pode, depois que crescemos isso se torna muito difícil de fazer com constância.” - brincou sorrindo para ele.

Olhando para aquela feição tão angelical, Wei Wuxian somente conseguia pensar o porquê de um bebê tão pequenininho e inocente ter que passar por esse tipo de situação.

Nenhuma criança merecia ser abandonada. Disso ele tinha certeza.

Não estava em posição de julgar a mãe da criança, não tinha a menor noção de quem ela era ou do motivo dela ter feito aquilo, deveria ter sido um verdadeiro ato de desamparo e desespero. Em toda sua vida, Wei Wuxian aprendeu a lição mais verdadeira de todas que envolvia nunca julgar nenhuma pessoa, pois nunca saberemos realmente o que se passa com ela. Alguém poderia estar desbravando grandes marés tempestuosas em seu coração, porém por fora sua carcaça seria como a de um barco em um oceano pacífico.

Coisas ruins sempre aconteciam com todo mundo, o sofrimento era um fardo inerente ao nascermos. Chegamos ao mundo justamente sofrendo de um choro engasgado e esgoelado, sob situação de susto e desamparo, preenchidos pelo nítida agonia e com o desejo de retornar ao útero, porém ao nos darmos conta que isso não será possível, apenas aceitamos nosso destino decepcionados com a prisão da realidade forçada, sujeitos a fortes sofrimentos e cortes infringidos na pele apenas por respirar, porque a vida era uma superfície cortante, um pedaço de vidro afiado que nunca parava de machucar nossa pele.

E por muito tempo, Wei Wuxian teve que estancar sozinho seus próprios ferimentos.

Apesar de saber que sempre existiria dificuldades para nos tornarem mais resistentes. Wei Wuxian também não concorda como falam de sobrevivência como um ato romântico, algo que tornava as pessoas mais fortes. O sofrimento que ele e outras pessoas passaram nunca deveria ser banalizado, dito como algo que se aprende, como se aquilo que não te matou te transformasse em uma pessoa que não foi morta. Pelo menos por dentro.

UM BEBÊ EM MINHA PORTA | wangxianOnde as histórias ganham vida. Descobre agora